Livro investiga falsas notícias que influenciaram a memória coletiva em torno da morte do Rei Dom Sebastião

Obra "Reconhecimento do cadáver de dom Sebastião" (1886), de Caetano Moreira da Costa Lima. [📷Divulgação/Museu Nacional de Soares dos Reis - Porto, Portugal]

Dom Sebastião não vai voltar. O mito que acompanha os últimos quatro séculos da história de Portugal é refutado em pesquisa minuciosa de André Belo, apresentada no livro Morte e Ficção do Rei Dom Sebastião, lançamento de novembro da Tinta-da-China Brasil.

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Tudo começou em 1578, quando o jovem rei Dom Sebastião partiu com cerca de 17 mil homens para uma guerra em Alcácer Quibir, norte da África, e de lá não voltou. O país não só foi derrotado na batalha, como passou a sofrer uma crise de sucessão da Coroa. Nesse momento surgiram rumores de que Dom Sebastião não teria sido encontrado morto, e por isso poderia voltar. Nasceu, então o mito de que o monarca retornaria, para a glória de seu país.

Se até na Copa do Mundo de 2022, com a derrota de Portugal para Marrocos nas quartas de final, esse acontecimento histórico voltou aos holofotes da imprensa, é porque o “sebastianismo” é um dos principais temas do nacionalismo português, que já inspirou poemas e textos de Fernando Pessoa e reverberou em outros países lusófonos, por exemplo, em ideias messiânicas brasileiras.

Em um ensaio que se deixa ler como história de detetive, André Belo vem ser o estraga-prazeres para quem gosta de boatos, rumores e fake news. Seu estudo se debruça sobre os fatos que comprovam a morte do rei, em 1578, e as cerimônias fúnebres que se seguiram, numa autópsia desse importante acontecimento da história portuguesa.

Mesmo sem haver dúvidas sobre tais rituais de oficialização, o historiador reconhece a força do mito e dos boatos e se lança em uma investigação que, além de minuciosa, permite entender as entranhas da Europa de fins do século XVI. Belo recupera documentos de diferentes arquivos de Portugal, Espanha, França e Itália para reconstituir o mais célebre caso de impostura em torno do “sebastianismo”: a alegação de um italiano da Calábria de que seria ele próprio o rei. O falsário contou com apoio de partidários, inúmeras viagens e intensas trocas de cartas e negociações entre Estados.

Como afirma o historiador francês Roger Chartier na orelha da edição brasileira de Morte e Ficção do Rei Dom Sebastião, “ao desmontar com engenho as dissimulações e ingenuidades do impostor, os motivos de suas confissões ou obsessões, as convicções, mas também as hesitações de partidários do falso Dom Sebastião, André Belo sublinha o papel decisivo das poderosas máquinas de convencimento na construção das identidades nacionais”.

 

Morte e Ficção do Rei Dom Sebastião

Editora: Tinta-da-China Brasil
Autor: André Belo
Apoio: DGLab

288 páginas | 16 x 23 cm | R$ 90 | Lançamento: novembro 2023

 

 

*Conteúdo produzido com informações da assessoria de imprensa. 

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