LuzCaiada, segunda exposição individual de André Ricardo na Galeria Estação, reúne 20 pinturas

André Ricardo - Foto: Julia Thompson

Com curadoria de Igor Simões, mostra reafirma interlocuções poéticas com a obra de Rubem Valentim (1922 – 1991), escultor, pintor e gravador baiano que foi tema de uma recente exposição em conjunto com o artista paulistano apresentada em Londres  

Com abertura em 6 de agosto e visitação até 5 de outubro de 2024, a exposição André Ricardo: LuzCaiada integra a programação em celebração aos 20 anos da Galeria Estação. Segunda individual do artista no espaço sediado no bairro de Pinheiros, em São Paulo, LuzCaiada reúne 20 pinturas inéditas, de diferentes formatos, recém-criadas com uma das marcas da produção de André Ricardo, desenvolvida ao longo de quase 15 anos de pesquisa: o uso de tinta têmpera aplicada em telas de linho manufaturadas pelo próprio artista. No texto de apresentação de LuzCaiada, o curador da exposição, Igor Simões, destaca que a densidade liquefeita da têmpera de ovo conferida às pinturas de André Ricardo foi também uma das inspirações para o título da mostra. 

“É como se a tinta estivesse caiando o plano. Caiando como fazem os moradores de interior ou de subúrbio quando revestem com outro tipo de cal aquelas fachadas de casas que fazem das ruas uma experiência particular da cor. Uma luz que surge do cal. LuzCaiada, assim tudo junto, brinca de inventar algo que parece evocar um movimento, um jeito de ser cor, luz. O nome também repercute um jeito particular de lidar com a tinta, o suporte e a pintura. Antes de tudo, funciona como um convite para entender pintura como lugar de encontro de si e de memórias acessadas que partem do artista e reverberam também no outro. (…) Essas pinturas são complexas porque nelas está um conjunto de geometrias sensíveis que resultam da depuração de formas do mundo. No jogo desse artista, geometria é também sensação do mundo. Uma geometria afetiva que nunca é dura. Ela é etérea, luminosa”, defende Simões.

O domínio da técnica da pintura em têmpera, consagrada desde o renascentismo, no século XIV, e que consiste na utilização de tintas com pigmentos naturais aglutinadas em gema de ovo, é também uma das características do artista exaltadas pela sócia e cofundadora da Galeria Estação, Vilma Eid.

“Desde sua primeira exposição, em 2021, temos vivido com André muitas alegrias. Seu crescimento artístico é notório e pode ser acompanhado pelas ótimas individuais e coletivas das quais tem sido convidado a participar no Brasil, nos Estados Unidos e na Europa. A produção que mostramos agora é fruto de um ano de pesquisas alternadas com exposições importantes em instituições e galerias de arte parceiras. Vê-lo trabalhar é um prazer. Sua técnica têmpera é um primor”, avalia Vilma.

LuzCaiada também acentua a influência de um dos mestres da arte brasileira, Rubem Valentim (1922 -1991), sobre a produção de André Ricardo. Entre 25 de abril e 20 de maio de 2024, aliás, a interlocução poética entre ambos foi evidenciada na Inglaterra, por meio dos trabalhos reunidos na exposição André Ricardo & Rubem Valentim: Dialogues, promovida pela LAMB Arts Gallery.

Na ocasião da abertura da exposição, enfatizando que seu filho caçula Valentim foi batizado em homenagem ao pintor baiano, André Ricardo redigiu uma carta a Rubem Valentim. “(…) Lembro o quão revelador foi perceber que pintar é como fazer um percurso interno, lançar luz a uma pintura que já carrego. A visita a essa herança é uma afirmação do direito à memória, fundamental na construção de nossa identidade. Ver a obra de um outro artista também é um modo de acessar esse lugar. Sua obra, Rubem, não cessa de me provocar nesse sentido, ecoando fundo a cada encontro com ela”, defendeu o artista em um dos trechos da carta.   

Representado pela Estação desde 2019, André Ricardo defende que sua relação com a galeria vai muito além de questões mercadológicas e reflete um marco afetivo de dimensão bem mais subjetiva em sua formação artística.  

“Antes de ser um artista da galeria eu fui um assíduo frequentador de suas exposições e aprendi muito com elas porque tive a oportunidade de conhecer figuras maravilhosas, como Véio, Neves Torres, Chico Tabibuia, Alcides, Mirian e Conceição dos Bugres. Foi um processo que influenciou muito naquilo que eu faço hoje, pois me fez pensar em outras referências e não só especular acerca de uma visualidade brasileira ou latino-americana, mas, acima de tudo, especular sobre uma identidade. Acredito que a pintura é um caminho para o autoconhecimento e que também nos leva a uma dimensão de retorno a uma herança, a um lugar primordial”, explica o artista.

Para aqueles que viram a primeira exposição, André Ricardo: Pinturas, ele avisa que ecos dos trabalhos da mostra de 2021 serão perceptíveis, mas com novos elementos e desdobramentos tanto em nível de composição como de cores.

