Exposição Genaro e a Luz da Bahia promove imersão no exuberante universo do artista moderno Genaro de Carvalho

Com curadoria de Nair de Carvalho e de Graça Bueno, diretora da Galeria Passado Composto Século XX, que organiza a mostra, exposição apresenta 36 obras e também promove o lançamento, em São Paulo, do livro Genaro – Tecendo Memórias

por Redação

Entre 18 de novembro de 2022 e 17 de março de 2023, por meio da mostra Genaro e a Luz da Bahia, o público paulistano terá acesso gratuito a uma imersão na imponente obra do artista moderno baiano Genaro de Carvalho (1926 – 1971), considerado o fundador da tapeçaria mural moderna brasileira por um dos mais célebres artistas dessa vertente, o tapeceiro francês Jean Lurçat (1892 – 1966).Com curadoria da artista Nair de Carvalho, viúva de Genaro, e de Graça Bueno, diretora da Galeria Passado Composto Século XX, que realiza a mostra, a exposição reúne 36 obras e também promove o lançamento, em São Paulo, do livro Genaro – Tecendo Memórias, da autora Nair de Carvalho, originalmente editado, em 2019, pela ALBA – Assembleia Legislativa do Estado da Bahia.

Na publicação, Nair de Carvalho, recorda o episódio divisor de sua primeira aproximação com Genaro, episódio que deflagra uma intensa paixão, durante um desfile de moda em que ela se destacava como modelo ocorrido em 1955 no Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro: “Deste encontro nasceu também um projeto de vida, de amor, de cumplicidade, de arte. Víamos a quatro olhos. Descobríamos a quatro mãos. Genaro, o mestre, o mago, de quem eu sabia e queria ser a inspiração.”

Expressiva,a mostra apresenta uma exuberante seleção de obras datadas de 1950 a 1971, sendo 14 tapeçarias, 15 pinturas e sete desenhos, trabalhos que escancaram uma diversidade de cores vibrantes, com variações de técnicas e temas da fauna e da flora brasileira. A exposição reúne, ainda, fotos, vídeos e raros documentos históricos sobre a vida e a obra do artista baiano. Genaro e a Luz da Bahia também celebra os dez anos desde a primeira exibição de obras de Genaro de Carvalho na mostra coletiva Artistas da Tapeçaria Moderna, realizada pela Galeria Passado Composto Século XX entre setembro e novembro de 2012, com curadoria de Alejandra Muñoz.

Para fazer uma análise crítica e poética sobre a trajetória artística de Genaro de Carvalho, e também dos trabalhos selecionados para a exposição, o historiador de arte Renato Menezes, curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo, foi convidado para a produção de um artigo que inspirou o nome da mostra.

No texto crítico Genaro e a Luz da Bahia, o historiador também apresenta depoimentos sobre o trabalho de Genaro de Carvalho feitos pelo escritor Jorge Amado, que sentenciou: “Sua tapeçaria nasce da pintura, uma pintura que é a luz da Bahia e sua sabedoria popular.” A análise de Menezes reúne, ainda, excertos de uma entrevista concedida por Genaro à outra grande personalidade de literatura, Clarice Lispector.

1965-GENARO E NAIR-FESTA NO HOTEL BAHIA

1965-GENARO E NAIR-FESTA NO HOTEL BAHIA

“(…) O ornamento, no caso de Genaro, não é um fim em si mesmo. Ele é o meio pelo qual o ideal de forma moderna se torna experiência cotidiana, transformação a que se sobrepõe seu ímpeto criativo. Como afirmou em uma entrevista à Clarice Lispector, ‘criar é, sobretudo, não morrer. É uma necessidade vital, orgânica, indispensável. E cotidiana. Se eu não criasse arte, certamente criaria outra coisa de que gostasse’. A ênfase na criação supõe, para Genaro, a natureza fabril da arte, a técnica, o saber empírico, aquele oriundo da observação continuada e da prática, que assegura a manutenção da vitalidade que o irriga e faz sua obra germinar”, defende Menezes.

