O livro “Necrochorume e outros contos” de João Ximenes Braga, um dos mais importantes escritores da televisão brasileira (vencedor do PRÊMIO EMMY INTERNACIONAL de Melhor novela de 2013), ganha versão para o teatro na peça Gente do Bem, da Cia. Comparsaria Teatral e traz, pela primeira vez, um texto do autor para o teatro. São sete histórias curtas retiradas literalmente da publicação de 2021 que retrata personagens e situações típicas da classe média branca brasileira. O resultado mostra crônicas de nossa época, escritas a quente, como apontamentos sobre absurdos registrados pelo autor no dia a dia, seja observando situações, diálogos, atitudes, o preconceito, os atavismos, o racismo, a homofobia e o conservadorismo das pessoas.
A montagem, que reestreia em 01 de novembro no Teatro Glauce Rocha, com curta temporada até 24 de novembro, recebeu ótimas críticas publicadas em jornais e blogs culturais da cidade do Rio de Janeiro durante a sua primeira temporada, realizada no ano passado no Centro Cultural Banco do Brasil – Teatro II. Além das indicações ao Prêmio Shell de Teatro e Prêmio APTR nas categorias de melhor ator e melhor ator coadjuvante para Xando Graça. O elenco conta ainda com Adriana Maia, Alexandre Damascena, Ana Achcar, Anna Wiltgen, Camí Boher, Dadá Maia, Gilberto Goés, Henrique Manoel Pinho, José Ângelo Bessa, Mariana Consoli, Miguel Ferrari, Pamela Alves e Stefania Corteletti.
“Quando vi um ensaio de ‘Gente do Bem’, recorte de seis dos trinta contos de ‘Necrochorume’, fiquei surpreso com a teatralidade e o humor que a companhia descobriu nessa prosa. Os dois contos que fecham o espetáculo, porém, me deixaram apavorado. A companhia lhes trouxe tamanha virulência que eu não conseguia deixar de pensar que, em outros tempos, toda a trupe seria presa logo na noite de estreia. Graças a muita luta, não vivemos em outros tempos, mas nestes. Por outro lado, esta peça não nos deixa esquecer que os outros tempos continuam na coxia, esperando sua deixa para entrar em cena. E nos aniquilar” – ressalta João Ximenes Braga.
“As histórias construídas por Ximenes nos obrigam a olhar a sordidez humana sob o ponto de vista do opressor, e é preciso encarar esse opressor, só assim encontraremos caminhos possíveis para desconstruir a branquitude”, observa Adriana Maia.
A diretora geral aposta numa teatralização construída a partir da performance do ator-narrador – um recurso cênico do teatro épico contemporâneo, que permite ao ator transitar entre o ato de narrar e o jogo da representação, assumindo por vezes a função de personagem-narrador, e outras vezes de narrador-personagem -, que se coloca como um veículo de passagem entre texto e espectador. Ele manuseia a matéria-prima, que são as ideias, as situações e os sentimentos contidos no texto, e dá a ela uma forma “incompleta”, como se fosse uma escultura inacabada, que contém nela a proposta de várias formas diferentes e então entrega a escultura ‘inacabada’ ao público para que ele possa, a partir de sua percepção pessoal, concluir a obra.
Gente do Bem aposta no humor crítico, no olhar que aponta para o que há de mais ridículo nos personagens desenhados por João Ximenes Braga, transformando o riso em reflexão. A escolha pelo viés do humor é uma escolha política. O humor penetra por poros que a razão talvez não alcance. As histórias narradas em URINA, CAFÉ, CARNE, UÍSQUE, ESGOTO, ASCO e SORO, nos convidam a refletir sobre nós e nossa sociedade.
Serviço:
Gente do Bem
- Espetáculo da Cia. Comparsaria Teatral
- Temporada – 01 a 24 de novembro de 2024
- Sexta e sábado às 19h, domingo às 18h
- Classificação Indicativa: 12 anos
- Duração: 90 minutos
- Teatro Glauce Rocha
- Capacidade: 204 lugares
- Endereço: Avenida Rio Branco, 179 – Centro (em frente ao METRÔ CARIOCA)
“O elenco que se reveza nos mais diversos papeis, com pequenas e pontuais mudanças de figurinos, trabalham consistentemente na interação com os outros… se movem com agilidade, dando a cada personagem, a dose correta do tipo de pessoa que representa.” (Por Cláudia Chaves – publicada em Jornal Correio da Manhã 24/11/2023)
“Gente do Bem, a comédia humana de João Ximenes Braga, bate, arde e fica…Na peça, o que a gente vê nas seis histórias encenadas pela Cia Comparsaria Teatral, é uma mistura desses dois hemisférios: o da perplexidade e o da melancolia… Há casos desses que nos arrancam risadas, outros geram engulhos, mais ou menos como o Brasil faz com a gente.” (Por Rodrigo Fonseca – publicada em Rota Cult 23/11/2023)
“A Cia Comparsaria Teatral retoma em boa hora de alerta para traçar um panorama cênico de assumida mordacidade crítica da classe média brasileira, segundo os ditames assumidos pela antenada direção concepcional de Adriana Maia para Gente do Bem… Tudo convergindo para uma reflexiva tragicomédia humana, entre o livro e o palco, com um proposital olhar politizado sobre as eternas contradições de um Brasil de ontem e de hoje, refletido na corajosa exposição dramatúrgica desta gente que se acha do bem”. (Por Wagner Corrêa de Araújo – publicada em Escrituras Cênicas 12/11/2023)