Como qualquer arte, o cinema é uma produção que forma e é formada pelo momento histórico. “Rússia, Ucrânia e o Cinema em Tempos de Guerra”, do professor da UnB João Lanari Bo, investiga como o cinema dos dois países representam o atual conflito e a sociedade deles no presente. O livro já está disponível na Amazon, e no site da editora Confraria do Vento e Livraria da Travessa.
“Os filmes, seja documentário ou ficção, têm muito a dizer sobre o conflito Rússia-Ucrânia. São testemunhos de situações particulares, vivências das pessoas desses países. Oferecem um quadro distinto da cobertura midiática sobre o assunto, enfim, trazem conhecimentos novos sobre essa realidade tão distante do Brasil”, explica João, que já publicou, também, um livro sobre cinema russo, “Cinema para Russos, Cinema para Soviéticos” (Bazar do Tempo, 2019).
Trazendo uma série de artigos que o professor escreveu ao longo dos anos sobre os cinemas desses dois países, a coletânea faz um amplo painel da produção audiovisual deles no período anterior ao conflito e no presente. O recorte para a escolha dos textos leva em conta não apenas opções estéticas, como também a possibilidade de acesso aos filmes.
“A seleção orientou-se por filmes que tivessem direta ou indiretamente, referência às guerras – as diversas guerras no século 20 que culminaram na atual guerra da Ucrânia, no século 21, e também às guerras culturais que ocorreram – e ocorrem – na Rússia contemporânea”.
O livro apresenta análises de obras de cineastas como Aleksándr Dovjénko, Aleksei German, Nikita Mikhálkov, Aleksándr Sokúrov, Kiríll Serébrennikov e Andrei Zviáguintsev. É de um longa de Zviáguintsev, “Leviatã”, que vem a imagem da capa do livro. “Esse filme, de 2014, é fundamental no cinema russo contemporâneo. Ele foi alvo de um intenso debate no seu país quando do lançamento, um debate que podemos caracterizar como guerra cultural.”
Colocando em perspectiva, as produções russas e ucranianas contemporâneas, João aponta que existe uma relação dos cineastas com o cinema russo clássico, objeto do livro anterior do professor. “O cinema soviético clássico é um marco indiscutível na história do cinema mundial, naturalmente os cineastas dessa região são bastante conectados com esse passado – são uma continuidade, mas também uma novidade, na medida em que abordam novos temas e situações.”
Uma guerra como a que acontece entre a Rússia e a Ucrânia tem, como não poderia deixar de ser, raízes profundas, de difícil apreensão quando vista de longe, como é o caso do Brasil. São quase quatro anos de guerra com cobertura diária da mídia. O cinema, por sua vez, fala sobre a guerra a partir de aspectos próximos a essas raízes, próximos a pessoas que vivem esse drama diariamente. O projeto do livro “Rússia, Ucrânia e o Cinema em Tempos de Guerra” visou exatamente isso, pesquisar filmes e cineastas, russos e ucranianos, que tenham algo a dizer sobre as repercussões sociais e humanas desse trágico evento.
Hoje, a representação da guerra no cinema tornou-se uma arena de combate entre as percepções russa e ucraniana do conflito. A produção ucraniana, a despeito das dificuldades de realização, por razões óbvias – como fazer um filme com o país em guerra? – logrou resultados expressivos, carregados de intensidade histórica. Na Rússia, os cineastas estão divididos quanto a apoiar ou não a invasão do país vizinho, enquanto na Ucrânia a atividade cinematográfica integrou-se à resistência contra o invasor.
Com linguagem acessível, e amplamente ilustrado, “Rússia, Ucrânia e o Cinema em Tempos de Guerra” é um livro acessível para todos os públicos, e que ajuda a jogar luz em um dos conflitos mais marcantes da atualidade. “A pretensão do livro é oferecer uma espécie de navegação nessas cinematografias, no sentido digital do termo. E estimular as pessoas que venham a se interessar em assistir esses filmes.”
Serviço
“Rússia, Ucrânia e o Cinema em Tempos de Guerra”
Autor: João Lanari Bo
Editora: Confraria do Vento
Páginas: 332
Preço: R$ 149
Onde comprar: Amazon, Confraria do Vento e Livraria da Travessa
Império ou nação? Os historiadores da epopeia russa se debruçam sobre esse impasse: em 1991, cai o império soviético, a experiência mais ousada, para o bem e para o mal, de governabilidade comunista, em um território ainda maior que o império tsarista, rodeado por repúblicas soviéticas vassalas e subservientes. O cinema, espaço de representação dos sujeitos da História – a população, o Estado –, é um palco privilegiado, onde se expõem as negociações em torno dessa procura pela identidade nacional moderna. Depois de mais de 20 anos sob o comando de Vladímir Putin, aquecido por uma guerra ousada e cruel com o país vizinho, a Ucrânia, a dúvida continua: nação ou império pós-soviético?
João Lanari Bo
João Lanari Bo é professor do curso de audiovisual da UnB. Publicou “Cinema Japonês: Filmes, Histórias, Diretores” (Ed. Giostri, 2016) e “Cinema para Russos, Cinema para Soviéticos” (Ed. Bazar do Tempo, 2019).