Na entrevista concedida a Clarice Lispector, o artista também reitera o amor por suas origens e a influência de sua terra natal para suas criações artísticas. “A Bahia é minha eterna namorada, e realmente suas cores e luzes me fascinam. A luminosidade de seus poentes, o amarelo dos seus coqueiros inflexíveis e farfalhantes. Pode ser um lugar comum ou letra de samba, mas é a verdade”, exalta.

Uma das principais defensoras do legado de Genaro de Carvalho, Graça Bueno celebra a possibilidade de um novo reencontro do público com a instigante obra do artista baiano a partir da mostra Genaro e a Luz da Bahia:

“Estamos felizes em realizar esta exposição e agradecemos o apoio amoroso primordial da nossa musa, Nair de Carvalho, que, com sua generosidade, compartilha a sua experiência e conhecimento através da publicação do livro Genaro – Tecendo Memórias,de sua autoria, nos honrando com o seu lançamento em São Paulo na nossa galeria, com venda beneficente em prol do Instituto Jô Clemente. Esperamos que a nossa paixão entusiasme e ilumine os visitantes com a luz da Bahia, e que os desejos de Genaro sejam realizados: ‘Se puder contribuir com um pouco de alegria e otimismo, a missão que me propus estará cumprida’”, conclui Graça Bueno.

SERVIÇO:

Abertura da exposição Genaro e a Luz da Bahia elançamento do livro Genaro – Tecendo Memórias, com a presença da autora Nair de Carvalho e venda beneficente em prol do Instituto Jô Clemente

Realização: Galeria Passado Composto Século XX e equipe

Curadoria: Nair de Carvalho e Graça Bueno

Texto sobre a exposição: Renato Menezes

Expografia: Giovanna Verdini

Período de visitação: 18 de novembro de 2022 a 17 de março de 2023

Horário: segunda a sexta-feira, das 10h às 19hs; sábado, das 10hs às 14h. Fechado aos domingos.

Local: Galeria Passado Composto Século XX

Endereço: Al. Lorena, 1996, Jardins – São Paulo, SP

Entrada: gratuita

Visitas guiadas podem ser agendadas com antecedência por e-mail: lorena@passadocomposto.com.br

Instagran: @passadocompostosecxx

Site: www.passadocomposto.com.br

Genaro de Carvalho

De influênciainicialmente expressionista e figurativa,desde a década de 1940, Genaro de Carvalho é considerado um dos expoentes da primeira geração de artistas modernos da Bahia, juntamente com Carlos Bastos e Mário Cravo Júnior. Entre 1949 e 1950, radicado na França, participa de diversos salões de arte e se influencia pelos mestres franceses, contudo a sua obra plástica é fruto da sua forte inspiração pela tropicalidade regional da Bahia, assim como ele dizia: “Eu não sou senão um homem da Bahia e um artista da Bahia. E não desejo ser senão isto”.

Logo após seu retorno ao Brasil, se projeta como um grande muralista em pinturas livres e temáticas como a do célebre mural Festas Regionais da Bahia, executado, entre 1950 e 1952, para o Hotel da Bahia. Em 1951 participa da I Bienal Internacional de São Paulo. No ano seguinte,estabelece seu ateliê de tapeçaria em Salvador e participa de exposições individuais e coletivas de pinturas. Em 1953, Genaro executa suas primeiras obras em tapeçaria com a temática de plantas tropicais.

Suas primeiras exposições de arte com tapeçaria são realizadas a partir de 1955, ano em que Genaro de Carvalho conhece, em um desfile de moda no Copacabana Palace Hotel, no Rio de Janeiro, a então modelo Nair Pimentel, com quem se casaria em 1957 e desenvolveria uma intensa colaboração artística.

Aclamado internacionalmente, Genaro de Carvalho foi o primeiro artista brasileiro convidado para participar, em 1965, da importante Bienal Internacional de Tapeçaria em Lausanne, na Suíça.Genaro também foi querido e famoso como espéciede artista pop star da tapeçaria, colaborando para eventos importantes da vida cultural brasileira, além de ter participado de inúmeras exposições nacionais e internacionais, alcançando igualmente sucesso de vendas e de reconhecimento no Brasil e no exterior. Recebia em seu ateliê clientes importantes como David Rockfeller, da família de cofundadores do museu MoMA de Nova York, concebia pedidos especiais de tapeçarias monumentais para espaços públicos e sua obra foi escolhida para representar o Brasil em diversas ocasiões e para presentear personalidades, como o ex-presidente francês Charles de Gaulle.

