Maria Eduarda de Carvalho e Rui Ricardo Diaz em ‘Vermes Radiantes’ no Teatro das Artes

través da fúria expansionista e contínua higienização e gentrificacão das grandes metrópoles, a peça reflete com humor ácido sobre o quanto podemos ser contaminados por uma ideia distorcida de ascensão, flexibilizando limites éticos para realizar os nossos desejos e sonhos de uma vida.

por Redação
Vermes Radiantes

Vermes Radiantes, poderosa e ácida crítica social, com humor perspicaz, do poeta, dramaturgo e roteirista inglês Philip Ridley, ganhou este ano a sua primeira versão brasileira, dirigida por Alexandre Dal Farra. Depois do sucesso no Sesc Pompeia, São Paulo, chega agora aos palcos cariocas para uma curta temporada, de 05 a 28 de setembro.

Protagonizada por Maria Eduarda de Carvalho e Rui Ricardo Diaz, com múltiplas contribuições do ator e músico Marco França, a peça reflete, tendo como pano de fundo a especulação imobiliária, sobre o quanto podemos ser contaminados pelos ideais neoliberais e distorcidos de ascensão, flexibilizando, em casos extremos, quaisquer limites éticos para realizar os chamados “sonhos de uma vida inteira”.

SINOPSE

O jovem casal Jill (Maria Eduarda de Carvalho) e Ollie (Rui Ricardo Diaz), moradores de um precário conjugado, recebem uma proposta de uma mulher misteriosa chamada Senhorita Dee (Marcos França), ela se apresenta como funcionária do Governo, anunciando que um projeto público lhes dará, sem nenhum custo, a casa dos sonhos no subúrbio. A única exigência é que eles façam uma grande reforma no imóvel, para estimular os vizinhos a fazerem o mesmo e, assim, valorizar a região.

O casal, mesmo desconfiado, agarra a oportunidade única, acreditando que poderá dar conta da reforma. Eles se mudam para a nova casa, cheia de problemas estruturais. Já na primeira noite, é invadida por um homem em situação de rua, que entra em luta corporal com Ollie e acaba morto por ele. A partir deste momento, eventos inusitados e fantásticos levam o casal para rumos inesperados, envolvendo crimes e perda total do controle de suas vidas.

PALAVRA DO DIRETOR

“Alguns anos atrás, talvez uma ou duas décadas, o tema da gentrificação se tornou um assunto recorrente no teatro brasileiro – mas não apenas nele, na sociologia e na arquitetura também.

A construção da Sala São Paulo, por exemplo, teatro de concertos de nível internacional, no coração do centro da cidade, em meio a uma estação de trem localizada num território da cidade completamente “degradado” (leia-se, ocupado por populações desfavorecidas), e o uso desses aparelhos de cultura como meio para revitalizar o centro, em projetos como o famigerado Centro Vivo, virou objeto de teses e estudos importantes no início dos anos 2000.

Esse processo, que alterava em questão de poucos anos regiões inteiras da cidade e fazia com que populações inteiras fossem mais e mais deslocadas para as franjas da cidade, era assunto frequente de conversas, peças de teatro e filmes daqueles anos. O processo que ele descrevia, no entanto, não só não deixou de acontecer como continuou se radicalizando mais e mais.

A gentrificação na cidade de São Paulo e no mundo desde então só fez crescer em progressão geométrica, bairros inteiros sendo rigorosamente recriados, a quase totalidade de seus moradores substituídos. Hoje, talvez vivamos no momento de maior intensidade e brutalidade desse processo, não só no Brasil, mas no mundo.

É nesse contexto que se torna fundamental uma obra como Vermes Radiantes, que explicita com imensa precisão e ironia mordaz os meandros dessa lógica voraz e assassina – algo que, numa cidade como São Paulo, é o nosso pão de cada dia.

Mas Ridley não faz só isso. Seus personagens, fazendo a roda viva da autorreprodução do capital girar, e sendo girados por ela, desdobram também a linguagem, que se dissolve na espiral demente e impossível do capital que é louco e enlouquece, e que não conhece limites.

Nessa festa potencialmente infinita, entramos em contato com as entranhas mais brutalmente expostas de uma lógica que não sabe acabar – mas que acaba, agora, em tempo real, com o mundo.”

