Esther Weitzman, 26 anos de dança que pensa o corpo como mundo

Esther Weitzman

A trajetória de Esther Weitzman é marcada por uma inquietação constante: compreender o corpo para além da técnica, enxergá-lo como linguagem, memória, matéria viva em transformação. Ao completar 26 anos de existência, a Esther Weitzman Companhia de Dança reafirma uma história construída sem atalhos, sustentada pela pesquisa rigorosa do movimento e pela convicção de que a criação e o ensino são forças inseparáveis.

Desde os anos 1990, Esther alia seu trabalho artístico a uma intensa atividade didática, fruto de uma formação que atravessa dança, filosofia e educação do movimento. Formada pela Escola Angel Vianna e pela Universidade Gama Filho, aprofundou estudos com Ivaldo Bertazzo e consolidou uma visão singular sobre o corpo: um corpo que dialoga com a gravidade, que encontra no chão sua força e no peso sua própria partitura. A fundação do Studio Casa de Pedra, em 1992, e da companhia em 1999.

Ao longo de mais de duas décadas, obras como Dançar (não) é preciso 2016, As Histórias que Inventamos Sobre Nós 2019 e BREVE 2023, são exemplos de trabalhos da Cia em que gesto e pausa convivem, em que o corpo pulsa entre o visível e o invisível. A companhia, mesmo sem incentivo público contínuo, seguiu se reinventando, celebrando marcos e mantendo uma presença sólida na cena contemporânea brasileira. Seus espetáculos receberam distinções de O Globo e foram contemplados por importantes prêmios da Funarte e de editais estaduais.

Dentro e fora do palco, a artista construiu uma vida dedicada ao ensino. É professora da Escola Angel Vianna desde 2015, atuou como coordenadora, integrou o corpo docente de cursos na UniverCidade, na UCAM e ministra, até hoje, a cadeira de Dança Contemporânea na PUC-Rio. 

Agora, aos 26 anos de companhia, Esther mergulha ainda mais fundo nesse terreno com o espetáculo Matéria. A criação nasce de um período de introspecção imposto pela pandemia, quando a coreógrafa se aproximou de temas ligados à neurociência, física e às forças invisíveis que constituem o mundo. Nesse encontro, o corpo deixa de ser representação e se torna acontecimento. Segundo a artista, é essencial recuperar nossa relação com o planeta, lembrando que fazemos parte de um todo e não ocupamos um lugar de maior ou menor importância. Esther é Pós-graduada em Arte e Filosofia/Lato Sensu pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

O elenco reúne intérpretes que carregam longa história com a companhia: Bia Peixoto, Edney D’Conti, Fagner Santos, Milena Codeço, Rodrigo Gondim e Pedro Quaresma. Todos na faixa dos 40 anos. O tempo vivido se torna parte da dramaturgia física do trabalho. Maturidade, vulnerabilidade e presença estão impressas em cada gesto. Cada pausa é uma escuta. Cada estado é uma revelação.

Esses são trechos e marcos de uma longa Cia, que sobrevive sem subvenções. Acredito na importância de conscientizar as pessoas sobre esta arte tão única que é a dança. Em um cenário em que tantas companhias de dança enfrentam desigualdades estruturais, a história de Esther e seus 26 anos de criação contínua revela a força de quem insiste na arte. Mas também evidencia a necessidade de que sociedade, público e políticas culturais reconheçam e apoiem mais esse campo. A dança vive melhor quando encontra quem a valorize, a assista, a financie e a defenda como parte essencial da cultura.

 

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