Em um movimento histórico que sinaliza a mudança irreversível do consumo de mídia linear para o digital, a Academia de Artes e Ciências Cinematográficas anunciou nesta quarta-feira um acordo estratégico com o YouTube. A partir de 2029, a plataforma do Google detém os direitos exclusivos de transmissão global do Oscar, encerrando a longa hegemonia da emissora norte-americana ABC.
O acordo abrange da 101ª edição do Oscar, em 2029, até 2033. A medida não apenas democratiza o acesso à cerimônia, prometendo transmissão gratuita para os mais de 2 bilhões de usuários do YouTube globalmente, mas também representa uma injeção de capital e tecnologia significativa para a instituição.
Detalhes do acordo e impacto no mercado
A transição ocorre em um momento crítico para a televisão tradicional. A ABC, propriedade da Disney, manterá os direitos de transmissão até 2028, garantindo a exibição da histórica 100ª edição da premiação. No entanto, a incapacidade da TV linear em reter o público jovem e conectado acelerou a busca da Academia por parceiros no ecossistema das Big Techs.
Embora os valores oficiais não tenham sido divulgados, relatórios do setor indicam que o acordo financeiro supera substancialmente os contratos anteriores.
-
Valor estimado: O YouTube pode pagar mais de US$ 150 milhões anuais pelos direitos.
-
Comparativo: A ABC pagava atualmente entre US$ 100 milhões e US$ 120 milhões.
-
Concorrência: A NBCUniversal e a Disney (em janela exclusiva até março de 2025) também disputaram os direitos, mas as negociações estagnaram devido a questões de preço.
O CEO do YouTube, Neal Mohan, celebrou a aquisição, classificando o Oscar como “uma das instituições culturais mais vitais” da atualidade.
Queda de audiência impulsiona migração digital
A decisão é fundamentada em dados alarmantes de audiência televisiva. O pico de telespectadores do Oscar ocorreu em 2014, com 44 milhões de pessoas. Desde então, os números despencaram:
-
2024: 19,5 milhões de espectadores.
-
2025: 18,1 milhões de espectadores (queda de 7% ano a ano).
A aposta no YouTube visa reverter essa tendência, aproveitando a onipresença da plataforma em dispositivos móveis e Smart TVs. Para os assinantes do YouTube TV nos Estados Unidos, haverá integração completa, enquanto o público global terá acesso gratuito a conteúdos expandidos, incluindo cobertura do tapete vermelho, bastidores e o Governors Ball.
Bill Kramer, CEO da Academia, e a presidente Janet Yang, destacaram em comunicado que a parceria multifacetada permitirá “expandir o acesso ao trabalho da Academia para o maior público mundial possível”.
Preservação digital e Google Arts & Culture
Além da transmissão ao vivo, o acordo possui um componente tecnológico robusto focado na preservação histórica. O Google Arts & Culture desempenhará um papel central na digitalização do vasto acervo da Academia.
O projeto prevê:
-
Digitalização de Acervo: Processamento de partes da coleção de 52 milhões de itens da Academia.
-
Acesso Virtual: Facilitação do acesso digital às exposições do Academy Museum.
-
Conteúdo Educacional: O YouTube hospedará programação contínua, incluindo os Governors Awards e materiais sobre produção cinematográfica.
Esta parceria entre a Academia e a Alphabet (controladora do Google) reforça a tendência de grandes eventos ao vivo migrarem para plataformas de streaming, que oferecem não apenas alcance, mas ferramentas de engajamento e arquivamento digital superiores às da televisão convencional.