Serviço

ESTREIA: dia 05 de setembro (6ªf), às 20h

LOCAL: Teatro das Artes RJ / Shopping da Gávea

Rua Marques de São Vicente, 52/2ª piso, Gávea / RJ

HORÁRIOS: 6ª e sab às 20h, e dom às 19h / INGRESSOS: R$ 120 e R$60 (meia) em https://divertix.com.br/teatro/vermes-radiantes e na bilheteria / CAPACIDADE: 400 espectadores / DURAÇÃO: 90 min / GÊNERO: tragicomédia / CLASSIFICAÇÃO: 16 anos / ACESSIBILIDADE: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida / TEMPORADA: até 28 de setembro

FICHA TÉCNICA 

  • Autor: Philip Ridley
  • Tradução: Diego Teza
  • Direção: Alexandre Dal Farra
  • Elenco: Rui Ricardo Diaz, Maria Eduarda de Carvalho e Marco França
  • Idealização: Rui Ricardo Diaz e Maria Eduarda de Carvalho
  • Iluminação, Preparação de Elenco e Assistência de Direção: Lucas Brandão
  • Cenografia: Stéphanie Fretin e Camila Refinetti
  • Figurino: João Marcos de Almeida
  • Direção Musical: Marco França
  • Direção de Produção: Bia Goldenberg
  • Fotografia e Projeto Gráfico: Matheus Ramalho
  • Assistência de Figurino e costureira: Daiane Martins
  • Cenotécnicos: Wanderley Wagner e Fernando Zimolo
  • Realização: Raiz de Oito, Quincas, Nem Freud Explica
  • Assessoria de Imprensa:  JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany

ALEXANDRE DAL FARRA – diretor

Doutorando pelo PPGAC da ECA/USP e mestre pelo Departamento de Letras Modernas da FFLCH – USP, Alexandre é dramaturgo, diretor e escritor. Foi vencedor e indicado diversas vezes aos principais prêmios brasileiros, como Shell, APCA, Governador do Estado de São Paulo, Questão de Crítica, Aplauso Brasil. Dentre seus principais espetáculos, destacam-se “Abnegação III – Restos, Abnegação 1” (APCA, editado na França pela Les Solitaires Intempestifs), “O Filho “(APCA e Prêmio Governador do Estado de São Paulo). Lançou em 2013 o seu primeiro romance, “Manual da Destruição”, pela editora Hedra.

RUI RICARDO DIAZ – ator

Atuou em diversos filmes e séries, dentre os quais destaca-se a série “Impuros”, Star+Disney,  da qual é protagonista. É coprotagonista da série “Sentença”, da Amazon Prime (2022). Protagonizou também o filme “Lula, o Filho do Brasil”, e atuou nos longas-metragens “De Menor” (2013), premiado Melhor Filme no Festival do Rio e “A Floresta Que Se Move” (2015). Atuou ainda nas séries “Irmãos Freitas” (2019); “Segunda Chamada” (2021) e na novela “O Tempo Não Para”, TV Globo (2018).

MARIA EDUARDA DE CARVALHO – atriz

Produziu e atuou, ao lado de Gregorio Duvivier, no espetáculo “Inbox” e escreveu, produziu e protagonizou o espetáculo “Atrás do Mundo”. Como atriz, participou das novelas “Garota do Momento”, “Paraíso Tropical”, ”Três irmãs”, “Lado a Lado”, “Em família”, “Tempo De Amar”, “O Tempo não Para” e “Éramos Seis”. Atuou nos seriados  “Tudo Novo de Novo”, “Como Aproveitar o Fim do Mundo”, “O Dentista Mascarado” e “Brasil a Bordo”. No cinema, protagonizou, roteirizou e produziu os curtas “Gilda” e “Ménage à Trois”, e integrou os elencos dos longas “Altas Expectativas” e “Veneza”.

MARCO FRANÇA – ator

Ator, músico, multi-instrumentista, produtor musical, compositor e arranjador, atuou como diretor, ator e diretor musical do grupo Clows de Shakespeare (Natal/
RN, 2000- 2015). Esteve no ar como Fubá Mimoso na novela “Mar do Sertão”, da Rede Globo. Foi indicado ao Prêmio Shell de Teatro em 2009 pela música de “O capitão e a sereia” e em 2022 por “Tatuagem”, sendo vencedor em 2016 e 2019 pelas músicas de “A tempestade” e “Estado de Sítio”, de Gabriel Vilela. Recebeu vários prêmios como ator e diretor musical.

Você também pode gostar

Compartilhe
Send this to a friend