Exposições ‘Mostra Cidade Floresta’ no CCJF e ‘Uma Cidade na Floresta’ no Museu do Amanhã

Detalhe da obra do Rubens Takamine em processo de criação

De que maneira a cidade pode aprender e colaborar com a floresta e vice-versa? Essa é a pergunta norteadora de duas mostras de arte contemporânea e uma mostra de cinema que movimentam o Rio de Janeiro a partir desta semana. Elas são fruto do programa Cidade Floresta, que chega a seu terceiro ano com realização do Goethe-Institut e do Consulado Geral da França, através do projeto de cooperação franco-alemã no Rio, o Juntes na Cultura, e com apoio do Fundo Franco-Alemão de Cultura. No sábado (08/07), às 15h, acontece a abertura da exposição “Cidade Floresta: Início Meio Início”, no Centro Cultural da Justiça Federal (CCJF), na Cinelândia, Centro do Rio.

A exposição de arte contemporânea, que permanece aberta à visitação até 6 de agosto, é fruto do segundo programa de residências Cidade Floresta. Trata-se da materialização da vivência de quatro artistas do Rio – Azizi Cypriano, Lorena Portela Soares, Rubens Takamine e Yaminaah Abayomi – que participaram de uma imersão rural seguida de um período de criação na cidade. No dia da abertura, às 16h, reúnem-se em uma roda de conversa os quatro residentes, a urbanista alemã Laura Kemmer e a artista plástica franco-marroquina Chourouk Hriech. O evento gratuito terá tradução consecutiva e interpretação em libras.

Laura Kemmer atua na Cátedra Martius Alemanha-Brasil de Ciências Humanas e Desenvolvimento Sustentável, que busca fomentar a pesquisa interdisciplinar em sustentabilidade na USP. Trabalha com Estudos Urbanos (Antropologia-Geografia) e é coordenadora do Projeto “Designing with the Planet. Connecting riparian zones of struggle in São Paulo, Jakarta, and Berlin” (Governing through Design-South Designs initiative, Swiss National Science Foundation). A artista premiada internacionalmente Chourouk Hriech, além de participar da abertura no CCJF, produziu uma instalação inédita que estará exposta no Museu do Amanhã, de 11 de julho a 10 de setembro, na exposição “A Cidade na Floresta”, que integra o mesmo programa.

Para completar a intensa programação, 15 filmes raros e premiados que traçam um paralelo entre conflitos e encantamentos na vida cotidiana das cidades e nas florestas estarão em uma mostra exibida a partir da próxima quinta-feira (06/07), no Estação NET Rio, em Botafogo. Na programação cinematográfica, o público poderá assistir a oito filmes brasileiros, quatro alemães e três franceses. Haverá três rodas de conversas, com os realizadores dos filmes e com Laura Kemmer, que vai falar sobre sua pesquisa “comunidades ribeirinhas” sobre rios urbanos, com Cinthia Mendonça da SILO, Arte e Latitude Rural.

Mostra Cidade Floresta: Início Meio Início

O segundo programa de residências do programa Cidade Floresta começou no primeiro fim de semana de junho, com o Seminário Internacional Museu Metabólico, no Centro Municipal de Artes Hélio Oiticica. A mostra “Cidade Floresta: Início Meio Início” tem o intuito de materializar a vivência de quatro artistas do Rio selecionados a partir de um edital público. Após o resultado da seleção, o grupo escolhido aventurou-se no interior do Estado do Rio, participando de atividades agrícolas, caminhadas ecológicas e pesquisas de campo na Serrinha do Alambari, em Resende, e em uma fazenda colonial em São José do Vale do Rio Preto.

As obras que foram realizadas para a mostra passam por um eixo central: mesmo na vivência urbana, como podemos aprender com a natureza e permitir que essas realidades convivam de forma colaborativa? A grande questão do Cidade Floresta 2023 gira, justamente, na simbiose onde a cidade não apenas explora a natureza, mas também a respeita e a preserva. Um exemplo disso está na obra de Rubens Takamine, que parte do estudo das ervas e seus efeitos no organismo humano. “Quis investigar as propriedades de algumas ervas medicinais e de madeiras, fazendo incensos e explorando um pouco mais da arte olfativa”, afirma.

