O cantor e compositor Fred Demarca lança, no próximo 30 de outubro, o seu segundo álbum, A Cabeça – de Fred Demarca e Roberto Didio. O trabalho celebra a parceria com o letrista e compositor Roberto Didio, encontro recente que rapidamente se transformou em cumplicidade artística, resultando em dez faixas inéditas que transitam bonito entre o cancioneiro brasileiro, o samba e a canção contemporânea.
O projeto tem direção musical de Demarca, Didio e João Camarero. A percussão geral ficou sob responsabilidade de Marcus Thadeu, e o cavaquinho de Ana Rabello, companheira de Didio, marca presença em quatro faixas. O disco também se distingue pela força das vozes: Ilessi e Diogo Mirandela dividem protagonismo em diversos momentos, e o coro — formado por Luísa Lacerda, Nívea Magno, Miguel Rabello e Muato — amplia a densidade vocal do trabalho.
A gênese de A Cabeça foi marcada pelo acaso, mas também pela ousadia. Em busca de novos diálogos criativos, Demarca procurou Didio. Não havia um plano traçado, tampouco a ideia de gravar nada por agora. O que nasceu como tentativa de troca logo se revelou em uma parceria de muito valor para o músico, integrante da banda Pietá, que vem crescendo na cena independente desde 2012, pelo talento dos três integrantes – Demarca, Juliana Linhares e Rafael Lorga.
“Quando tive a ousadia de procurar o Didio e propor uma parceria, não fazia ideia de que estava começando uma das mais importantes da minha trajetória… Em vez de mandar uma melodia só, foram dez de uma vez. Sem nenhuma pretensão de que isso virasse um álbum. Mas Didio respondeu logo, animado com o que tinha ouvido, e soltou: ‘aqui tem uma história, hein’. A partir daí, foi um carretel infinito: vida e sonho em forma de letra. No fim, o mais difícil foi deixar tanta música boa de fora”, recorda Demarca.

O encontro, que começou com melodias e letras trocadas à distância, logo se transformou em cumplicidade e admiração mútua. Mais do que composições, os dois passaram a escrever leituras sobre o trabalho e a personalidade um do outro — uma espécie de retrato cruzado feito de palavras e sons.
“Demarca é operário em construções diversas. Artista versátil, encara o contraditório no exercício do bom combate, sem covardia. O cantar de Fred tem condão sensível, potente. Praça contemporânea, arborizada de fundamento. Confeitaria francesa e doce de subúrbio. Porcelana e aspereza. Dialética. Rua”, comenta, poeticamente, o parceiro Didio.
Afago que é devolvido por Demarca: “É bonito ver a artesania com que Didio se dedica ao ofício de escrever letras. Ele fez questão de ir, aos poucos, semeando a amizade para poder auscultar um pouco da alma de quem fazia aquelas melodias. E então entrega o que eu gostaria de ter escrito, mas não fui capaz. Suas palavras vão se desvelando em infinitas camadas a cada escuta atenta. Um craque que hoje tenho a sorte de jogar no mesmo time”.
Faixa a faixa
1. A Cabeça
Um manifesto sobre escolhas e contradições. Para Didio, é o “passo onírico do homem na vereda das contradições”; para Demarca, é o reconhecimento de que “a cabeça, dona dos nossos caminhos, tem o poder de transformar cenários ao nosso redor”.
2. Alguém Sonhando?
Samba que questiona a velocidade do mundo contemporâneo. Didio evoca “a praça onde ninguém mais observa”; Demarca vê na canção um chamado para não desistirmos de sonhar.
3. Daquela Voz
Uma homenagem a Milton Nascimento. Para Didio, uma melodia de “brisa misturada, soprada para falar de alguma força inexplicável”. Para Demarca, “um agradecimento em forma de canção” à voz que embalou gerações.
4. Cecília Santa
Inspirada nas cantorias de procissão, celebra a fé como cuidado coletivo. Didio lembra da música como “fonte salvadora”; Demarca destaca o sincretismo que tece o Brasil.
5. Rosa Pequena
Com participação de Ilessi, grande intérprete da cena atual, a faixa denuncia o abismo social do país e exalta a força de quem escreve a própria história. Didio chama a canção de “veneno especial”; Demarca a enxerga como canto de resistência.
6. No Mistério
Reflexão sobre memória e finitude. Para Didio, lampejos da constelação da memória; para Demarca, “o instante do grande mistério: o último suspiro”.
7. Que vai Além
Um samba íntimo, que segue para além de quem o ouve. Demarca sintetiza: “se meu samba tocar alguém, mesmo que seja uma alma só, já foi além”.
8. Do Túnel pra Cá
Um tributo ao subúrbio carioca, berço de ambos os compositores. Didio a define como “declaração de amor ao território do parceiro”; Demarca lembra da saudade dos domingos de samba no Andaraí.
9. Pois é, Artista
Crítica à vaidade e ao poder no fazer artístico. Didio questiona “o caos das relações de poder”; Demarca evoca Mauro Duarte: “não adianta estar no mais alto degrau da fama com a moral enterrada na lama”.
10. Zaragateira
Feita para arrastar os móveis da sala. Para Didio, é “provocação de ordem, festejo que ocupa os espaços”; para Demarca, “catarse brasileira”, samba como falange que toma tudo o que vem pela frente.
A Cabeça – de Fred Demarca e Roberto Didio
Lançamento nas plataformas: 30 de outubro de 2025
Segundo álbum de Fred Demarca, em parceria com Roberto Didio
Direção musical: Demarca, Didio e João Camarero
Arranjos: João Camarero e Fred Demarca
Participações: Marcus Thadeu (percussão), Ana Rabello (cavaquinho), Ilessi e Diogo Mirandela (vozes), Luísa Lacerda, Nívea Magno, Miguel Rabello e Muato (coro).
