A plataforma de edição de vídeo Kapwing publicou um relatório que levanta preocupações sobre a integridade do ecossistema de vídeos curtos do Google. Segundo o estudo, que analisou 15 mil dos canais mais populares do mundo, 21% do conteúdo apresentado a novos usuários no YouTube Shorts é classificado como “slop” — material de baixa qualidade gerado por inteligência artificial (IA) com o objetivo exclusivo de capturar visualizações e gerar receita algorítmica.
A análise, baseada em dados coletados em outubro de 2025, utilizou uma conta nova para examinar os primeiros 500 vídeos recomendados. Os pesquisadores identificaram que, após uma sequência inicial de 16 clipes humanos, a presença de conteúdo sintético tornou-se predominante. Além dos 21% de vídeos estritamente gerados por IA, outros 33% foram categorizados como “brainrot”, vídeos de baixo valor produtivo que visam prender a atenção por meio de estímulos repetitivos.
Impacto econômico e alcance global
O fenômeno do conteúdo gerado por IA não é apenas uma questão estética, mas um mercado milionário. A Kapwing identificou 278 canais globais operando inteiramente com vídeos sintéticos, que somam mais de 63 bilhões de visualizações e 221 milhões de inscritos. Estima-se que esses canais gerem uma receita anual combinada de US$ 117 milhões.
A Coreia do Sul lidera o consumo dessa categoria, com canais locais acumulando 8,45 bilhões de visualizações. O canal Three Minutes Wisdom, por exemplo, registrou 2,02 bilhões de visualizações com vídeos fotorrealistas de animais. Paquistão e Estados Unidos ocupam o segundo e terceiro lugares no ranking, respectivamente. O canal de maior rendimento identificado foi o indiano Bandar Apna Dost, focado em animações realistas de macacos, com ganhos estimados em US$ 4,25 milhões por ano.
Resposta institucional e desafios regulatórios
Em comunicado, o YouTube afirmou que a IA generativa é uma ferramenta que pode ser utilizada tanto para alta quanto para baixa qualidade. A empresa reiterou que todo conteúdo deve respeitar as diretrizes da comunidade e que atualizou, em julho de 2025, suas políticas de monetização para combater “conteúdo produzido em massa e repetitivo”.
No entanto, a proliferação de ferramentas como Sora (OpenAI) e Veo (Google) torna a moderação em escala um desafio contínuo. Criadores de conteúdo autêntico enfrentam dificuldades crescentes para competir com o volume industrial de produções sintéticas otimizadas para o algoritmo.
Raio-X
- Volume analisado: 15.000 canais populares.
- Conteúdo IA: 21% dos vídeos recomendados.
- Receita estimada: US$ 117 milhões anuais para canais 100% IA.
- Líder de consumo: Coreia do Sul (8,45 bilhões de visualizações).
- Políticas: Atualização de monetização do YouTube em julho de 2025.
