Inédito, “Papaizinho” estreia no Espaço Cultural Sérgio Porto

Em diálogo com o livro “Quem matou meu pai”, de Édouard Louis, a montagem elabora histórias de paternidade. Caio Scot e Felipe Rocha encenam as dificuldades de representar esses papéis — tanto na vida quanto no palco. Entre a ficção e o documental, “Papaizinho” escava os estereótipos que moldam o imaginário de pai e filho.

por Redação
Papaizinho

Tendo como disparador o encontro do ator, diretor e dramaturgo Caio Scot, com o livro “Quem Matou Meu Pai”, do escritor francês Édouard Louis, estreia “Papaizinho”, espetáculo inédito com dramaturgia desenvolvida por Caio, Felipe Rocha, Júlia Portes, Lucas Cunha e Luisa Espindula – esta última assinando com Caio a direção. Além do livro, que considera o universo interno de um filho gay e sua relação com o mundo e com seu pai, na estrutura principal da montagem estão ainda as vivências do próprio Caio, com memórias resgatadas em VHS familiares antigos, e as audições gravadas para encontrar um pai para o espetáculo. Reunindo Caio Scot e Felipe Rocha em cena, a peça realiza curtíssima temporada a partir de 17 de maio, sexta-feira às 20h e sábados e domingos às 19h, no Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto.

O espetáculo põe Édouard, Caio e seus pais – e outros pais – frente a frente. Uma jornada de autodescoberta desse garoto, que em frente ao espelho tentou entender o que em seu corpo fazia com que os outros o chamassem de ‘viado’. Ele, agora, um homem, vai ao apartamento de seu pai, que não vê há muito tempo, e quando abre a porta se depara com alguém que não reconhece mais. Na impossibilidade de penetrar a solidão um do outro, eles se encontram em uma história marcada por intolerância, incomunicabilidade e resistência.

“Durante o processo, fiz um trabalho de interlocução artística com o cineasta argentino Manuel Abramovic, explicitei minha vontade de testar pais pra peça e o Manu falou que poderíamos levar isso pra dentro da peça. Adorei essa ideia como processo de busca desse pai, desses pais, dessas possibilidades de pais, tão distintos, tão parecidos, tão únicos – mas tão identificáveis nos clichês. A partir da audição, que ouviu 15 das mais de 100 pessoas inscritas, descobrimos novas possibilidades de caminho”, relembra Caio. “As pessoas compartilharam suas histórias com uma generosidade que nos impressionou, precisávamos fazer muito pouco para que se abrissem, claramente o assunto as mobilizava”, complementa Luisa.

A montagem apresenta diferentes histórias de relações de pais e filhos, e experimenta tipos de conexões possíveis onde, muitas vezes, as trocas perdem o contorno, mostrando assim o quão complexas são essas figuras. As projeções em vídeos complementam a cena, apresentando histórias variadas que vão da negligência e falta de carinho – temas tão comuns nas relações paternas – ao afeto dos pais presentes, que têm seus filhos como a coisa que mais amam no mundo.

“Cada vez que a gente encarava o que era singular em cada relação, mais o tema se abria. Num mundo onde o problema do homem autoritário, violento, embrutecido é tão presente, é difícil acreditar que possa existir algo diferente. Então, o desafio foi não deixar que essas histórias (as pessoais, a do livro e as das audições), em sua maioria bem difíceis, fossem conclusivas sobre o que é um pai. A gente quer que o pai tenha a possibilidade de reinvenção”, pondera Júlia Portes.

Ao longo do desenvolvimento da dramaturgia aglutinou-se na montagem todo material recolhido, levando toda a equipe a pensar o quão interessante e importante é refletir sobre esses papéis. Afinal, o que é ser pai e o que é ser filho? O que cabe a um e o que cabe a outro?

“Foi um processo mesmo de escuta. O livro foi essencial pra peça ser o que é, mas a peça que a gente queria não poderia ser o livro, que tem um gesto político tão forte e contundente. Descaracterizar essa obra seria perder o que ela tem de mais potente. Foi quando decidimos trazer o livro como um material de interlocução, de provocação, de interação, sem querer dar conta de dar vida a obra literária no palco. Não temos uma resposta, temos perguntas e desejos de fazer diferente, sempre”, provoca Caio.

Lucas Cunha diz que “o autor do livro fala que o livro dele é um cavalo de Tróia. Ele usa a relação com a sua família e a sua própria sexualidade como pano de fundo para tratar de questões como o ciclo da violência na nossa sociedade. Nós adaptamos histórias do livro entrelaçando-as com histórias do Caio, e essa mistura virou uma nova história, totalmente inventada. O livro Quem Matou Meu Pai virou o nosso cavalo de Tróia para tratarmos de assuntos que queremos falar”, pontua Lucas.

