‘EYJA: primeira parte, a ilha’ estreia no CCBB RJ

Primeiro espetáculo circense da Multifoco Cia de Teatro, a montagem inédita, inspirada num caso real, investiga, através da linguagem de circo-teatro e com o protagonismo de uma artista cega, a relação do ser humano com a solidão e a natureza.

por Redação

Em 2010, a Multifoco Cia de Teatro dava seus primeiros passos. No mesmo ano, o vulcão da geleira Eyjafjallajökull, no sul da Islândia, entrava em ebulição, paralisando o tráfego aéreo e cancelando diversos voos pelo mundo. Inspirado pelo famoso caso de impacto mundial, a Multifoco estreia “EYJA: primeira parte, a ilha” dia 04 de maio de 2023, às 19h, no Centro Cultural Banco do Brasil Rio de Janeiro, o primeiro espetáculo de uma trilogia desenvolvida pela companhia. Contemplada pelo edital de Fomento Carioca (FOCA) em 2022, a montagem, a primeira inteiramente circense da Companhia e com protagonismo de Ana Luiza Faria, uma artista deficiente visual, aborda a relação dos sujeitos como ilhas à deriva. As personagens estão numa grande jangada, um território instável, reaprendendo a compartilhar equilíbrios e coletividades.

“Em 2020, com a pandemia, cada pessoa se tornou uma ilha isolada em seus lares. As cidades se tornaram arquipélagos de pessoas em solidão, isoladas umas das outras, e foi subtraído aquilo que nos identifica como animais sociais. Dez anos separam esses dois eventos da natureza e nesse tempo surge a companhia. De alguma forma nos parece fazer sentido falar dessas solidões, dessa dificuldade de viver em coletividade, de (con)viver, de pensar como produzir acordos a partir dos encontros. Pensar, sobretudo, esse território instável da nossa sociedade – de acordos nem sempre tão explícitos, frequentemente tácitos”, sintetiza Ricardo Rocha, diretor do projeto, que prevê também duas oficinas na linguagem investigativa do espetáculo.

Formado por um coletivo de artistas com origem majoritariamente do teatro, mas com a formação em circo também atravessando a trajetória de boa parte do elenco, o espetáculo nasce da linguagem híbrida entre circo e teatro. No atual projeto, a pesquisa do coletivo se volta para um mergulho na criação de seu primeiro espetáculo inteiramente circense, com a participação de todas e todos os acrobatas da companhia. Investigando a criação autoral, por meio de números de portagens e acrobacias de solo, a montagem toma por referência o circo contemporâneo numa pesquisa de linguagem entre circo-teatro-dança.

“Há no circo um encantamento e um risco que trazem outros estímulos para a formação da atriz e do ator de teatro e é isso que buscamos: revelar a potência de cada integrante da companhia e compartilhar esses caminhos de aprendizado e formação. Por isso, EYJA é uma espécie de circo-teatro, uma linguagem que se fortalece da potência dessas duas artes”, sinaliza Ricardo.

Nesta primeira parte do projeto, a companhia apresenta um jogo de acrobacias e portagens, pulsões e vazios, explosões e repousos, suspensões e desmoronamento, intencionando traduzir simbolicamente a relação do ser humano com a solidão e o desconhecido. “Nosso desejo em montar este espetáculo nasce da vontade de experimentar, por meio das acrobacias e coreografias acrobáticas, uma verticalização na cena circense. Pensar por outros caminhos e maneiras de encontrar o público e também aprender a partir do intercâmbio com artistas que convidamos para o processo criativo. Ampliar horizontes. É uma trajetória desafiadora que, sem dúvida, deixará um legado importante para o nosso repertório”, pondera Rocha.

EYJA: primeira parte, a ilha

EYJA: primeira parte, a ilha – Foto: CodigosArt

A presença de Ana Luiza Faria, artista circense e atriz com deficiência visual convidada do espetáculo, é um marco no pensamento ético / estético da Multifoco. A ideia surgiu das trocas acerca de “Sobre Trabalho ou Sobre Viver”, experiência de espetáculo digital da companhia de onde surgiram várias reflexões com Tatiana Henrique, uma das diretoras convidadas daquele projeto.

