Com quase 50 anos dedicados à Literatura Brasileira, Éle Semog lança o Todo Preto, um compilado poético de 1977 a 2020. Certamente, Éle Semog é um dos nomes mais importantes na consolidação da Literatura Negra no Brasil, uma das frentes de luta do movimento negro brasileiro, publicando e contribuindo no campo literário ininterruptamente nas últimas décadas.
Semog participou dos grupos Garra Suburbana e Bate-Boca, empenhados no enfrentamento à ditadura militar nos anos de 1970 e fundou em 1984, no Rio de Janeiro, o grupo Negrícia – Poesia e Arte de Crioulo.
Semog explica que Todo Preto foi editado com ênfase nos temas que tratam da exploração humana, intrínseca na relação trabalho-capital, incluindo aí, o trabalho de africanos e seus descendentes escravizados por quase quatro séculos no Brasil e do proletariado. Os poemas selecionados obedecem a uma ordem cronológica, o que possibilita ao leitor perceber a consonância entre os enredos de cada período.
O poeta e crítico literário Sílvio Roberto Oliveira, professor da Universidade do Estado da Bahia, observa que Todo Preto “não é uma reunião da produção de um poeta, mas um encontro que desinquieta, a marcação criativa de tempos históricos e literários que renascem a cada imagem; uma obra fundamental para a compreensão de vieses do movimento literário negro brasileiro do fim do século XX a esta década do século XXI, e que apresenta aspectos estéticos e criativos enriquecidos pelos pasmos das paixões e pela mordacidade irônica crítica e necessária”.
Éle Semog coordenou o segundo e o terceiro Encontro de Poetas e Ficcionistas Negros Brasileiros (década de 80) e coordenou o setor de literatura do projeto “90 anos de Abolição da Escravatura”, realizado no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro. Foi Assessor do Senador Abdias Nascimento e Conselheiro Executivo do Instituto Palmares de Direitos Humanos; atualmente é presidente do Centro de Articulação de Populações Marginalizadas – CEAP. Em 2006 lançou Abdias Nascimento: o griot e as muralhas em coautoria com Abdias do Nascimento (Ed. Pallas).
No começo da carreira literária, Semog escreveu o clássico poema Ponto Histórico, onde afirma: “Não é que eu seja racista, mas existem certas coisas que só os negros entendem. Existe uma marca no peito que só nos negros se vê; existe um sol cansativo que só os negros resistem”. Todo Preto além de ser um paradigma das múltiplas estéticas da Literatura Negra, é um desfile de signos que, conforme o autor sempre enfatiza, fortalecem o combate ao racismo, empodera a autoestima de jovens negros e amplia as múltiplas formas de fortalecimento da democracia.