Galeria Estação apresenta a primeira exposição internacional composta de obras de Ogwa e Salmi López Balbuena, expoentes da arte indígena paraguaia

Salmi López Balbuena Sem título, 2023 Acrílica sobre papel -Foto Joao Liberato

Com abertura em 18 de junho e visitação até 17 de julho de 2024, a exposição A Dança dos Mitos – Ogwa e Salmi, avô e neta apresenta ao público paulistano uma série de seis desenhos-pinturas do artista indígena paraguaio Ogwa (cerca de 1937-2008) e 35 pinturas de sua neta, Salmi López Balbuena (1982), expoentes da arte indígena do povo Ishir, comunidade situada em Puerto Diana, às margens do rio Paraguai e ao norte do Gran Chaco. Primeira grande exposição internacional a estabelecer diálogos entre as poéticas de Ogwa e Salmi, a mostra, realizada pela Galeria Estação no ano em que comemora duas décadas de atuação, também evidencia conexões geracionais permeadas pela ancestralidade ishir.

“A importância da obra de Ogwa começa quando ele foi um informante da conhecida antropóloga húngara Branislava Susnik, nos anos 1950. Provendo relatos da cosmogonia, dos ritos e dos mitos, em relatórios também acompanhados de seus desenhos, com o tempo Ogwa tornou-se o primeiro indígena reconhecido como um artista contemporâneo no Paraguai. Salmi, que cresceu com o avô, suas histórias e seus relatos, também aprendeu a desenhar com ele. A diferença entre a arte do avô e a da neta é que Salmi foi trabalhando com um olhar próprio, que agregou a pintura acrílica, as cores e os movimentos, mas a história é a mesma: dos relatos, das iniciações da cultura ishir através dos mitos, dos ritos e das cerimônias desse mundo ishir do Alto Paraguai”, explica Fredi Casco, que divide a curadoria com Fernando Allen.

Ex-ministro da Cultura do Paraguai e fundador do Museu de Arte Indígena do Paraguai, com mais de vinte livros publicados sobre teoria da arte e da cultura, o crítico e curador Ticio Escobar, que assina o catálogo de A Dança dos Mitos – Ogwa e Salmi, avô e neta, defende que as criações de Ogwa constituem uma figuração vigorosa e sem paralelo “nem na sua própria cultura nem na arte do Ocidente”. Entre as mostras mais relevantes de suas obras destacam-se Mémoires Vives – 30 anos da Fondation Cartier, em 2014, em Paris; El cielo Ishir: Relatos cosmogónicos del Chaco Paraguayo, organizada em conjunto com a Embaixada do Paraguai na Espanha, no Museo de América em Madri, em 2023; e El legado de Ogwa, no Centro Cultural del Lago, em Assunção, em 2024.  

Ticio Escobar

“O amplo conhecimento de Ogwa sobre o mito e o ritual ishir, aliado às suas experiências e movido por uma imaginação maravilhosa e um grande talento pessoal, levaram-no a inaugurar seu próprio gênero dentro das artes visuais do nosso país, cujo acervo é enriquecido com novas energias, diferentes pontos de vista e outras formas de abordar a representação. (…) Ogwa falava longamente, como fazem os Ishir, e ilustrava ao mesmo tempo, o que resultou em centenas de desenhos que, a dada altura, começaram a ser feitos fora da informação etnográfica e coloridos sem perder a referência determinante da linha. Assim, incentivados pelo mercado de arte e pelos caprichos da criação, seus desenhos ganharam autonomia e viraram pinturas ou, melhor, desenhos-pinturas”, explica Escobar.

Impactada com a exposição Siamo Foresta, mostra apresentada na Trienal de Milão de 2023 reunindo obras de 27 artistas de comunidades indígenas de diferentes países da América Latina, Vilma Eid, sócia-fundadora da Galeria Estação, teve também o primeiro contato com os curadores que, agora, apresentam o conjunto de obras selecionadas para a exposição A Dança dos Mitos – Ogwa e Salmi, avô e neta.   