“Surgiu, então, a parceria com a Analu por meio de um depoimento dela sobre seu trabalho como artista circense cega. E ficou latente a necessidade do grupo de se posicionar, como parte ética da construção de seus trabalhos, exercitando a acessibilidade dentro e fora da cena. Trabalhar com uma intérprete cega é considerar outras formas de promover acessibilidade”, acredita o diretor da montagem.

O espetáculo é a primeira parte de um projeto que toma por referência o vulcão Eyjafjallajökull, ainda em atividade, mas adormecido sob um manto de neve e gelo. De nome islandês, significa EYJA (ilha); FJALLA (vulcão); JÖKULL (geleira). Para a Multifoco, pensar uma trilogia é pensar um projeto único que se desdobra ao longo do tempo. Após “EYJA, a companhia estreia “FJALLA ainda em julho deste ano e tem expectativa de desenvolver “JÖKULL em 2024. Os três são pensados como espetáculos separados, mas são continuidades.

“‘EYJA’ é um deslocamento para pensar indivíduo e coletividade, pensar o sujeito das cidades e pensar o naufrágio desse modelo urbano de organização social. Sobretudo, é um espetáculo cheio de poesia, musicalidade e de movimentos acrobáticos que, juntos, procuram navegar sobre esses mares do pensamento. O público vai encontrar isso tudo misturado para provocar pontos de reflexão e deslocamentos de perspectivas. O protagonismo de uma intérprete cega faz o espetáculo navegar, é o que nos move em construir uma cena desafiadora para nós e para o público. Levar as pessoas com deficiência para o centro do trabalho é nosso maior desafio e para o público será uma experiência nova no campo do circo-teatro. A gente toma um susto, mas cresce e aprende”, encerra Ricardo Rocha.

SINOPSE:

EYJA: primeira parte, a ilha” é o primeiro espetáculo de circo acrobático da trilogia Eyjafjallajökull, idealizado e produzido pela Multifoco Companhia de Teatro. O nome é inspirado no vulcão islandês que entrou em erupção no ano de 2010, mesmo ano de nascimento da companhia. Este espetáculo é uma celebração em Companhia, que completa 13 anos. Um espetáculo mergulho nas linguagens do teatro e da acrobacia para refletir sobre a deriva e a solidão. Os temas ganham uma abordagem que mescla acrobacia, portagens, dança acrobática e teatro, para construir uma cena carregada de imagens e musicalidade.

SERVIÇO:

FICHA TÉCNICA:

  • INTÉRPRETES – Analu Faria | Bárbara Abi-Rihan | Fabio Lacerda | Palu Felipe | Vinicius Mousinho
  • DIREÇÃO | CENOGRAFIA | ILUMINAÇÃO – Ricardo Rocha
  • ASSISTENTE DE DIREÇÃO – Diogo Nunes
  • PREPARAÇÃO EM ACROBACIA – Rafael Garrido
  • SUPERVISÃO COREOGRÁFICA – Palu Felipe
  • TRILHA SONORA E COMPOSIÇÕES – Samantha Jones
  • FIGURINOS – Flávio Souza
  • CENOTÉCNICO – Moisés Cupertino
  • CONSULTORIA CENOGRÁFICA – Alice Cruz | Cachalote Mattos | Daniele Geammal
  • ASSESSORIA DE IMPRENSA – Marrom Glacê Assessoria (Bruno Morais e Gisele Machado)
  • MÍDIAS SOCIAIS – Viviane Dias
  • AUDIOVISUAL | FOTOGRAFIA – CodigosArt (Daniel Debortoli e Viviane Dias)
  • PROGRAMAÇÃO VISUAL – Daniel Barboza
  • PRODUÇÃO EXECUTIVA – Clarissa Menezes
  • ASSISTENTE DE PRODUÇÃO – Bárbara Abi-Rihan
  • DIREÇÃO DE PRODUÇÃO – Multifoco Produções Culturais

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