Apesar de ter tido uma saúde frágil e uma morte tragicamente precoce, no auge de sua carreira aos 44 anos, em 1971, Genaro conseguiu realizar uma trajetória profissional artística consistente tendo participado de cercade 70 mostras, dentre as mais significativas estão as dos Museus de Arte Moderna da Bahia, de Minas Gerais, do Rio de Janeiro, do Rio Grande do Sul e de São Paulo,realizadas entre 1957 a 1971, assim como de exposições em renomadas galerias de arte, bienais e de mostras itinerantes internacionais. Em 1974, foi homenageado na relevante coletiva da 1ª Mostra de Tapeçaria Brasileira apresentada, em São Paulo,pelo MAB – FAAP (Museu de Arte Brasileira da Fundação Armando Álvares Penteado).

Morto no último dia 7 de setembro, o escultor, curador, museólogo e fundador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araujo (1940 – 2022),participou, como artista e simultaneamente com Genaro, de várias exposições coletivas. Araujo se tornou um grande colecionador e apreciador daobra de seu conterrâneo, a qualacreditava ter seconcretizado na tapeçaria, e assimdeclarouem 2019:“Seutrabalho proporcionou à tapeçaria brasileira um grandemomento, e hoje sua obra volta a merecer do público e da crítica o justo reconhecimento ao seu grande talento e àsua extensa obra de grande originalidade, genuinamente nossa e do nosso pertencimento.”

 Nair de Carvalho
Nair Pimentel, em 1950, aos 17 anos já era modelo e manequim. Em 1953, participou do início da televisão brasileira na Rede Tupi e na TV Paulista (canal 5 VHF). Fez campanhas de propaganda para diversos setores e foi contratada pelas empresas de moda Valisère e Rhodia, para a qual estava desfilando em 1955 no Copacabana Palace, quando Genaro de Carvalho, ao vê-la, se apaixonou perdidamente.

O romance de Nair com o artista plástico mudou sua vida e marcou época. O casal conviveu e participou ativamente da cultura baiana com projeção internacional. Em 1957, após o seu casamento, Nair mudou-se de São Paulo para Salvador e assumiu, no ateliê de Genaro, a administração da elaboração das obras de tapeçaria. Foi grande companheira e musa inspiradora do artista, tendo colaborado de forma prática para a realização dos seus projetos.

Nair sempre demonstrou talento artístico e Genaro a incentivava, porém foi somente após sua trágica morte, em 1971, que Nair se dedicou à sua carreira. Entre 1973 e 1974 fez cursos livres na França, de arte, na Sorbonne e na Acadèmie de la Grande Chaumière, e de museologia, no Louvre. Iniciou suas exposições em 1975 no MAM-BA, e se notabilizou internacionalmente tendo realizado exposições, de 1976 a 1992, na Áustria, Dinamarca, Estados Unidos, Guatemala, Holanda, Inglaterra e Suíça. Entre 1994 e 2014, expôs em várias cidades no Brasil. Jorge Amado, em 1978, assim se referiu à obra de Nair: “(…) A graça, a rica sensibilidade, o senso de encantamento, a abordagem quase infantil do mundo, deu a Nair seu próprio lugar na arte da Bahia”.

Há mais de quatro décadas a consagrada artista mantém viva a memória de Genaro de Carvalho junto às instituições, defende e preserva sua obra – algumas tombadas pelo Patrimônio Histórico da Bahia –, organiza seus arquivos históricos e trabalha na divulgação do artista colaborando com a publicação de livros, como no mais recente de sua autoria: Genaro – Tecendo Memórias (ALBA, 2019).

Renato Menezes

É historiador da arte. Doutorando em História e Teoria da Arte pela ÉcoledesHautesÉtudesenSciencesSociales (EHESS, Paris), é mestre em História pela UniversidadeEstadual de Campinas (Unicamp) e graduado em História da Arte pela Universidadedo Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Entre 2020 e 2021 colaborou com o departamento curatorial do GettyResearchInstitute, onde atuou junto ao núcleo de arte latino-americana.

