As pessoas já se acostumaram a utilizar tecnologias de ponta, na palma das suas mãos. O mundo corre atrás da última novidade, da câmera com mais megapixels, da imagem mais nítida. Mas é justamente na contramão desse culto à alta definição que o fotógrafo Pedro Stephan aponta suas lentes — ou melhor, seu celular de 1 megapixel — para revelar um outro olhar sobre a noite urbana. A exposição Baixa Tecnologia, em cartaz de 4 de julho a 31 de agosto no Centro Cultural Justiça Federal (CCJF), no Rio de Janeiro, desafia o fetiche pela perfeição digital e mergulha em um universo de imagens cruas, vibrantes e provocadoras, captadas com um equipamento obsoleto, porém carregadas de expressão.
Utilizando um aparelho considerado “jurássico”, Stephan mergulha na cena noturna e performática da comunidade LGBTI+ do Rio de Janeiro e de São Paulo. A ausência deliberada de controle técnico ou precisão fotográfica dá lugar a um processo espontâneo, que resulta em imagens inusitadas, distorcidas e vibrantes — ressonando com o universo da música pop, do tecno e da batucada urbana. As fotografias transitam entre o erótico, o enigmático e o cômico, sempre surpreendentes em sua estética instável e carregadas de expressão.
“A alta tecnologia tão louvada pela mídia não é um bem supremo”, escreve o artista em seu manifesto. “Os processos alternativos, que geram imagens deformadas, fragmentadas, desagregadas — e muitas vezes flertam com a abstração — são exatamente os que vêm carregados de intensidade, expressão e que atiçam nossa imaginação.”
Com curadoria das consagradas pesquisadoras Ângela Magalhães e Nadja Peregrino — responsáveis pela criação do primeiro núcleo de fotografia da FUNARTE nos anos 1970 e autoras do clássico Fotografia Brasileira — a exposição apresenta pela primeira vez a série completa de Baixa Tecnologia.
A obra teve sua estreia no Museu da Diversidade Sexual, em São Paulo, durante a Mostra Diversa de 2018, após ser selecionada em um edital disputado por mais de cem artistas. Em 2023, parte da série foi exibida no FotoRio, o festival internacional de fotografia do Rio de Janeiro. Agora, o público carioca terá acesso à versão integral da mostra, com todas as imagens que compõem o trabalho.
Essa é a segunda vez que Pedro Stephan expõe no CCJF. Em 2007, sua mostra Entre Amigos e Amores: os espaços LGBTI+ entrou para a história da fotografia brasileira ao ser a primeira exposição dedicada à diversidade sexual e de gênero na era pós-Aids. Ficou em cartaz por três meses, foi amplamente noticiada pela imprensa e bateu recorde de público.
Serviço:
Exposição Baixa Tecnologia, fotografias de Pedro Stephan
De 4 de julho a 31 de agosto | Terça a domingo, de 11h às 19h
Centro Cultural Justiça Federal – CCJF | Galerias do 1º andar
Av. Rio Branco, 241 – centro (Cinelândia)
Entrada Gratuita
