Livro juvenil resgata mito indígena que convida a refletir sobre as diferentes expressões de gênero

Reconto de narrativa dos Uanana, do Amazonas, Moça-retrato-da-lua oferece uma visão metafórica de encontros e desencontros possíveis no mundo dos afetos

por Redação
Moça-retrato-da-lua

Lançamento ocorreu no Dia Internacional dos Povos Indígenas, 09/08, sábado, data promovida pela UNESCO, na Travessa do Shopping Leblon com um bate-papo com a autora e o ilustrador.

Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou a Década das Línguas Indígenas entre 2022 e 2032

Maria Inez

Maria Inez

Moça-retrato-da-lua, de Maria Inez do Espírito Santo, com aquarelas de André Côrtes, é o reconto de um mito recolhido entre os Uanana, um grupo indígena que habita o noroeste do Amazonas, mais precisamente as áreas indígenas Alto Rio Negro, Médio Rio Negro I e Yauareté I, onde hoje se situa o município de São Gabriel da Cachoeira, cidade mais indígena do Brasil, com 23 etnias diferentes, na tríplice fronteira do Brasil com a Colômbia e a Venezuela.

Sendo um mito — e, com isso, escapando à linearidade e à busca por sentido de narrativas oficiais — a história da jovem uanana é um convite para que jovens leitores penetrem nas zonas inexplicáveis que são nossas experiências coletivas, forjadas por encontros e desencontros, por mistérios e ambiguidades, por atrações e idealizações. Um território onde a noção dualista de gênero não se aplica, como ocorre — ou fingimos que ocorre — na superfície cotidiana.

O referido mito indígena narra que, em uma aldeia, havia uma moça tão linda, tão linda que era comparada ao esplendor da lua cheia. Além da beleza, tinha outros atributos encantadores. Era alegre, divertida, amável. Os rapazes da aldeia, arrebatados, ansiavam pelo momento em que ela escolheria seu parceiro. Mas essa moça era diferente das outras. Não falava de namoro ou de casamento. E, apesar de muito expansiva, mantinha em si certa aura de enigma. Que tipos de mistério ela esconde? Ainda hoje, muito tempo depois de começar a circular, atravessando gerações, a história da menina que é um retrato da lua perturba e encanta exatamente pelo que tem de enigmática e onírica, arisca e contraditória. No bojo de todos esses mistérios, uma questão universal e pulsante, que ainda gera inquietação e emoções nem sempre claras: a pluralidade de expressões de gênero.

Voltado para jovens a partir de 13 anos, o livro apresenta ainda um glossário e uma série de perguntas que podem ser usadas como forma de desdobrar a leitura em conversas, curiosidades e outras histórias.

André Côrtes

André Côrtes

Com a delicadeza singular da escrita de Maria Inez do Espírito Santo, Moça-retrato-da-lua é uma narrativa grávida de sentidos e possibilidades, que intriga e convida não à reflexão, mas justamente à potência do encontro que ocorre nas brechas da compreensão e da lógica. Uma história que passeia pelos interstícios dos sentimentos mais ocultos, pelas facetas inapreensíveis e improváveis que são, também, base fundamental de nossa existência humana. As aquarelas de André Côrtes enfatizam ainda mais a intensidade desse universo que flerta com o inconsciente e com o mistério, com o campo da magia e do sonho — mas também da sensualidade, que é, afinal, força-motriz de nossa vida em comum.

Como apregoa Daniel Mundurku, na quarta capa do livro, “Moça-retrato-da-lua nos revela como a Tradição é também uma Contradição, assim como a vida, assim como a morte”.

TRECHO
Chegando ali, ela se sentou em uma grande pedra e, com o rosto voltado para o alto, parecia mirar a lua, que, naquele momento, brilhava no céu com soberania sem par. Aquela visão era de tal forma harmoniosa e repleta de esplendor, que os rapazes foram chegando mais e mais perto, como que atraídos por um magnetismo incontrolável. Então, perceberam que o rosto da moça ia se transformando, pouco a pouco, e se tornando incrivelmente semelhante à face da lua, tal qual um reflexo, uma projeção saída de dentro de um grande espelho intangível.

OS AUTORES

Maria Inez do Espírito Santo é educadora, terapeuta cultural e escritora. Foi fundadora e diretora da Escola Viva (Petrópolis-RJ, 1974-1989), instituição de ensino que ia da creche à formação de professores, pioneira no trabalho que se conhece, atualmente, como de inclusão. Criou posteriormente o Centro Cultural Viva, que funcionou em Petrópolis-RJ, com sede atualmente em Nova Friburgo-RJ. Como contadora de histórias, tem levado as histórias dos antigos – acervo oral dos povos originários – a todas as regiões brasileiras, além de a Portugal, à Inglaterra e à Espanha. É autora de inúmeros livros infantojuvenis. E, também, do livro, para adultos, Vasos sagrados – mitos indígenas brasileiros e o encontro com o feminino, sucesso de publicação da Editora Rocco.

André Côrtes é artista plástico, ilustrador e professor. Encontra na aquarela fonte fecunda de inspiração e aprofundamento. Seus trabalhos têm como principal inspiração a vida na natureza, suas encantarias e seus mistérios. André mergulha nesses temas em busca de pontes que possam tornar mais próximos consciente e inconsciente.

Título: Moça-retrato-da-lua
Escritora: Maria Inez do Espírito Santo
Ilustrador: André Côrtes
Texto de quarta capa: Daniel Munduruku
Público-alvo: a partir de 12/13 anos
Páginas: 48
ISBN: 978-65-84652-36-1
Dimensões: 13,5 x 20,5cm
Preço: R$ 60,00

Site: www.editorarebulico.com.br
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