Instituto Cultural Pena Máxima prepara artistas populares e profissionais para filmes e séries

O projeto já capacitou mais de mil pessoas que hoje exercem funções de ator, atriz, roteiristas e produtores 

 

COMO TUDO COMEÇOU?

Após passar sete anos e dez meses preso, Gilson Camilo de Oliveira deixou a Penitenciária Dr. Serrano Neves, no Complexo de Gericinó, no fim de 2011. Naquele momento, havia dedicado quase duas décadas de vida à prática de crimes: acumulava anotações por roubo, furto, falsidade ideológica, estelionato, lesão corporal, tráfico de drogas e receptação. O rapaz, entretanto, saiu de Bangu, na Zona Oeste do Rio, com um destino certo para mudar seu futuro: Estácio, na Região Central da cidade, onde se matriculou num curso de canto.

De lá para cá, Gilson aprendeu também direção e produção de elenco, participou de filmes, séries, e criou o Instituto Pena Máxima, projeto social que acolheu e capacitou, nos últimos quatro anos, mais de mil pessoas para também mudarem de vida por meio da arte. A maioria dos alunos se envolveu com a criminalidade e teve no audiovisual uma oportunidade de recolocação profissional. Outros são oriundos de áreas carentes e também almejam criar uma carreira através da arte. O coletivo de atores, como Gilsinho gosta de chamar o trabalho, abriga atores e atrizes de todas as idades, sem distinções, com e sem DRT e que querem crescer através da arte.

Gilsinho, o criador do Instituto Cultural Pena Máxima, cresceu no Morro do São Carlos e via os vizinhos roubando. “Tive uma infância muito difícil, morava no alto do Complexo do São Carlos, em uma casa simples de quarto e sala com meus pais e meus três irmãos. Passamos muita dificuldade, meu pai bebia e batia na minha mãe. Eu não conseguia me concentrar nas aulas e acabei repetindo a 3ª série cinco vezes, convivia com trocas de tiros. Acabei optando pelo caminho errado. Mas hoje posso dizer que sou a prova de que a arte transforma e salva vidas”, garante ele.

 

Filho de um compositor e sambista e de uma doméstica que atuava como baiana na escola de samba Estácio de Sá, Gilson é o primogênito de dois homens e uma mulher. Aos 13 anos, ele diz ter começado a notar vizinhos mais velhos roubando e desmanchando motos. Começou ajudando com pequenos favores e acabou cedendo aos maus exemplos, e que roubou o primeiro carro ainda na adolescência, mas hoje já tem um currículo vasto entre filmes e séries, e esta no elenco, com um personagem de destaque, na série “O Jogo que Mudou a história” no Globoplay.

 

“Gilsinho da Maia é o retrato da vitória da superação” para a autora, diretora e produtora Raíssa de Castro, que trabalhou com ele no longa-metragem “Rocinha, toda história tem dois lados”.

“No filme, tive a oportunidade de utilizar 90% da mão de obra local, para contar, na perspectiva de uma criança, como é a rotina da comunidade. Montei uma companhia sem padrões, com brancos, negros, magros, gordos, velhos, novos, e pude perceber que as pessoas só querem ter uma chance de atuar. Infelizmente, os cursos nessa área são caros e muitos não têm a chance de conseguir pagar”, relata.

 

Braço direito de Gilson no Instituto Pena Máxima, Joelson de Oliveira, de 46 anos, já trabalhou como office boy, pintor de carros, corretor de seguros e camelô. Recentemente, ele fez o papel de um mototaxista na última temporada de “Arcanjo Renegado”, do Globoplay. “Como nós, lá atrás, não tivemos uma oportunidade, tentamos hoje oferecer isso aos menos favorecidos. Sabemos que têm talento por aí, mas a maioria desses atores não conseguem ser reconhecidos. E, imagina para os que saem da prisão? Com essa garra, esse desejo de atuar? De mudar de vida. Tudo fica ainda mais difícil. Nosso trabalho é justamente ajudar a resgatar essas pessoas. E, também dar a oportunidade para os que tem talento de terem a chance de desenvolver um trabalho e poder atuar em filmes, séries, novelas, etc.”, pontua.

INSTITUTO CULTURA PENA MÁXIMA

Sem patrocínio, sem leis de incentivo, sem sede própria, mas com a garra de Gilsinho da Maia, Joelson Oliveira, e demais colaboradores, o projeto atualmente é realizado no Casarão da Glória, na Ladeira da Gloria, na Zona Sul do Rio.  São aulas práticas, com cenas de improviso, aulas de cenas de ação, meditação, e todas registradas em vídeo para acervo.

Entre os alunos, do Coletivo de atores, alguns que já destacaram em mega produções como atores que fizeram parte do elenco do filme ‘Cidade de Deus’, que rodou o mundo, atores que já estiveram no elenco de novelas da Globo, e em séries como A Divisão, Arcanjo Renegado, O Jogo que Mudou a história, Impuros, entre outras produções.

 

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