“Miúcha, a voz da Bossa Nova” disputa o Melhor Filme do 15º In-Edit – Festival Internacional do Documentário Musical

Miucha - Arquivo pessoal

O longa-metragem “Miúcha, a voz da Bossa Nova”, que conta a história da cantora por meio de suas cartas, diários, filmes em Super 8, fitas cassetes e suas aquarelas, animadas para o filme, estará na mostra mais seletiva do In-Edit, a competitiva nacional, com os filmes badalados de 2022 e 2023. O premiado Miúcha, dirigido por Liliane Mutti e Daniel Zarvos, terá sessões nos dias 17, 21 e 23 de junho, nos cinemas do Cinesesc, CCSP – Sala Paulo Emílio e Cinemateca Nacional, essa última, fonte de parte importante do acervo da Bossa Nova pesquisado para o filme. As apresentações terão a presença da diretora Liliane Mutti, que também assina o roteiro. O longa é narrado pela atriz Silvia Buarque e pela voz personalíssima da própria Miúcha.

“Esse material inédito é muito revelador”, conta Mutti. “Mesmo a família e os amigos mais íntimos descobrem pontos da vida e criação de Miúcha que só foram contadas por ela a nós, durante os últimos dez anos da sua vida. Somos levados a uma grande reflexão sobre o lugar e os desafios da mulher artista na sociedade. Miúcha viveu intensamente os anos 60 e 70, recorte escolhido para o filme, e deixou um legado de liberdade radical para todas nós.”

Ao receber o prêmio de Melhor Filme Musical do Indielisboa, em maio deste ano, a diretora levantou o troféu e dedicou a todas as mulheres que vieram antes: “Tenho certeza de que onde quer que a Miúcha esteja, ela está comemorando e viajando com a gente. O ‘Miúcha’ é um roadmovie que se passa entre Paris, Nova York, Rio de Janeiro e Cidade do México, e ver o filme circulando é uma alegria imensa”, destacou Liliane Mutti.

“Miúcha, a voz da Bossa Nova” conta com um grande arquivo pessoal, a primeira cinebiografia da artista, que conviveu de perto com ícones da cultura brasileira. Irmã de Chico Buarque, Miúcha foi casada por quase 10 anos com João Gilberto, em uma relação muitas vezes turbulenta com o inventor da batida bossanovista, como se nota pelos diários da cantora. No filme, acompanhamos Miúcha se libertando dessas amarras e criando parcerias de palco e vida com Tom Jobim, Vinicius de Moraes, Stan Getz e Pablo Milanés, entre outros muitos mestres da música.

As mulheres, são elas, o maior destaque do filme. A obra traz os bastidores dos encontros de Miúcha com a poeta chilena Violeta Parra, que a apresentou a João Gilberto em Paris, e com Simone de Beauvoir, que a conheceu no Rio de Janeiro, em um encontro na casa dos seus pais, o historiador Sérgio Buarque de Hollanda e a pianista Maria Amélia.
A relação com a família ganhou no filme uma abordagem psicanalítica. Durante o garimpo para a obra, os diretores contaram com a pesquisa do produtor musical Geraldo Rocha, amigo pessoal de Miúcha. Já a diretora, fez mestrado sobre biografia de mulheres na música pela UFF (Universidade Federal Fluminense), orientada pela psicanalista Marília Etienne Arreguy, em parceria com o Departamento de Estudos sobre a América Latina da Sorbonne 3, da França.

