“Presença”, estreia na direção de um longa metragem, de Erly Vieira Jr, que também assina o roteiro, foi selecionado para a Mostra competitiva do LGBTQIA+ Festival no Rio de Janeiro e será o filme de abertura do Festival de Cinema de Vitória, na competição oficial. Produzido pela Ladart Filmes, sediada em Vitória e com distribuição da Livres Filmes, o filme tem estreia nacional marcada para o dia 1 de agosto.
“Presença” é um documentário em longa-metragem sobre três artistas afro-brasileiros, atuantes no Espírito Santo e com carreiras consolidadas internacionalmente, que fazem de seus corpos o meio e objeto de sua arte. Marcus Vinícius, Castiel Vitorino Brasileiro e Rubiane Maia construíram as carreiras percorrendo o mundo em busca da reinvenção do próprio corpo. O filme mescla imagens de arquivo de trabalhos e intervenções dos artistas e performances inéditas, concebidas especialmente para o filme, e fazendo uso de um desenho de som e uma edição que valorizam conexões entre obras tão distintas.
Para o diretor Erly Vieira Jr., “‘Presença’ é um filme sobre artistas que compreendem a performance como forma de insubordinação diante dos papeis sociais, que se costumam predeterminar a eles com uma abordagem bastante poética, algo que sempre me instigou. Esses corpos são desobedientes, excessivos, transbordantes, muitas vezes levados a seus limites, e constantemente reinventados através de gestos, ritmos, movimentos, conectando-se a nós, espectadores, de formas bastante surpreendentes.”
Questões como a relação com a paisagem e a conexão com a natureza e seus elementos, a fragilidade da experiência humana, a solidão existencial, a espiritualidade, a racialidade, a performance como uma metodologia de contato íntimo com o espectador, são alguns dos temas universais que o filme aborda. “São temas bastante atuais e urgentes, e que mostram a conexão do trabalho desses artistas com os dilemas do mundo em que vivemos”, afirma Erly. “Artistas que produziram trabalhos em Vitória, no Espírito Santo, nosso local de origem, mas sempre com o olhar apontado para o mundo. E são nomes cuja relevância tem crescido bastante nos últimos anos. Castiel e Rubiane, por exemplo, estiveram na última edição da Bienal de São Paulo e a própria Castiel abriu em maio uma exposição individual em Bruxelas, numa importante galeria que a representa na Europa e Estados Unidos.”
Ao fazer seu corpo performático surgir numa explosão, e muitas vezes enfrentando riscos físicos, Marcus Vinícius se propôs, através da sua arte, transfigurar a dor em leveza e em silenciosos rituais cotidianos. Rubiane sempre teve o desejo de voar como quem dança, mas o confronto direto com o racismo, após uma temporada vivendo na Europa, a fez buscar outros modos de conexão que atravessaram o Oceano Atlântico na diáspora afro-brasileira. Já Castiel se autodeclara triplamente curandeira (como psicóloga, artista e macumbeira), que “escolheu ser peixe antes de ser humana”, segundo a tradição da cosmogonia Bantu. Ela entende sua travestilidade como uma transmutação, numa conexão espiritual com as matas e a força das águas, capaz de romper as armadilhas da racialização e da colonialidade.
“Presença” é o primeiro longa-metragem de Erly, realizador capixaba que possui curtas-metragens premiados em diversos festivais desde os anos 2000, e que nos últimos dez anos também passou a atuar nos campos da curadoria, em mostras e festivais Brasil afora, e da teoria audiovisual, sendo autor de livros como “Realismo sensório no cinema contemporâneo”, publicado em 2020. “Presença” é um convite ao público para experienciar a proposta criativa dos artistas e também para refletir sobre suas próprias questões existenciais, fazendo coro às palavras certa vez escritas por Marcus Vinícius: “não só vemos os mundos com os olhos, mas também com os sonhos”.
Sinopse
Três artistas afro-brasileiros, com carreiras reconhecidas internacionalmente, transmutam-se a cada performance. Marcus Vinícius, Rubiane Maia e Castiel Vitorino Brasileiro fazem uma reflexão sobre os limites que apontamos para nossos próprios corpos.
Elenco
Marcus Vinícius, Rubiane Maia, Castiel Vitorino Brasileiro, Augusto Brasileiro, Manuel Vason, Tom Nóbrega e Tatiana Rosa
FICHA TÉCNICA
Roteiro e Direção: Erly Vieira Jr
Produção: Ursula Dart
Assistente de direção: Melina Galante
Direção de produção: Maria Grijó
Som direto: Natália Dornelas
Direção de fotografia: Ursula Dart
Montagem: Carol Covre
Desenho de som: Marcus Neves
Trilha Sonora: Marcus Neves e Gimu
Empresa Produtora: Ladart Filmes
Empresa Distribuidora: Livres Filmes
DOCUMENTÁRIO EM LONGA METRAGEM (2023) 71 minutos
CLASSIFICAÇÃO INDICATIVA: não recomendado para menores de 14 (quatorze) anos. Contém nudez e temas sensíveis.