A In Cena Casa de Artes e Produções leva de volta aos palcos o espetáculo “O Auto da Compadecida”, famoso texto de Ariano Suassuna (1927-2014), que já ganhou diversas montagens no teatro, cinema e TV. Com direção da dupla Claudia Ventura e Alexandre Dantas, a peça, que estreou em novembro do ano passado, apresenta uma versão contemporânea deste clássico da dramaturgia brasileira, escrito em 1955. Primeira produção não-musical do curso “Prática de Montagem” da escola, o espetáculo encerra temporada, nesta sexta-feira (26 de abril), no Teatro Candido Mendes, em Ipanema.
Em “O Auto da Compadecida” somos transportados para o sertão nordestino, com uma trupe de circo que recria um retrato abstrato da região. Através das incríveis aventuras e confusões dos conhecidos e amados personagens João Grilo, o típico anti-herói brasileiro, e Chicó, seu fiel escudeiro, a peça aborda temas como a religiosidade popular, corrupção e desigualdade social, sempre com um tom de humor, ironia e irreverência característicos da obra de Suassuna.
Apesar de fiel ao texto, esta não é uma montagem com elementos caricaturais do Nordeste, onde a história se passa. Para narrar as trapaças e artimanhas dos protagonistas, os diretores optaram por uma encenação focada no ator e na palavra, isto é, criada a partir da relação do elenco com a obra. “O grande diferencial nesta montagem é a inspiração nas origens do circo-teatro. O elenco é uma trupe, um grupo de contadores, que chega ali para se divertir e contar essa história, sem cair no óbvio. Quisemos trazer uma encenação diferente, que toque e fique nas pessoas”, diz Claudia.
A ausência do sotaque foi uma das escolhas da direção, assim como o cenário e o figurino, que foram trabalhados sem muitos elementos que remetessem diretamente e/ou sublinhassem as características regionais. “O Ariano é tão genial que a estrutura das frases já evoca esse espaço físico nordestino. Por isso, não precisa ter o sotaque, o padre com a batina. Apenas evocamos esses elementos”, explica Claudia. Segundo ela, a ideia é induzir que cada pessoa na plateia imagine o seu próprio cenário através da palavra, da manipulação dos objetos e do jogo de cena corporal. “A imagem do que está sendo construído em cena só termina na cabeça de quem está assistindo”, conclui.
Outra preocupação dos diretores foi tentar manter a originalidade do texto de Suassuna, mas suprimindo aspectos datados, que não cabem mais ser replicados. “Estamos falando de um texto de 1955 e isso nos fez deparar com falas machistas, de um discurso patriarcal que está desatualizado. Nesses casos, optamos por suprimir algumas falas, mas sem perder a piada, claro”, explica Alexandre. O mesmo foi pensado para as cenas de violência, mas, dessa vez, o artifício foi se apoiar no humor. “Outro ponto que nos deparamos foi com a quantidade de mortes. Resolvemos, então, ir na direção do humor, pra palhaçaria e teatralidade, buscando suavizar essa violência presente na trama”, diz.
A montagem conta com 21 atores, entre profissionais e iniciantes, que fazem parte do curso de “Prática de Montagem” da In Cena. Nele, os alunos aprendem todas as etapas de produção de um espetáculo até sua estreia oficial no teatro. Divididos em comissões, cada grupo se responsabiliza por uma área (figurino, cenário, divulgação, produção, entre outros), o que faz com que saiam da formação com uma visão geral do que é fazer teatro para além da atuação.
Esta é a sexta Prática de Montagem que a In Cena apresentou em menos de três anos de funcionamento. Além de “O Auto da Compadecida”, a escola montou “Fame”, “Annie – o musical”, “Legalmente Loira”, “Escola do Rock” e “Nas Alturas”, além da produção original “Poema”, a primeira profissional da escola, vencedora na categoria “Roteiro Original” do prêmio Musical.Rio. Já “Escola do Rock” recebeu seis indicações ao prêmio, levando três deles: Melhor Ator com Pedro Balu; Melhor Atriz Revelação com Malu Coimbra; e Melhor Prática de Montagem.
Sobre a In Cena Casa de Artes e Produções
Um espaço para aprender, trocar experiências, se aperfeiçoar, sem deixar de se sentir em casa. Essa é a proposta da In Cena Casa de Artes e Produções – www.incena.art.br – que funciona em Botafogo, na Zona Sul do Rio de Janeiro. Com direção artística de Cella Bártholo e coordenação pedagógica de Gabi Levask, a In Cena oferece oficinas, práticas de montagens e mentoria, que abraçam múltiplas vertentes das artes: teatro, teatro musical, dança e música. Em uma espaçosa casa de mais de 400 metros quadrados, a In Cena conta com quatro salas (Bibi Ferreira, Fernanda Montenegro, Ruth de Souza e Amazonas), um estúdio (batizado de Gonzaguinha), camarim, vestiários e um amplo terraço – um local de convivência a céu aberto.
Neste ano, já estão confirmadas as práticas de montagem de “Se essa lua fosse minha”, “Madagascar Jr.” e “Bring it on”. A In Cena Produções também está com novidades e anunciou dois musicais profissionais em 2024: o infantil “Tumpatatum”, em maio, na EcoVilla Ri Happy, no Rio de Janeiro, e o adulto “República Lee – Um musical ao som de Rita”, em julho, em São Paulo.
Ficha técnica:
- Texto: Ariano Suassuna
- Direção: Claudia Ventura e Alexandre Dantas
- Elenco: Lucas Menezes, Thiago Nunes, Gabriel de Farias, Danilo Santana, Victor Hugo, Julieta Lewis, Stephanie Costa, Eduardo Neiva, Thiago Brito, Leandro Botelho, Carol Costa, David Baring e Cauane Carioca
- Assistente de direção e direção musical: Thiago Brito
- Assistente de direção musical: Julieta Lewis
- Direção artística: Cella Bártholo
- Direção executiva: Pedro Campêlo
- Direção de produção: Glauce Carvalho
- Direção pedagógica: Gabriella Levask
- Diretora de marketing e comercial: Livia Rezen
- Gerente comercial: Patrício Terry
- Designer instrucional: Bianca Tolomei
- Designer: Larissa Duarte
- Assistente financeira: Vanessa Lopes
- Assistente pedagógica: Tauane Alvim
- Assistente de produção: Vinicius Pugliese
- Secretaria: brunno Pastori
- Auxiliar de manutenção: Cristina Nascimento
- E Eduardo Ramos
- Assessoria de comunicação: Racca Comunicação e Três Comunicação
Serviço:
- Temporada: 5 a 26 de abril
- Teatro Candido Mendes: Rua Joana Angélica, 63, Ipanema – Rio de Janeiro -RJ
- Telefone: (21) 3149-9018
- Dias e horários: sextas-feiras, às 20h
- Ingressos: R$ 80 (inteira) e R$ 40 (meia-entrada)
- Duração: 2h
- Classificação etária: 12 anos
- Capacidade de público: 103 pessoas
Venda de ingressos: https://bileto.sympla.com.br/event/91676/d/243623?