“A exposição reúne basicamente dois conjuntos de pinturas. Um deles ligado a meu interesse pela arquitetura vernacular brasileira, sobretudo das fachadas com platibandas que são bem características do interior do Brasil e do Nordeste. O outro é uma série que se originou a partir de um desenho feito por meio da observação de um pedestal com canhões de luz. Uma composição curiosa, que favoreceu uma pesquisa bastante variada sobre um assunto que é muito caro à pintura, que é a luz e o fenômeno da percepção da cor porque, embora a gente saiba que a pintura seja um plano bidimensional, o nosso olho não cessa de buscar profundidade e nunca vê tudo de uma vez. Daí veio também o título da exposição”, conclui André.

No vernissage de Luz Caiada, que ocorre das 18h às 21h do dia 6 de agosto de 2024, o artista e o curador, Igor Simões, farão uma visita guiada gratuita à exposição a partir das 19h.    

André Ricardo

André Ricardo nasceu em 1985, em São Paulo, onde vive e trabalha atualmente. Formado em Artes Visuais pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo, realizou diversas exposições individuais e coletivas no Brasil, Portugal, Espanha e, mais recentemente, Londres e Nova York, onde realizou uma residência artística na RU – Residency Unlimited em 2022. Em sua pesquisa, o artista elabora um repertório de imagens em torno de uma herança plástica ancestral na qual reconhece sua identidade. Identificamos uma cultura visual de matriz-popular e afro-brasileira, sendo essa evocada em imagens da natureza, arquitetura, cores e formas baseados em uma inteligência plástica sofisticada que não se limita aos referenciais canônicos da historiografia da arte. O vocabulário cromático brilhante e festivo que caracteriza as obras está diretamente ligado ao uso da têmpera de ovo. A pintura se inicia na escolha do linho ou da madeira como suporte a ser preparado. Esse complexo processo pré-industrial permite ao artista uma sensibilidade mais profunda em relação às cores, ampliando seu controle sobre seus efeitos na superfície.

Igor Simões

Doutor em Artes Visuais-História, Teoria e Crítica da Arte-PPGAV-UFRGS. Professor Adjunto de História, Teoria e Crítica da arte e Metodologia e Prática do ensino da arte (UERGS). Foi curador adjunto da Bienal 12 – Bienal do Mercosul. Membro do Comitê de Curadoria da Associação Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas-ANPAP, do Núcleo Educativo UERGS-MARGS, do Comitê de Acervo do Museu de Arte do RS-MARGS e do Flume-Grupo de Pesquisa em Educação e Artes Visuais. Tem mantido atividades na área de formação e debate sobre arte brasileira e racialização em instituições como MASP – Museu de Arte de São Paulo, Instituto Itaú Cultural, Instituto Moreira Salles – IMS, MAC USP – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo. É autor da tese Montagem Fílmica e exposição: Vozes Negras no Cubo Branco da Arte Brasileira.

Galeria Estação

Com um acervo entre os pioneiros e mais importantes do país, a Galeria Estação, inaugurada no final de 2004 por Vilma Eid e Roberto Eid Philipp, consagrou-se por revelar e promover a produção de arte brasileira não-erudita. A sua atuação foi decisiva pela inclusão dessa linguagem no circuito artístico contemporâneo ao editar publicações e realizar exposições individuais e coletivas sob o olhar dos principais curadores e críticos do país. O elenco, que passou a ocupar espaço na mídia especializada, vem conquistando ainda a cena internacional ao participar, entre outras, das exposições Histoire de Voir, na Fondation Cartier pour l’Art Contemporain, na França, em 2012, e da Bienal Entre dois Mares – São Paulo | Valencia, na Espanha, em 2007. Emblemática desse desempenho internacional foi a mostra individual de Veio – Cícero Alves dos Santos, em Veneza, paralelamente à Bienal de Artes, em 2013. No Brasil, além de individuais e de integrar coletivas prestigiadas, os artistas da galeria têm suas obras em acervos de importantes colecionadores e de instituições de grande prestígio e reconhecimento, como a Pinacoteca do Estado de São Paulo, o Museu de Arte de São Paulo, o Museu Afro Brasil (SP), o Pavilhão das Culturas Brasileiras (SP), o Instituto Itaú Cultural (SP), o SESC São Paulo, o MAM- Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro e o MAR, na capital fluminense.

SERVIÇO

André Ricardo: LuzCaiada

Quando: de 6 de agosto a 5 de outubro de 2024

Onde: Galeria Estação

Endereço: Rua Ferreira Araújo, 625 – Pinheiros, São Paulo

Abertura: 6 de agosto (terça-feira), das 18h às 21h.   

Visita guiada: 6 de agosto (terça-feira), às 19h, com o André Ricardo e o curador Igor Simões; gratuita e sem necessidade de inscrição prévia

Horários de funcionamento da galeria: segunda a sexta, das 11h às 19h; sábados, das 11h às 15h; não abre aos domingos.

Tel: 11 3813-7253

Email: contato@galeriaestacao.com.br

Site: www.galeriaestacao.com.br

Instagram: @galeriaestacao

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