Azizi Cypriano irá apresentar o “Movimento Grafia 5”, que faz parte de uma série de ações performáticas que ela desenvolve, desde 2019, elaborando esculturas com materiais orgânicos em espaços da natureza. “Como pessoa de candomblé, para mim, a natureza, como plantas, troncos e árvores, está associada às energias e à espiritualidade dessa cosmologia”, conta. Já Lorena Portela Soares traz a experiência do trabalho com agricultura urbana em favelas do Rio e a sua pesquisa no campo da saúde pública. “Trouxe a ideia de desenvolver um manto inspirado no Bispo do Rosário, que é referência no campo da saúde mental e da arte”, explica.

A quarta artista é Yaminaah Abayomi, que parte de diversas referências, como o caso de Harriet Tubman, abolicionista e ativista americana que usou estrelas e demais elementos da natureza como orientação para salvar a si mesma e centenas de pessoas da escravidão. “Essa orientação se dá de forma mais objetiva ou subjetiva, em tomadas de decisão para a própria vida. Se o que eu sou, o que me acontece e a maneira como eu aconteço para o mundo de volta perpassa estrelas, descubro que há uma relação com tudo que está ao meu redor”, afirma.

Mostra Uma Cidade na Floresta

A artista plástica Chourouk Hriech traz, em sua primeira exposição no Brasil, a instalação “Uma Cidade na Floresta”. A obra inédita, realizada durante residência na Casa Europa, é inspirada na experiência que teve, em dezembro de 2022, ao conhecer diversos pontos turísticos cariocas. Os trabalhos de Chourouk misturam pintura e desenho. A instalação conta com uma composição de telas, uma estrutura com a aplicação de um adesivo com a imagem de Copacabana, além de elementos em cerâmica. Parte da montagem também consiste em fotos tiradas por Chourouk durante sua primeira viagem à cidade.

Em carta escrita aos visitantes que forem ao Museu do Amanhã, a franco-marroquina revela como foi sua primeira vez no Rio: “Fiquei maravilhada com a beleza dessa cidade incrível. Nunca imaginei que a cidade e a floresta pudessem estar tão interligadas. Adoro essas situações paradoxais. São quase reconfortantes por serem a prova tangível de que todas as formas estão na natureza”. Ela avisa ao espectador que imaginou a instalação como um ambiente de múltiplas escalas e pontos de entrada visual. “Coexistem formas 3D, como vasos que encontrei na cidade, ferramentas e objetos que atravessam mundos, épocas e todas as civilizações”, destaca.

Demais ações

As exposições e a roda de conversa compõem o calendário de ações do programa Cidade Floresta 2023, que também inclui uma mostra de cinema, de 6 a 9 de julho, no Estação NET Rio, em Botafogo, e um workshop online com o holandês Klass Kuitenbrouwer, fundador do projeto Zoöp, em 4 de agosto, das 16h às 18h. Kuitenbrouwer é pesquisador no Het Nieuwe Instituut em Roterdam. Depois de estudar História e desenvolver uma prática artística, trabalhou com cultura, tecnologia e ecologia desde o final da década de 1990. No instituto, desenvolveu o projeto Zoöp, um formato jurídico para a colaboração entre humanos e corpos coletivos de não-humanos.

SERVIÇO

Mostra Cidade Floresta: Início Meio Início

  • De 8 de julho a 6 de agosto
  • Centro Cultural Justiça Federal
  • Endereço: Av. Rio Branco, 241 – Centro
  • Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 11h às 19h
  • Entrada gratuita

Exposição Uma Cidade na Floresta, de Chourouk Hriech

  • De 11 de julho a 10 de setembro
  • Museu do Amanhã
  • Endereço: Praça Mauá, 1 – Centro

Horário de funcionamento: de terça a domingo, das 10h às 18h (com última entrada às 17h). Às terças-feiras, a entrada é gratuita. Nos demais dias, os ingressos custam R$ 30 a inteira e R$ 15 a meia-entrada.

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