Isadora Ruppert,: atriz de sorte e que sabe o que quer

Amanda Aguiar

Isadora Ruppert participa do filme “O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho, que estreia nos cinemas brasileiros no dia 6 de Novembro. O longa, produzido por Emilie Lesclaux e CinemaScópio, estreou mundialmente no 78º Festival de Cannes, em 18 de maio de 2025, na Seção de Competição Oficial e participou de outros festivais importantes, incluindo Telluride , Toronto  e Festival de Brasília. “A expectativa para a estreia de O Agente Secreto no Brasil é grande, estou muito animada”, revela Isadora. “Acredito profundamente na força desse projeto. É um filme necessário. Um filme sobre o Brasil, sobre a nossa história recente, sobre memória e poder. Ele provoca, questiona, incomoda e, ao mesmo tempo, é profundamente envolvente do ponto de vista estético e narrativo.”

Isadora estava presente no momento da premiação no Festival de Cannes, quando Wagner Moura –Melhor Ator- e Kleber Mendonça Filho- Melhor Direção receberam os prêmios por “O Agente Secreto”. Ela descreve a experiência como inesquecível: “Foi incrível aquele grande público, na França, celebrando os prêmios brasileiros. A forma como o nosso cinema é admirado lá fora me emocionou muito. Me senti honrada de estar ali, não só como atriz do filme, mas como uma brasileira, representando um país que eu amo profundamente”. Para ela, o reconhecimento internacional reforça a importância de continuar contando histórias brasileiras com coragem e sensibilidade. “O mundo está atento ao que produzimos. Nosso cinema tem potência, tem voz, tem alma”, diz.

Isadora participou também do longa “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar 2025 na categoria Melhor Filme Internacional, como Laura Gasparian. Dessa vez é Daniela, em “O Agente Secreto”, que foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026 “É meio surreal presenciar isso. Sempre sonhei em fazer um filme que chegasse ao Oscar, mas nunca imaginei que isso aconteceria tão rápido, aos 26 anos. É muita sorte”, confessa.

Amanda Aguiar

No cinema, Isadora, esteve também em “Medusa”, no papel de “Dani”, de Anita Rocha da Silveira, que estreou em Cannes, em 2021, na Quinzena dos Realizadores. Na TV, estará no elenco da série “BR 70”, da Netflix, ainda inédita. E, recentemente, a atriz marcou presença na reabertura do Teatro Glaucio Gil, espaço que admira e reconhece a importância do movimento artístico que vem ali se consolidando. Integrou o elenco da peça “Cabaré TV,” dirigida por Christina Streva e Juracy de Oliveira, em que contracenou com Gilberto Gawronski. Com sua companhia, a “Má Companhia de Teatro”, Isadora esteve em cartaz no mesmo teatro, no início de 2025, com a peça “Ainda Sou Circo”, dirigida por Gabrielly Vianna, em que interpretou o personagem Nino. Entre os projetos em andamento da Companhia ,está a peça “Dia de Jogo” que deve retornar aos palcos em breve.

Isadora tem uma sólida trajetória no teatro. Iniciou sua formação aos 11 anos com Cacá Mourthé, nas aulas do Teatro O Tablado e, desde então, participou de diversas montagens. Entre os destaques, está a peça “O Cálice”, livremente inspirada no filme Em Busca do Cálice Sagrado, do grupo britânico Monty Python, que foi indicada, ao prêmio APTR, na categoria “Jovem Talento”, em 2023. Isadora destaca a importância de Cacá Mourthé em sua trajetória. “A Cacá foi minha primeira professora de teatro, me ensinou não só a atuar, mas também a ter compromisso com o meu ofício, Ela se tornou uma grande amiga e me ensinou a ser uma pessoa de teatro”, declara.

Outra presença marcante em sua formação foi o diretor Eduardo Milewicz, “O Eduardo, que ministra o curso “Quando Acende a Câmera”- me ensinou a fazer os ajustes necessários para atuar diante das câmeras. Sempre tive essa paixão pelo cinema, e atuar para o audiovisual sempre foi um sonho. Ele foi essencial nesse processo de transição dos palcos para o set”.  A atriz também cita a fonaudióloga Adriana Micarelli com quem aprendeu o quanto a voz é um dos instrumentos mais importantes para o ator, fundamental para aperfeiçoar o trabalho diante das câmeras.”

Isadora marca presença nas redes sociais, onde apresenta o quadro “Pequenas Epifanias”, ao lado da amiga Beatriz Adler, escritora e psicóloga. No projeto, Beatriz assina os textos, enquanto Isadora dá vida às palavras com interpretações bem-humoradas e descontraídas que já ultrapassaram a marca de 300 mil visualizações. Mais do que entretenimento, Isadora enxerga o quadro como uma forma de manter-se ativa na atuação, divulgar seu trabalho artístico e abordar, com leveza e sensibilidade, temas que fazem parte da sociedade contemporânea.

Além de ter cursado o Teatro O Tablado por mais de 10 anos, Isadora também é graduada em Artes Cênicas pela Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO). “Poder estudar em uma universidade pública foi de extrema importância para minha carreira. Lá, conheci amigos que partilhavam e defendiam as mesmas ideias que eu. Pessoas que, assim como eu, batalham todos os dias para viver de arte neste país”, declara. Em 2017, Isadora começou a dançar Maracatu de Baque Virado no bloco Tambores de Olokun e, a partir daí, seus laços com Recife começaram a se estreitar, e seu desejo de trabalhar com Kleber Mendonça Filho já aumentou.

Kleber já era uma grande referência para Isadora.  “A primeira vez que vi um filme dele, Recife Frio, eu tinha 14 anos. Cheguei louca em casa, encantada. Minha mãe sentou comigo no computador e, juntas, pesquisamos quem era o diretor. Fiquei extasiada e comecei a acompanhar seu trabalho de perto. O Kleber tem um olhar muito preciso sobre o país. Ele consegue transformar questões complexas em cinema de altíssimo nível, com personalidade e coragem. O Agente Secreto” é, sem dúvida, mais uma grande contribuição dele para o nosso cinema e tenho muito orgulho de fazer parte disso.”

A relação de Isadora com a temática de “O Agente Secreto” vai muito além da ficção. Ela carrega, em sua própria história, as marcas dos anos sombrios da ditadura militar no Brasil: “Minha avó foi perseguida pela ditadura. “O Agente Secreto” é o segundo filme que faço que se passa nesse período, e eu sinto isso quase como uma missão. Minha foi perseguida por mais de 20 anos. Ela tinha uma companhia de teatro de bonecos em Curitiba e teve que abandonar tudo para se esconder”.

Isadora faz dessa memória familiar um combustível para sua arte. “Quando estou em um projeto que é ambientado nesse período, sinto que estou também contando a história da minha família, e de tantas outras famílias brasileiras que viveram traumas parecidos. Não é só um papel, é algo que atravessa”, declara .

https://www.instagram.com/isaruppert/?hl=pt-br

Related posts

Petrobras celebra 30 anos de incentivo ao cinema nacional em campanha com Rodrigo Santoro

Após sucesso na Globo, Pedro Goifman estrela dois filmes na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Festival Internacional de Cinema Canábico estreia no Brasil com mais de 40 filmes de diversos países