“Hervé Chandès, querido amigo, diretor da Fondation Cartier, instituição cultural francesa que tem em seu acervo obras de Ogwa, me apresentou a Fredi Casco e Fernando Allen. Eles fazem um maravilhoso trabalho pelos indígenas do Paraguai, na região do Chaco, e conhecemos muito pouco da cultura dos nossos vizinhos. Já em São Paulo, em uma reunião na Estação, Fredi me apresentou o trabalho histórico de Ogwa e de sua neta, Salmi. Meu entusiasmo foi imediato. Propus que juntos apresentássemos ao público brasileiro avô e neta, ainda desconhecidos por aqui. Convido a todos para um mergulho na cultura visual dessa família ishir”, conclui Vilma. 

Galeria Estação

Inaugurada no final de 2004 por Vilma Eid e Roberto Eid Philipp, a Galeria Estação consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não erudita, com atuação decisiva para a inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco da Estação também conquistou a cena internacional ao participar, entre outras, das exposições Histoire de Voir, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França), em 2012, e da Bienal Entre dois mares – São Paulo | Valencia, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual Veio – Cícero Alves dos Santos, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013. No Brasil, os artistas da galeria também têm suas obras em acervos de importantes colecionadores e de instituições de grande prestígio e reconhecimento, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu Afro Brasil (SP), o Pavilhão das Culturas Brasileiras (SP), o Instituto Itaú Cultural (SP), o Sesc São Paulo, o MAM – Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR, na capital fluminense.

Fredi Casco

Fredi Casco é artista visual, poeta, curador e documentarista. É o atual diretor artístico da Fundação Texo de Arte Contemporânea, de Assunção, e presidente da AICA – Asociación Internacional de Críticos de Arte do Paraguai. Suas obras fazem parte de coleções permanentes de instituições como a Fundação Cartier para Arte Contemporânea, de Paris, na França; o Museu Metropolitano de Arte, de Nova York, e a Fundação Kadista San Francisco, nos Estados Unidos; o Museu do Banco da República, de Bogotá, na Colômbia; e o Museu Lama, em Assunção.

Fernando Allen

Fotógrafo, editor e gestor cultural no Paraguai, atua desde 1984. Fundou, em 1986, a Photosíntesis, a primeira galeria de fotos do país, que também atua como editora desde o início dos anos 1990, produzindo e editando, até o momento, mais de quarenta livros. Como fotógrafo, participou de mais de cinquenta exposições individuais e coletivas no Paraguai, Brasil, Argentina, Bolívia, EUA, Porto Rico, Caribe, Espanha e Portugal.

Ticio Escobar

Conhecido e respeitado mundialmente nos meios intelectuais,Ticio Escobar é curador, professor e promotor cultural. Atuou como presidente da Associação de Comunidades Indígenas do Paraguai, diretor de Cultura de Assunção e ministro da Cultura do Paraguai, de 2008 a 2013. Foi diretor de Cultura do Município de Assunção, entre 1991 e 1996, e presidente da Asociación Internacional de Críticos de Arte do Paraguai. Recebeu diversas honrarias, entre as quais o Prêmio Bartolomé de las Casas por seu apoio às causas indígenas nas Américas. Atualmente, é diretor do Centro de Artes Visuais Museu del Barro, de Assunção.

SERVIÇO

 A Dança dos Mitos – Ogwa e Salmi López, avô e neta

De 18 de junho a 17 de julho de 2024

Abertura: terça-feira, 18 de junho de 2024, das 18h às 21h

Galeria Estação

Rua Ferreira Araújo, 625 – Pinheiros, São Paulo

Visitação: de segunda a sexta-feira, das 11h às 19h. Aos sábados, das 11h às 15h. Entrada gratuita.

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