Para Luisa, entrar em contato com tantas histórias diminuiu muito o maniqueísmo do olhar. “Uma das belezas imensas de criar personagens é ter que humanizar o erro, tentar entender as motivações de alguém, e isso dificulta muito um processo de chegar a verdades absolutas, de achar que sabemos quem o outro é. Me sinto com o olhar mais fresco e disponível para as pessoas e suas contradições”, admite a diretora, enquanto uma das dramaturgas, Júlia, acrescenta que o maior entendimento sobre o tema foi o de não acachapar nem o pai, nem o filho.

“Tentamos mostrar que essa relação é infinita — e que os estereótipos, que categorizam e simplificam, nos ajudam pouco (ou nada) a inventar novos jeitos de convivermos e lidarmos com as dores e alegrias desse vínculo. Mas também nos sentimos sem saída: como falar de problemas relacionais já tão conhecidos por todos nós e, ainda assim, propor algo novo? Não exatamente uma solução, mas novos caminhos. No fim da peça, apontamos na direção desse novo, desse desconhecido — mas, aí, tem que assistir a peça”, conclui Júlia Portes.

SERVIÇO

  • Temporada: 17 de maio a 1º de junho de 2025
  • Horário: Sextas-feiras às 20h, Sábados e Domingos às 19h
  • Ingressos: R$ 20 (meia-entrada) / R$ 40 (inteira)
  • Link de vendas: https://riocultura.eleventickets.com/#!/evento/01844a8c4b9ba991a4cc8d98051b5758cf8dcb6e
  • Local: Espaço Cultural Municipal Sérgio Porto
  • Endereço: Rua Humaitá, 163 – Humaitá – Rio de Janeiro
  • Tel.: (21) 2535-3846
  • Classificação Indicativa: 14 anos
  • Duração: 90 minutos

FICHA TÉCNICA

PAPAIZINHO,

Uma peça de Caio Scot, Luisa Espindula, Lucas Cunha, Felipe Rocha e Júlia Portes

Em diálogo com a obra “Quem matou meu pai”, de Édouard Louis

  • Direção: Luisa Espindula e Caio Scot
  • Criação: Caio Scot, Luisa Espindula, Lucas Cunha e Felipe Rocha
  • Dramaturgia: Caio Scot, Luisa Espindula, Lucas Cunha, Felipe Rocha e Júlia Portes em diálogo com a obra “Quem matou meu pai”, de Édouard Louis
  • Intérpretes: Caio Scot e Felipe Rocha
  • Direção videográfica: Lucas Cunha
  • Interlocução artística: Manuel Abramovic
  • Direção de movimento: Romulo Galvão
  • Iluminação: Lina Kaplan
  • Cenário: Elsa Romero
  • Figurino: Bruno Perlatto
  • Trilha sonora: Felipe Rocha e James Lau
  • Desenho de som: Gabriel D’Angelo
  • Música original “Um troço | Um fóssil”: Letra e música: Felipe Rocha

Música original “Um novo Big Bang”: Música: Felipe Rocha e Jonas Sá | Letra: Caio Scot, Felipe Rocha, Jonas Sá, Lucas Cunha e Luisa Espindula | Produção musical: Jonas Sá | Mixagem: Duda Mello | Músicos: Felipe Rocha – Fender Rhodes, Guilherme Lírio – Baixo e Guitarras, Jonas Sá – Sintetizadores e MPC, Pedro Fonte – Bateria

  • Preparação Vocal: Junio Duarte
  • Cenotécnico: Dodô Giovanetti
  • Assistente de cenografia: Mariana Marton
  • Assistente de figurino: Evelyn Cirne
  • Direção de fotografia audições: Fausto Prieto
  • Captação de som audições: Dudu Falcão e Pedro Falcão

Elenco audições: Cristina Amadeo, Daniel Almeida, Danilo Canindé, Dudu Falcão, Glaucio Gomes, Hélia Braz, Jojô Rodrigues, Jota Santos, Júlia Portes, Lívia Feltre, Murilo Sampaio, Nely Coelho, Rodrigo Trindade, Ulysse Gallier, Valdemy Braga, Vinicius Teixeira, Vinicius Volcof

  • Fotógrafa: Annelize Tozetto
  • Design gráfico e pinturas: Leandro Felgueiras
  • Assessoria de imprensa:  Marrom Glacê Comunicação
  • Produção: Caio Scot, Nely Coelho
  • Produção executiva: Nuala Brandão
  • Realização: CAJU
  • Idealização: Caio Scot

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