A premiada diretora Marcela Rodrigues assina a direção de “TRAÇAS”, o 6º espetáculo da Troupp Pas D’argent, que estreou no dia 20 de novembro, e ficará até o dia 14 de dezembro, no Mezanino do Sesc Copacabana.
Há 19 anos em atividade no cenário teatral brasileiro, a companhia carioca desenvolve uma pesquisa cênica e corporal que aborda importantes questões sociais, e, desta vez, volta o olhar para as raízes e a realidade do subúrbio do Rio de Janeiro em uma eletrizante tragicomédia que explora segredos, crimes e a fragilidade das relações familiares.
Com inspiração no cinema latino-americano, a peça constrói um thriller de humor ácido e ritmo pulsante. “TRAÇAS” apresenta uma multinarrativa dinâmica onde a cena se desdobra em primeiro, segundo e terceiro plano simultaneamente, exigindo um trabalho visceral e latente do elenco de 8 atores, que em cena, dão vida a personagens que se despem de conceitos morais desafiando as noções de “família tradicional”, tão enraizadas no discurso
moralista e conservador da sociedade brasileira, especialmente nos discursos extremistas e de setores religiosos fundamentalistas. As críticas permeadas com trabalho cênico forte contrastam com a sutileza do humor ácido e ironia presentes no texto Daniella Rougemont.
Segredos que corroem: A metáfora da Traça em cena
A trama central gira em torno da Família Machado, recém-chegada a Inhaúma, que tem um jantar de comemoração interrompido pela visita inesperada da Família Soares. O que era para ser uma noite comum se transforma em pesadelo quando os visitantes descobrem um
segredo devastador guardado pelos anfitriões.
A peça usa a imagem da traça como uma poderosa metáfora: “Assim como as traças
destroem silenciosamente por onde se infiltram, segredos escondidos podem gradualmentecorroer o tecido familiar, levando a consequências devastadoras” , explica a diretora, que complementa:
“É interessante pensar como a traça, um inseto tão pequeno e silencioso, é capaz de
corroer roupas, livros, se infiltrar em paredes e até mesmo dilacerar o concreto, mesmo aparentando ser tão frágil. No texto de Daniella Rougemont, essa corrosão é tratada de forma metafórica. Há duas famílias em cena, os Machados, que inicialmente, agem como um clã, uma colônia viva que pulsam uníssona, e os Soares, cuja presença desencadeia uma série de brigas e traições, expondo segredos, vaidades e mentiras que destroem a estrutura moral e emocional da família Machado”.
Essa corrosão moral e social é traduzida visualmente, nos figurinos de Tiago Ribeiro, inspirados no tropicalismo do final dos anos 70 e na moda do início dos anos 80, de longe podem parecer íntegros, mas analisados cada vez mais de perto, revelam as imperfeições com rasgos e buracos das traças.
Na movimentação, a direção propõe uma partitura física de desintegração baseada na Dança-Teatro, Contato-Improvisação e no bolero brasileiro. O bolero, com seu lirismo e paixão brega, ironiza a tragédia: “O que antes era simetria vira ruído. Essa degradação corporal é o espelho do desgaste interno dos personagens, o movimento se torna o buraco pelo qual o público enxerga o que eles tentam esconder” , detalha Marcela Rodrigues.
Um espelho do Brasil sem memória
“TRAÇAS” vai além do drama familiar ao abordar temas urgentes como sequestro, desaparecimento e inversão de valores.
A peça faz uma crítica incisiva à banalização da violência e à moralidade seletiva.
“Não vamos apresentar mocinhos e vilões. Quero que o público saia da peça com uma sensação ambígua, rindo, mas se perguntando ‘eu posso rir disso?’ e questionando de qual lado ela vive a própria vida”. Nenhum personagem em Traças é inteiramente bom ou mau, todos estão tentando sobreviver. Essa ambiguidade é exaustiva e fascinante”, afirma a diretora.
O elenco, composto por artistas LGBTQIAPN+ , pretos e pardos, reflete a diversidade e inclusão, reforçando a relevância do Edital Sesc Pulsar para a consolidação de uma cena teatral democrática. Com “TRAÇAS”, a Troupp Pas D’argent reafirma seu compromisso de 19 anos com o teatro de linguagem impactante e socialmente engajado, usando o humor como ferramenta poderosa para a crítica, nos assuntos abordados em suas montagens.
TROUPP PAS D’ARGENT
A Troupp nasceu em 2006, e desde então vem trabalhando em uma fundamentada e detalhada pesquisa cênica: corporal, teórica, imagética e musical. A Cia. desenvolve um processo contínuo de investigações em torno da linguagem corporal e pesquisa de movimento. O grupo destaca-se pela forte característica autoral, assinando a criação de grande parte das funções artísticas: Texto, Direção, Produção, Cenografia e Figurino. A Troupp já recebeu importantes estímulos a sua atividade de investigação cênica, como a
indicação ao Prêmio Shell 2008, pela Pesquisa de Movimento do espetáculo “Cidade das Donzelas”, o recebimento do Prêmio Europeu Compasso di Argento 2010, pela mesma peça, na Itália; o recebimento do Prêmio Lukas Awards de melhor produção teatral latino-americana em Londres, no ano de 2012, pelo espetáculo “Holoclownsto” e uma indicação o Prêmio Shell 2020, para o espetáculo “KONDIMA – SObre Travessias”.
O principal foco de pesquisa da companhia é o corpo, ressaltando a importância do treinamento físico continuado, exigindo dos atores uma disponibilidade permanente para pesquisa e formação. Seus integrantes trazem diferentes formações: teatro, circo, cinema, literatura e artes plásticas. A companhia tem em seu repertório os espetáculos: Cidade das donzelas (2008), Holoclownsto (2011), Morro da Ópera (2014), Lavagem (2016), Kondima –
Travessias (2018) e Traças (2025).
SERVIÇO
Espetáculo: TRAÇAS Gênero: Tragicômédia / Thriller de Humor Ácido
Local: Sesc Copacabana – Mezanino
Temporada: até 14/12/2025
Horários: 20:30
Ingressos: 30,00 (inteira) e 15,00 (meia)
Classificação Indicativa: 16 anos
Companhia: Troupp Pas D’argent
Idealização e Direção: Marcela Rodrigues
Dramaturgia: Daniella Rougemont
Elenco: Beatriz Freitas, Carolina Garcês, Isabela Catão, Jorge Florêncio, Natalíe Rodrigues, Perla Carvalho, Raffaele Casuccio e Tenca Silva.
Iluminação: Luiz Paulo Nenen
Figurino: Tiago Ribeiro
Trilha Sonora: Federico Puppi
Cenografia: Marcela Rodrigues
Direção de Produção: Natalíe Rodrigues, Beatriz Freitas e Jorge Florêncio
Produção: Florêncio’s Produções
Produção Executiva: Patrícia Oliveira
Cenotécnica: Utopia Produções Artísticas e Culturais
Arte Gráfica, fotos e vídeos: Guto César
Assessoria de Imprensa: Alessandra Costa
Apoio e Realização Edital de Cultura Sesc RJ Pulsar e Troupp Pas D’argent
