Com abertura em 7 de maio e visitação até 8 de junho, a exposição Leste do Éden será realizada simultaneamente nas galerias Estação e Millan. A mostra, que tem curadoria de Antonio Gonçalves Filho, reúne 35 trabalhos de três ícones da pintura de diferentes gerações: os brasileiros Júlio Martins da Silva (1893–1978), Paulo Pasta (1959) e o uruguaio Pedro Figari (1861–1938). Na Galeria Estação estarão expostas 17 telas: cinco de Júlio, quatro de Figari e oito de Pasta. Na Millan, o público terá acesso a 18 trabalhos: cinco de Júlio, quatro de Figari e nove de Pasta.
“Guiados pelo olhar de Antonio Gonçalves Filho estamos realizando essa mostra para celebrar mais uma parceria com a Galeria Estação, que agora completa 20 anos de atuação no mercado. O tema da paisagem e do exílio é o fio condutor desse encontro entre Figari, Júlio e Paulo Pasta, três pintores que captaram o mundo e o interpretam através da cor”, afirma Socorro de Andrade Lima, sócia-diretora da Millan.
Para o curador Antonio Gonçalves Filho, a nova mostra, Leste do Éden, é um convite à percepção de que Júlio, Pasta e Figari têm em comum o sentimento de exílio simbolizado no título da exposição, que faz referência a um território bíblico chamado Nod, habitado por Caim após matar seu irmão Abel. Viver em Nod, “a leste do Éden”, seria uma espécie de punição, e a sobrevivência às diferentes formas simbólicas de exílio, explica o curador, é um traço que se manifesta de forma nítida nas paisagens transfiguradas que compõem a exposição – algumas vezes idílicas, caso das telas de Júlio, outras vezes alegóricas, como nas pinturas de Figari, ou atmosféricas, caso das criações que remetem a memória afetiva de Pasta.
“O projeto nasceu em torno da figura de Paulo Pasta, que exatamente há 40 anos fez sua primeira exposição individual mostrando paisagens dos canaviais de sua terra natal, Ariranha, no interior de São Paulo. De algum modo, essas paisagens eram rememorações, como se esses lugares não estivessem mais disponíveis para serem pintados. Deu-se o mesmo com Pedro Figari quando foi para o exílio parisiense e tentou pintar a paisagem dos pampas do Uruguai. Ficaram apenas vagas lembranças de sua terra natal. Com relação a Júlio Martins, a questão se tornou ainda mais radical. Para alguém que perseguia a perfeição, a paisagem da favela lhe era insuportável, o que fez o pintor buscar um mundo idealizado por meio da pintura”, explica Gonçalves Filho, que é também diretor cultural da Millan.
Para Vilma Eid, sócia-fundadora da Galeria Estação, a realização dessa nova parceria é um dos pontos altos dos eventos comemorativos de duas décadas de atuação do cultuado espaço criado no final de 2004 por ela e Roberto Eid Philipp.
“Há tempos Roberto e eu desejávamos repetir um projeto de exposição conjunta. Desta vez, generosamente nossos amigos da Millan, Socorro e André, trouxeram o Antonio Gonçalves Filho para a curadoria, e ele teve a maravilhosa ideia dessa mostra simultânea, lá é cá, com três artistas que amamos: Júlio Martins da Silva, Paulo Pasta e Pedro Figari, pintor uruguaio que teve trabalhos gentilmente cedidos pela Galería Sur, de Punta del Este. Quanta beleza e quanta ousadia!”, comemora.
Praticamente equânime, a divisão de trabalhos expostos na Galeria Estação e na Millan, que se encontram uma da outra a uma curta distância de 2km, é também um convite ao público para uma experiência de complementaridade das proposições poéticas e subjetivas de Leste do Éden.