A voz marcante da própria Miúcha é intercalada no filme por leituras de cartas e trechos de diários feitas pela atriz (e sobrinha) Sílvia Buarque, duas mulheres de gerações diferentes que se encontram na arte – Miúcha nos últimos anos de sua vida e ela mesma, mais jovem, interpretada por Sílvia Buarque. Sobre a preparação para interpretar a tia, de quem era muito próxima e a quem chamava de “bruxa”, Silvia Buarque conta: “O Daniel e a Lili me dirigiram bastante bem, mas foi um trabalho difícil porque eu tinha uma ligação muito especial com a Miúcha. O Daniel contou que ela queria que eu fizesse a leitura das cartas, e aí foi um trabalho sensível, delicado para mim. Eu fui no meu WhatsApp e fiquei ouvindo as mensagens que a Miúcha me mandou, para tentar pegar a cadência, para me lembrar melhor da voz dela. A ideia nunca foi imitá-la, nem eu seria capaz. Mas eu queria pegar a cadência. Foi doloroso ouvir os recados dela, deu saudade… Mas também foi um trabalho prazeroso. Conheci um lado dela que eu não conhecia. Foi muito intenso, como era a Miúcha, gostoso e dolorido ao mesmo tempo”.

O filme traz imagens inéditas que destacam a importância da presença da cantora nos bastidores dessa cena musical. A imagem pública de Miúcha e sua vida pessoal se entrecruzam na narrativa, com as aventuras e dificuldades ao lado do trio de ouro da Bossa Nova: João, Vinicius e Tom. Na perspectiva do filme, como explica o diretor Daniel Zarvos, o pessoal é político, frase que evoca o movimento de 1968, quando Miúcha morava com o João Gilberto em Nova York, na efervescência do movimento Hippie.

“A gente fica sabendo como Miúcha e João se conheceram, como era a vida nos Estados Unidos, as dificuldades cotidianas, a formação da família e o início da carreira da Miúcha, que foi bastante conturbada”, afirma José Antônio Algodoal, curador do In-Edit BR, em depoimento gravado em vídeo e publicado na rede social do Festival. “A gente conhece, obviamente, o talento inquestionável da Miúcha, mas aqui o filme também mostra o quanto ela sofreu nas mãos do João Gilberto, que por várias vezes a boicotou e a silenciou. E tudo isso é mostrado de uma forma bastante explícita, bastante sincera. Esse filme é interessante por essas duas coisas. Por um lado, mostra a força com que a Miúcha lidou com tudo isso, o desejo dela de ter a carreira, o quanto ela lutou por isso, mas ao mesmo tempo, promove uma desconstrução muito forte da imagem do João Gilberto.”

Outros prêmios e participações:

O longa-metragem recebeu o prêmio de Melhor Longa de Música no Festival Internacional de Cinema IndieLisboa, em 6 de maio, e também ganhou a premiação de Melhor Filme do In-Edit – México, em abril. E foi o único representante nacional na categoria musical da 38ª edição do Festival Internacional de Cinema de Guadalajara, também no México, que aconteceu de 3 a 9 de Junho. Segue este mês para o “In-Edit BR”, com três exibições previstas. Liliane Mutti, diretora do Miúcha, participa na programação do festival ainda integrando a roda: Mulheres na Tela, que acontece dia 19/06 (segunda-feira), às 19h, com entrada franca, no CineSesc. O debate terá a presença de Dandara Ferreira (Gal Costa), entre outras, e será conduzido pela jornalista Flávia Guerra.

Sobre o Festival:

A edição comemorativa de 15 anos do In-Edit Brasil, Festival Internacional do Documentário Musical, acontece de 14 a 25 de junho, em São Paulo, nas salas CineSesc, Cinemateca Brasileira, Spcine Olido, Spcine Paulo Emílio (CCSP), entre outras, tendo ainda parte da programação exibida de forma online para todo Brasil.

PROGRAMAÇÃO COMPLETA NO SITE: www.in-edit-brasil.com

Related posts

Nosferatu (2024): Uma Sinfonia Gótica de Terror Assombra os Cinemas – A Obra-Prima de Robert Eggers

“Que cinema é esse?” é a temática central da 28ª Mostra Tiradentes que presta homenagem à atriz Bruna Linzmeyer

Filme sobre Aldo Baldin tem pré-estreia no CCBB Rio e homenagem a Isacc Karabtchevsky