Coorganizador de França Antártica: ensaios interdisciplinares (Editora da Unicamp, 2020),foi membro da equipe de pesquisa e curadoria das exposições Raio-que-o-parta: ficções do moderno no Brasil, no Sesc 24 de maio, e da exposição Um Defeito de Cor, no Museu de Arte do Rio. Atualmente é curador da Pinacoteca de São Paulo.

Graça Bueno
Graduada em Artes Decorativas dos Séculos XVII ao XX pela Sotheby’s Educational Studies, em Londres, onde trabalhou na casa de leilões da mesma instituição. A partir de 1988, foi responsável pelas aquisições internacionais para o antiquário da família, e em 2002 fundou a Passado Composto Século XX, galeria especializada no modernismo brasileiro.

Como expert e pesquisadora em mobiliário de época e tapeçarias modernas artísticas brasileiras e internacionais, trabalha conjuntamente com as famílias de autores e instituições, contribuindo para enaltecer a nossa brasilidade única e para resgatar a memória artística destes meios, através de exposições, curadorias, catalogações, palestras e publicações nacionais e internacionais. Dentre as colaborações relevantes mais recentes, se destacam: em 2019, a publicação do texto Magda no Brasil: Tecendo Histórias, de sua autoria, no livro ABAKANOWICZ METAMORPHISM,  editado pelo Central Museum of Textiles in Łódź, na Polônia;  em 2021, a organização da exposição Jean Gillon: artista-designer, no MCB (Museu da Casa Brasileira), e do livro homônimo pela publicado pela Editora Olhares; também em 2021 desenvolve pesquisa histórica e consultoria técnica para a exposição Os Pássaros Levantarão Voo Novamente – as formas tecidas de Jacques Douchez e Norberto Nicola, com curadoria de coletivo avaf no MAM-SP.

Galeria Passado Composto Século XX
A marca foi fundada em 1988, pela antiquária Cida Santana. Em 2002, Graça Bueno fundou a Galeria Passado Composto Século XX, especializada em móveis, arte e tapeçarias modernos brasileiros, comercializando também peças de designers escandinavos, como Bruno Mathsson, além de obras de autores contemporâneos brasileiros, como a artista têxtil Eva Soban e o fotógrafo Ruy Teixeira.

A galeria tem como uma de suas missões o resgate da memória e a valorização do design e da arte nacional, enaltecendo nossa brasilidade em ações evidenciadas por sua pesquisa, apresentando obras com conteúdo cultural em exposições, na galeria e em instituições, realizadas em homenagem aos mestres do design moderno como: Joaquim Tenreiro, Sergio Rodrigues, Jorge Zalszupin e Jean Gillon, entre outros, e aos artistas tapeceiros modernos Genaro de Carvalho, Jacques Douchez, Norberto Nicola, Jean Gillon, Rubem Dario e Sylvio Palma.

Suas exposições, realizadas com curadoria própria e com curadores convidados, foram apresentadas na galeria e iniciadas, em 2009, com Sempre Modernos,seguida de Artistas da Tapeçaria Moderna I e II, realizadas entre 2012 e 2016. Em simultaneidade foram apresentadas,na feira SP-Arte, as edições da Arte Tecida e Design, entre 2017 e 2020, Murais Nômades, em 2018, e Plano e Relevo, em 2022.

Em 2021, a galeria realizou a exposição JeanGillon: artista-designer, no MCB e no espaço da galeria, com o lançamento do livro homônimo publicado pela Editora Olhares, sendo responsável pelo resgate e pela divulgação da obra de Gillon e autorizada também pela reedição da poltrona Jangada, um dos ícones do mobiliário moderno brasileiro.

Em sintonia e em sequência às suas exposições, a galeria edita catálogos e livros além de pequenos documentários.Hoje a fundadora Cida Santana, que atua também como designer com ênfase na criação de lustres, expõe seu acervo e criações no mesmo espaço da galeria na Alameda Lorena.

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