“As exposições, simultâneas, foram pensadas para que cada um dos aspectos mencionados sobre a pintura dos três artistas possa ser conferido com a associação imediata da ligação entre eles. De certo modo, Figari, um brilhante advogado e escritor que foi amigo de Bonnard, Marquet, Léger e Picasso nos anos 1930, em busca da sua identidade latina em Paris, foi buscar no passado uruguaio elementos para entender o presente modernizador da França pós-impressionista, assim como Pasta, que teve igualmente contato com os mais brilhantes pintores, especialmente Iberê Camargo, e tenta construir uma paisagem contemporânea sem renegar as origens e a tradição pictórica. Júlio, que começou a vida na roça, logo procurou um professor quando começou a pintar, aos 29 anos de idade, adotou o culto luterano e aprendeu a ler só para ter acesso à grande poesia e reconstruir o paraíso a seu modo. A ligação dos três pintores com a literatura é visível nas duas exposições. Ambas se complementam com obras que formam uma suíte em que cada pintura autônoma acaba formando esse grande painel poético sobre a paisagem”, conclui Gonçalves Filho.
Em relação à primeira exposição conjunta da Estação e da Millan, Quase Figura, Quase Forma, ocorreu entre agosto e outubro de 2014. Com curadoria do crítico Lorenzo Mammì, a união das duas galerias, que representam artistas distintos – expoentes da produção reconhecida como popular e da temática contemporânea – enfatizou possíveis diálogos entre essas duas vertentes por meio de nomes como Alcides Pereira dos Santos, Amadeo Lorenzato, Ana Prata, Aurelino dos Santos, Cícero Alves dos Santos (Véio), Fabio Miguez, Felipe Cohen, João Cosmo Felix (Nino), João Francisco da Silva, José Bezerra, Marina Rheingantz, Neves Torres, Paulo Monteiro, Paulo Pasta, Sebastião Theodoro Paulino (Ranchinho), Sergio Sister e Tatiana Blass.
Galeria Estação
Inaugurada no final de 2004 por Vilma Eid e Roberto Eid Philipp, a Galeria Estação consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não-erudita, com atuação decisiva para a inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco da Estação também conquistou a cena internacional ao participar, entre outras, das exposições Histoire de Voir, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain (França), em 2012, e da Bienal Entre dois Mares – São Paulo | Valencia, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual de Veio – Cícero Alves dos Santos, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013. No Brasil, os artistas da galeria também têm suas obras em acervos de importantes colecionadores e de instituições de grande prestígio e reconhecimento, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu Afro Brasil (SP), o Pavilhão das Culturas Brasileiras (SP), o Instituto Itaú Cultural (SP), o SESC São Paulo, o MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR, na capital fluminense.
Millan
Fundada em 1986, a Millan se consolidou como referência nacional por fomentar a potência de cada artista, posicioná-lo dentro do mercado internacional e apoiar sua participação em grandes exposições. A galeria trabalha com artistas em ativa produção, incluindo Alex Červený, Daiara Tukano, Henrique Oliveira, Maya Weishof, Miguel Rio Branco, Nelson Felix, Paulo Pasta, Peter Halley, Tatiana Blass e Vivian Caccuri, além de espólios consolidados como os de Tunga, Jaider Esbell e Feliciano Centurión. Os sócios André Millan e Socorro de Andrade Lima dividem a direção do espaço com João Marcelo Andrade, Hena Lee, Camila Siqueira e Antonio Gonçalves Filho. A galeria foi expandida em março de 2023 com um terceiro espaço expositivo, também na rua Fradique Coutinho, situado no nº 1.430.
SERVIÇO
Exposição Leste do Éden
De 7 de maio a 8 de junho de 2024
Abertura simultânea na Galeria Estação e na Millan em 7/5, terça-feira, das 18h às 21h.
Galeria Estação
Rua Ferreira Araújo, 625 – Pinheiros, São Paulo
De segunda a sexta, das 11h às 19h. Aos sábados, das 11h às 15h.
Entrada gratuita
Millan
R. Fradique Coutinho, 1.430 – Pinheiros, São Paulo.
De segunda a sexta, das 10h às 19h. Aos sábados, das 11h às 15h
Entrada gratuita