Esse homem é meu!

Cia Temprana
Cia Temprana - Foto Adriana Oliveira

Deolinda, Glorinda e Lucinda são três irmãs solteironas que não perderam as esperanças de encontrar seus respectivos pretendentes. Deolinda é durona; Glorinda, a carola, e Lucinda, uma manicure que sonha cantar na Rádio Nacional. Sim, estamos em fins dos anos 50, e as três dividem uma casa na bucólica (e fictícia) Vila Serena. A tranquilidade do lar é abalada pela chegada da prima Celeste, que leva pessoalmente o convite para seu casamento. A prima leva também o noivo, Custódio, um advogado de futuro promissor na capital. Esse reencontro familiar suscita uma série de imprevistos e quiproquós que viram a vida de todos pelo avesso. Esse é o mote de Esse homem é meu!, montagem da Temprana Cia, que, desde a sua estreia, em 2017, cumpriu temporadas no Rio e em Niterói, sempre com lotação esgotada. Pois o público terá nova chance de rir dos imbróglios apresentados na comédia, escrita por Jean Cândido Brasileiro, que divide a direção com João Corrêa.  A montagemvolta novamente ao Rio, desta vez ao Teatro Dulcina, no Centro da cidade, onde pode ser assistida de 01 a 24 de julho, de sexta a domingo, às 19h, com ingressos a R$ 40.

A principal inspiração é a comédia brasileira de costumes, que tem em Arthur Azevedo (1855-1908) e Martins Pena (1815-1848) seus principais representantes. Outras influências são o vaudeville, o kitsch (especialmente o dos filmes de Almodóvar) e o terrir de Álex de La Iglesias. A trama acaba por revelar nas três irmãs uma característica em comum: a perfídia. A chegada de Celeste salienta as gritantes diferenças entre a vida no interior e a da capital. Em razão do modo de vida “jeca” daquelas mulheres – que ainda têm no rádio seu entretenimento –, Celeste mostra-se pernóstica, o que ofende (e muito) as primas. E o troco vem com um plano, arquitetado de forma a fazer troça da visitante “deslumbrada”. Acontece que os rumos saem de controle, e o tal plano tem consequências inesperadas – e tragicômicas.

A Temprana é formada por atores egressos da Universidade do Rio de Janeiro (UniRio) e da escola de teatro Martins Pena. E a montagem de “Esse homem é meu!” surge de uma pesquisa sobre o melodrama, levada aos demais pelos atores vindos da universidade. Essa linguagem fica evidenciada já na primeira cena, na qual Lucinda passa roupa ao som da rádio-novela “Esse homem é meu”, num exemplo claro de metalinguagem. A estética vintage é evidenciada pelo visagismo de Christina Gall, maquiadora atuante no Brasil e no exterior. 

E outras são as influências nas quais os autores, o diretor e os atores bebem (e se lambuzam). A mais evidente delas talvez seja a da estética Kitsch, presente nos primeiros filmes do espanhol Pedro Almodóvar. E essa pista é dada ao público de cara, nas cores vibrantes do cenário e nos figurinos criados pelo diretor João Corrêa, que se inspirou em nomes da década de 50, como Chanel e Dior.

Algumas influências ficam mais subliminares. A dicotomia agrário/urbano nos remete, por exemplo, a Jorge Andrade  (1922-1984), que expôs essa diferença em muitas de suas peças. A proposta conhecida como “terrir”, tão presente em Alex de La Iglesias, é notada em momentos como o da chegada do casal visitante. Eles surgem numa noite chuvosa em que falta luz na casa. E os atores têm o timing essencial para que os quiproquós da comédia não sejam desperdiçados. A plateia não fica dispersa em momento algum – e as temporadas no Rio e em Niterói mostraram isso. É, como naquele bordão, diversão garantida ou seu dinheiro de volta.

Ficha técnica:

Um espetáculo de Jean Cândido Brasileiro e João Corrêa

Elenco: Fabíola Romano, Fernanda Esteves, Helena Hamam, Jean Cândido Brasileiro e Renata Benicá

Texto: Jean Cândido Brasileiro

Colaboração de dramaturgia: Helena Hamam

Supervisão de dramaturgia: Felipe Barenco

Direção de movimento e assistência de direção: Daniel Leuback

Figurinos: João Corrêa

Visagismo: Christina Gall

Cenografia: Alex Sander do Santos e João Corrêa

Desenho de luz: Tadeu Freire e Ednei Paiva

Fotografia: Ronaldo Junger

Assessoria de comunicação: Christovam de Chevalier

Assistência de produção: Raphael Pompeu e Thiago Piquet

Produtores associados: Edições Cândido, Atelier João Corrêa e Fernanda Esteves

Serviço:

Esse homem é meu!

Temporada: de 01 a 24 de julho

Dias e horários: de sexta a domingo, às 19h

Onde: Teatro Dulcina (Rua Alcindo Guanabara, 17, Centro. Tel: 2240-4879. Próximo à estação de metrô Cinelândia)

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia). Vendas pelo Sympla ou na bilheteria do teatro

Duração: 90 minutos