Mais do que uma apresentação de dança, o espetáculo “NIXI PAE: Encantos da Natureza” é um sopro de retomada da natureza em meio ao asfalto das metrópoles. A obra mergulha profundamente na cosmo percepção indígena para transformar o palco em um território de memória, resistência e conexão ancestral, convidando o público a redescobrir o espírito da floresta que pulsa nos corpos e na terra.
Com uma proposta que une dança, música ao vivo e vídeoprojeções, “NIXI PAE” é inspirado na palavra que, para o povo Huni Kuin (Acre e Peru), nomeia a bebida medicinal sagrada conhecida como Ayahuasca e significa o “espírito da floresta” ou “cipó forte”. O nome do espetáculo, que chegou à criadora por meio de uma experiência pessoal de retomada de identidade indígena, é a chave para aprofundar uma discussão vital sobre pertencimento e legado. O espetáculo têm idealização e criação por Giovanna Aguirre e com direção de Ruth Tapuya.
Para Giovanna, a realização do espetáculo é arte e ato político para não esquecer seus ancestrais: “Essa ponte cosmológica que é o eixo central do Nixi Pae, revela que a Floresta está reivindicando sua retomada, esse trabalho é uma ponte que ecoa as vozes e presenças da Floresta. Esse sopro me impacta à medida que eu compreendo que eu não deixei de ser floresta, mesmo vivendo na cidade, eu sou filha da floresta, o Nixi Pae chegou pra mim como um sopro dos meus ancestrais, para que meu corpo pudesse ser passagem e sopro, da força e beleza da floresta que também resiste à cidade. É, ainda, um chamado para voltarmos a sermos natureza, pisar mais suave na terra, respeitar as outras espécies e manifestações da vida, e voltar a sermos a dimensão da totalidade, e não somente a dimensão do humano que devora tudo ao seu entorno”.
O Corpo-Florestas e a Força dos Encantados
O espetáculo questiona o apagamento da história, buscando a reconexão com a ancestralidade que reside em cada indivíduo e território. A bailarina, no papel de corpo-floresta, atua como um portal para a manifestação de forças da natureza, incorporando a jiboia, a onça, os guarás e a energia dos rios e encantados.
Luta e memória, molduram a performance como um ato de resistência que retoma a memória do povo Tupinambá, os verdadeiros “donos dessa Terra” antes da colonização do território que hoje chamamos de Rio de Janeiro. Um recado político e visual no uso de videoprojeção no corpo da bailarina reforça a mensagem de ativismo e memória, exibindo rostos de lideranças indígenas históricas e assassinadas, e também resgatando a imagem de rios soterrados da cidade, unindo a luta pela vida na floresta e nos centros urbanos.
Envolvendo também a música e as manifestações sonoras que resgatam o som da floresta, que se expressam de forma orgânica e ao vivo pelos músicos, criando uma ambiência sonora que evoca a força da encantaria, o fio invisível que integra os céus, a terra, as águas, fogo e todos os seres vivos.
“O Espetáculo despertará o público para as questões de preservação ambiental e respeito aos ancestrais, através da sua dramaturgia, com as projeções de imagens e vídeos que ecoarão a presença da natureza e das lideranças indígenas em cena, mostraremos a natureza viva com os Rios que percorrem o nosso país: Rio Amazonas, Rio Juruna, como também alguns Rios da cidade do Rio de Janeiro como Rio Quitungo, Rio Carioca, Rio Maracanã, Rios que foram violentados, soterrados e hoje tornaram-se valões, esgotos a céu aberto. A memória da natureza ganha vida também através da Dança da Giovanna que se transforma em corpo-onça, corpo- jibóia, corpo-guará, convocando esses animais que habitavam a cidade do Rio de Janeiro e as regiões da Mata Atlântica. Para preservar precisamos conhecer e nos sentirmos pertencentes ao território que habitamos, compreender que somos parte de um bioma, portanto, serão projetadas imagens desses animais que são grande símbolo de preservação ambiental e força na cosmoperceção de muitas culturas indígenas, como para o povo Huni Kuin, Tupinambá, Guarani, reacendendo a Memória de um Rio de Janeiro Tupinambá”. Informa Giovanna.
Ainda, segundo a diretora e idealizadora do espetáculo, “NIXI PAE” é um lembrete pulsante de que, mesmo nas cidades, o espírito ancestral não foi morto, sustentando a força do grande espírito e a natureza viva onde quer que estejamos. É um convite imperdível para que o público se una a essa jornada de cura, poesia e resgate cultural:
“A importância de conectar os povos indígenas, as encantarias e as sabedorias ao público, é buscar expandir e conscientizá-los que aqui, nesse território chamado Brasil, Pindorama, existem muitos povos indígenas, que mesmo mediante ao massacre, a colonização, ainda resistem. São mais de 300 povos indígenas, existem também muitas pessoas indígenas em contexto urbano, algumas não sabem ao qual povo pertencem, devido ao genocídio, as violências, mas seu espírito ancestral permanecem vivo. As artes são uma ferramenta poderosa de reconhecimento, conscientização e valorização das manifestações culturais, em suas diferentes vertentes”.
Ficha Técnica:
- Idealização, Criação: Giovanna Aguirre
- Direção: Ruth Tapuya e Giovanna Aguirre
- Bailarina Intérprete: Giovanna Aguirre
- Músicos: Márcia Guimarães, Lucas Kariri e Vanessa Machado
- Preparação Corporal: Alec Vasconcelos
- Iluminação: Lilian da Terra
- Paisagem Sonora: Thiago Sobral
- Produção: Lisi Potyguara
- Produção Executiva: Leandro Pedro
- Figurino: Jess Louzada
- Assistente de figurino: Tielison
- Design: Auá Mendes
- Criação de Videomapping: Tais Almeida
- Operação de Videomapping: Tais Almeida e Thaina Iná
- Motion design: Pedro Brum
- Consultoria de Videomapping: Raina VJ
- Desenho de som e operação de áudio: Raquel Brandi e Maria Clara Coelho
- Social Mídia: Yumo Apurinã
Serviço:
- 07 de novembro – sexta-feira, às 19:30hs.
- Centro Cultural da Justiça Federal (Cinelândia)
- Duração: 50 min
- Classificação: Livre
- Endereço: Av. Rio Branco 241 – Centro
- Ingressos : $40 inteira $20 meia