Fernando

Heróis

Documentário acompanha a rotina de brasileiros em situação de vulnerabilidade num albergue no Rio de Janeiro, fruto de projeto para reinserir cidadãos no mercado de trabalho

por Redação

Jonas e Fernando são brasileiros de mais ou menos meia idade. O primeiro nasceu em Cruz das Almas, no Recôncavo da Bahia; o segundo, em Teresópolis, Região Serrana do Rio de Janeiro. Jonas ficou desempregado no primeiro ano da pandemia. Fernando perdeu emprego e uma vida confortável em razão da dependência química. Ambos tiveram suas vidas transformadas. Quis o destino que se encontrassem no Rio de Janeiro, mais exatamente no Albergue Nise da Silveira, no Centro da cidade. Jonas e Fernando são os personagens centrais de Heróis, documentário de Pedro Dannemann. Rodado no primeiro semestre de 2023, o  curta, é resultado do projeto Narrativas para um herói, iniciativa da Sevenx Produções Artísticas realizada com o intuito de ressocializar cidadãos em situação de vulnerabilidade. O filme, patrocinado pela Sprink e pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, através da Secretaria Municipal de Cultura por meio da Lei do ISS, será lançado no dia 16 de agosto, no Museu de Arte Moderna (MAM), e será, num primeiro momento, disponibilizado no YouTube.

Jonas concluiu o ensino médio. Fernando não. Os dois recolhem latas pelas ruas. Cada montante é vendido à reciclagem e, assim, ganham a vida. A rua era morada até irem para o Albergue Nise da Silveira, administrado pela Secretaria de Assistência Social da Prefeitura do Rio de Janeiro. Ali, são informados sobre seleção para curso profissionalizante de bombeiro civil. A oportunidade é abraçada por eles e por outros abrigados. Concluído o curso, não demora para Jonas ser chamado a uma entrevista de emprego. Fernando amarga uma espera mais longa e decide, por isso, voltar a estudar.

O projeto, uma iniciativa da Sevenx Produções Artísticas, foi colocado em prática ao longo de dois anos até seus realizadores chegarem ao Albergue Nise da Silveira. Ao longo de meses, Pedro Danemann acompanhou de perto a rotina do albergue e o dia-a-dia dos abrigados. Ouviu um a um suas histórias de vida, decidindo-se pelas narrativas de Jonas e Fernando. O primeiro caminhou a pé da Bahia ao Rio de Janeiro. Muitas vezes, com os pés esfolados, precisou driblar o cansaço por se encontrar numa rodovia, sem qualquer condição de se proteger. Já Fernando perdeu o emprego e o dinheiro da família levado à dependência do álcool e das drogas. Perdeu, assim, a própria dignidade.

Fernando é chegado num rock – no sentido literal da palavra. Como muitos brasileiros hoje na faixa dos 50 anos, ele teve a adolescência embalada pela trilha sonora que tomou o país nos anos 1980. Numa cena, ele rememora o desfecho da cinebiografia de Cazuza (1958-1990), quando o artista é levado ao mar ao som de “Vida louca vida” (Lobão\Bernardo Vilhena), gravada por ele. Numa outra, ele passa suas roupas cantarolando “Quase sem querer”, da Legião Urbana.

 “Quantas chances desperdicei\Quando o que eu mais queria\Era provar para todo mundo\Que eu não precisava\provar nada pra ninguém” diz uma das estrofes. Cantada informalmente à cappella, ela é também um retrato de quem a canta.

Fernando, como na canção, se fez em mil pedaços. E está disposto a juntá-los. O mesmo vale para Jonas. E também para os outros tantos abrigados no Nise da Silveira. Brasileiros que, a cada manhã, saem às ruas para batalhar pela própria sobrevivência. E que, quando lhes são dadas oportunidades, não se fazem de rogados.

Odiretor:

Pedro Dannemann formou-se como diretor pela Filmakademie Baden-Würtenberg, na Alemanha, onde ingressou em 2014, após deixar de lado a carreira no Direito. Ele é instrutor no curso Fazendo seu Primeiro Filme, na ABC Cursos de Cinema, e coordena, desde 2019, oficinas de cinema com adolescentes em abrigos da prefeitura do Rio de Janeiro, tendo concorrido, pela iniciativa, ao Prêmio Innovare.

Realizadora

A Sevenx Produções Artísticas iniciou suas atividades com o espetáculo  “R&J de Shakespeare” e, desde então, especializou-se na idealização de projetos culturais, esportivos e sociais, atuando também nas áreas de captação de recursos e de consultoria em gestão de recursos incentivados para grandes empresas. A produtora lança, ano que vem, o Instituto Okottos, que significa propósito em grego, voltado a fomentar iniciativas capazes de gerar grande impacto social e com o qual celebra seus 12 anos de atividades.

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