Matriarca da Portela, Tia Surica arrastou, no fim de semana, uma multidão ao Food Temple Brésil, no Carreau du Temple, centro cultural dos mais importantes atualmente, em Paris. Filas e filas se formaram na Rue Eugène Spuller. Até o celebrado ator francês Vincent Cassel marcou presença para saborear a iguaria mais festejada na zona Norte do Rio.
“Eu me senti em casa. Parecia que eu estava no meu cafofo”, destaca Tia Surica, convidada pelo Comissário do Ano do Brasil na França, Emílio Kalil.
Além de Surica, compuseram ainda o grupo brasileiro: Rixxa, o nosso Pavarotti do Samba, a imperiana Luiza Dionísio, intérprete reverenciada na rodas de samba do Rio, e o Jongo da Serrinha. Aos 80 anos, Ivo Mendes, filho da saudosa Tia Maria, ícone do Jongo, encantou a diretora do Carreau du Temple, Sandrina Martins, que há cerca de dois meses subiu o Morro da Serrinha para conhecer de perto a beleza cultural de uma das comunidades mais engajadas e representativas do país.
Diretor-Executivo da Saison Brasil-França 2025, Robson Outeiro destaca a importância do estreitamento das relações socioculturais entre Brasil e França.
“A intenção é que possamos manter o diálogo entre os dois países de forma permanente. Há muito mais semelhanças entre as duas culturas do que supostamente imaginamos”, destaca Outeiro.
”Sem couve, não dá”
Tão logo chegou em Paris, Surica já queria dar início aos preparativos da feijoada. Mas um torcicolo a impediu de agir de imediato. Afinal, foram 11h de voo Rio-Paris. Após repouso de um dia, lançando mão de compressas de água quente, na sexta ela começou a cortar as carnes. Como na França há alguns ingredientes difíceis de serem encontrados, ela adaptou a sua iguaria. Mas sinalizou que não abriria mão da couve. Resumo da ópera: os franceses ficaram enlouquecidos atrás de couve fresca a fim de não frustar a matriarca. E o socorro foi brasileiro. Entrou em cena a chef baiana Mariele Goes, dona do charmoso restaurante La Bahianaise, na capital Luz. Mariele fez contato com fornecedores portugueses e tudo foi resolvido prontamente. “Sem couve, não dá, né gente?”, pontuou Surica, às gargalhadas.
Brasil Ancestral
A Feijoada da Surica fez parte do projeto Brasil Ancestral que levou a Paris a nossa profunda relação com a África. E, claro, não podia deixar de se ressaltar um dos principais elos que nos une ao continente africano: o samba. Em dois dias, os franceses mergulharam em um repertório singular, repleto de pérolas de expoentes do gênero, como Silas de Oliveira, Dona Ivone Lara, Paulo da Portela, Zé Ketti, Candeia e Cartola.
“Busquei justamente passear por um Brasil tão rico quanto desconhecido ainda no exterior. Não queríamos desenvolver algo caricatural. Logo, dividimos as apresentações em dois dias. No primeiro, fizemos um concerto. E, no segundo, uma roda de samba. Foi histórico”, diz Vagner Fernandes. diretor artístico do projeto.