Fabio de Souza estreia como cantor celebrando a liberdade e a excelência de Emílio Santiago

Fabio de Souza

O Manouche apresenta, no dia 27 de novembro, “Mar de Emílio”. Dedicado à obra de Emílio Santiago, o show é o primeiro espetáculo do cantor Fabio de Souza. Porém, ao lado da aura de novidade natural à estreia, há uma atmosfera de encontro de velhos amigos. Afinal, a capa do primeiro disco do cantor, lançado em 1975, dois anos antes do nascimento de Fabio, é uma das lembranças mais marcadas de sua primeira infância, assim como as canções do álbum clássico. 

 

Além disso, “Mar de Emílio” é uma estreia do cantor, mas o olhar que Fabio mostra no show — um olhar caracterizado pela combinação de paixão e inventividade — já é uma marca conhecida de seu trabalho como cenógrafo de artistas como Fafá de Belém e Geraldo Azevedo. Que a tradução musical dessa maneira de ver e viver o mundo se mostre a partir de Emílio é profundamente significativo

— Penso muito que Emílio não foi valorizado como deveria, ou seja, como o maior cantor do Brasil — avalia Fabio. — Houve muito preconceito por ele ter sido muito popular com a série de discos “Aquarela brasileira”. E também por ser um homem preto, um dado que nunca pode ser ignorado neste país. Esse show nasceu de um sonho de homenageá-lo e mostrar todo o amor que sinto por ele. É também um pedido de licença para chegar nesse universo do canto que hoje em dia tem se desvirtuado tanto. Respeito muito os grandes cantores, eu fui criado assim, ouvindo Elza Soares, Alaíde Costa, Áurea Martins, Johnny Alf, Leny Andrade… Então cantar Emílio é pedir permissão para chegar.

Apesar de Fabio se mostrar à frente de um show só agora, o cantor nasceu nele há muito tempo. Há alguns anos, ele chegou a participar de shows da Orquestra Imperial e de artistas como Mãeana, e mesmo a interpretar uma canção de Emílio acompanhado ao piano pelo maestro Laércio de Freitas. Mas o despertar de sua voz é ainda anterior. Vem de berço — e isso não é força de expressão.

— Minha mãe conta que eu cantava “Bananeira” antes de aprender a falar — explica o artista. — A música sempre foi um elo entre mim e a minha mãe. Porque minha mãe trabalhava de segunda de manhã até sábado à noite, então quem me criou foi minha avó. A música era um jeito de sentir minha mãe perto. Especialmente ouvir Emílio e Elza. Ela era muito fã dos dois, me levou a muitos shows deles.

Aos 10 anos, ele teve a oportunidade de participar do coral da escola e a se destacar entre seus colegas. Mas sua natureza livre já se mostrava ali — e incomodava os que sofriam de normatividade aguda. Começou a sofrer bullying e, em resposta, tentou se adequar, ou ao menos não parecer tão inadequado.

— Fui me apagando para caber — conta Fabio. — Porque sempre fui uma pessoa muito ensolarada, sem querer eu aparecia. Cheguei a trocar de escola. Depois, já no mercado, comecei a trabalhar com música, mas sempre no backstage, sem contar para ninguém que eu cantava. Estava do lado das melhores cantoras e cantores e ninguém sabia.

Seu despertar para o canto se deu quando morava em São Paulo e entrou para a Universidade Antropófaga do Teatro Oficina, selecionado como ator-cantor. Ali começou a caminhada para trabalhar por seu olhar, por sua arte, e não a serviço da arte de outros. Migrou para cenografia e direção de arte, onde construiu uma carreira sólida. Mas o reencontro com o menino que aprendeu a cantar antes de falar começou a se desenhar em setembro deste ano, quando ele fez um pocket show no Largo das Neves, uma prévia do que seria o “Mar de Emílio”. 

— Foi um ato de coragem, uma cura — define o cantor. — Eu estava muito seguro, cantando muito bem. Tranquei meus fantasmas e joguei a chave fora. Foi muito bonito, e vai ser ainda mais bonito no Manouche.

No show, Fabio tem a companhia de Vovô Bebê (que assina a direção musical), Nana Carneiro e Caxtrinho. Três músicos que têm, assim como Fabio, o compromisso com o novo. 

— A ideia é antropofágica, cada um pegar Emílio de maneira original, para trazê-lo para o tempo de hoje — explica Fabio. — É uma grande honra ter esses três artistas, com suas singularidades e suas pluralidades, contribuindo para que eu possa mergulhar nesse mar do Emílio. E, além de instrumentistas, são três compositores. Emílio era um intérprete de muitos compositores, que sempre respeitou a composição, as possibilidades de alguém escrever algo, pôr música e depois você cantar e transformar isso.

Nas mãos do trio e na garganta de Fabio, sucessos como “Verdade chinesa” e “Bananeira” aparecem ao mesmo tempo reconhecíveis e inteiramente renovados. Elegância & atrevimento, acidez & doçura, romantismo & deboche — tudo junto, sobre um repertório impecável, pontuado por surpresas em meio ao conforto de canções entranhadas na memória coletiva.

— Quis jogar luz em músicas da trajetória do Emílio que não ficaram tão conhecidas, músicas incríveis que eu cantava desde criança — diz o cantor, referindo-se a um roteiro que inclui compositores como Gonzaguinha, Nelson Cavaquinho, Marcos Valle, Jorge Aragão, João Donato e Jorge Ben Jor.

Por sua musicalidade surpreendente e pelos afetos mil envolvidos, “Mar de Emílio” é uma celebração à liberdade. Liberdade que pode ser sintetizada nos versos de uma das canções que Fabio leva ao palco do Manouche: “Bota pra fora o mundo que existe em você/ Rasgue a fantasia/ Os sentimentos um dia têm que aparecer”. 

SERVIÇO

Show: Fábio Souza em “Mar de Emílio”, um mergulho poético na obra de Emílio Santiago

Local: Manouche (Rua Jardim Botânico, 983, – subsolo da Casa Camolese/Jd. Botânico)

Data e horário: 27 de novembro, quarta, às 20h30

Ingressos: R$ 50 (ingresso solidário – levando um quilo de alimento não perecível ou livro – a ser doado para o Retiro dos Artistas – estudante, meia entrada e idoso) l R$ 100,00 (inteira)

Capacidade: 90 pessoas (público sentado)

Vendas: https://linktr.ee/clubemanouche 

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