Monólogo “A Louca?” estreia na Casa de Cultura Laura Alvim

Elaborando um olhar sobre a misoginia presente na sociedade, solo interpretado pela atriz Sandra Incutto apresenta um cruzamento da história contada sobre D. Maria I, chamada Maria Louca, com outras Marias reais do Brasil.

por Redação
A Louca - Foto: Renato Mangolin

Personagem notória da História do Brasil, a rainha D. Maria I, que ficou mais conhecida entre os brasileiros desde os tempos de escola como D. Maria Louca, foi o ponto de partida para Alexandre Maximino construir “A Louca?”, montagem que estreia em curtíssima temporada de 14 a 23 de fevereiro, na Casa de Cultura Laura Alvim – sextas e sábados às 20h e domingos às 19h. Durante a pesquisa pra confecção do texto, que surge em sua encenação na pele de Sandra Incutto sob a direção de Marcia Salgueiro, outras Marias surgiram no contexto da peça: Maria da Graça Costa Penna Burgos, a Gal Costa, que faleceu durante a criação do monólogo, e Maria, mãe do autor, uma órfã que saiu aos nove anos de Minas Gerais para o Rio de Janeiro trabalhar em casa de família, sob a mão forte do poderio machista.

“Fui desafiado a escrever uma peça que localizasse o Rio de Janeiro nos 200 anos da Independência do Brasil. Para esse recorte, depois de muitas pesquisas, resolvi buscar na figura de D. Maria I, a Rainha de Portugal que veio em tempos napoleônicos para a ex-capital do Brasil e passou seus últimos dias de vida sendo considerada louca. O fim da sua dinastia imperial ocorre através de seu neto, portanto, eu tinha o cenário ideal para essa finalidade. A partir daí, busquei na vida dessa mulher as implicações de ser herdeira legítima ao trono do seu país e suas colônias num momento extremamente machista e marquei esse primeiro paralelo com o Brasil atual”, explica Alexandre.

A entrada das demais Marias não se deu por acaso. “Eu estava revisitando o show ‘Recanto’, de Gal Costa, que tinha assistido anos antes, e algumas músicas bateram com o enredo da peça, onde as incluí. A montagem só tem razão de ser com elas, tornando uma massa só. Dessa pesquisa mais ampla, que sempre faço quando escrevo para criar paralelos sociais, mergulhei na história da minha família e vi o passado de outra Maria, a minha mãe que, como uma grande mulher brasileira, deu a volta por cima. Então, são Marias que são contadas nesse monólogo”, antecipa o autor.

Na peça, D. Maria está em franca expiação da sua existência, uma autoanálise sem retornos. É ela por ela mesma, o que torna a dramaturgia mais significativa, pois é dela que virão as soluções sem nenhum apoio externo, sem mesmo da ajuda de Deus. “Ela está num limbo eterno, esperando ir para o céu Católico Romano, com grande medo de cair nos calabouços do inferno. Essa dualidade a coloca em pleno divã, questionando em suas memórias a condescendência com seu povo e família, e também o peso cruel da mão da monarca. Como está morta, sua memória atinge a tempos antes do seu nascimento e espia os momentos até os dias de hoje no Brasil, fazendo que todos nós questionemos o que é a loucura menos no seu aspecto literal, mas, sobretudo, nos efeitos nocivos que atos políticos conseguem disseminar na sociedade. Hoje, principalmente, lutamos contra muitos desses efeitos. Não é? ”, provoca Alexandre Maximino.

Para a diretora Marcia Salgueiro, falar sobre uma mulher que foi considerada louca numa sociedade machista e misógina é fundamental, sobretudo quebrando paradigmas. “Evoluímos pouco. Estamos numa sociedade onde a permanência de rótulos que desqualificam o papel da mulher é constante, principalmente se ela atinge pontos de destaque ou poder. Trazer essa fala num recorte da nossa própria história utilizando o olhar de D. Maria sobre pontos de sua vida aproxima a reflexão sobre esse posicionamento, principalmente quando promovemos o comparativo com os dias de hoje. Como diretora e mulher, poder dirigir esse monólogo e criar espaço para que um olhar feminino conduza essa vivência de D. Maria só fortalece a visceralidade deste posicionamento”, atesta a diretora.

Intérprete de D. Maria por 11 anos no Museu Nacional, a atriz Sandra Incutto já desejava levar a personagem aos palcos. “Mas nunca comentei isso com a Márcia e Alexandre, foi uma abençoada coincidência do destino. E o convite ter chegado por essa dupla dinâmica bateu no peito como as grandes paixões que chegam na alma. Agora eu venho numa pegada bem diferente, temos um fundo histórico forte, com grandes emoções, que cercou a trajetória dessa forte, grandiosa e soberana mulher, como tantas de nós. É um grande reboliço de emoções na minha cabeça, com medos, verdades, dúvidas e com uma grande dose de responsabilidade. Enfim, uma grande honra”, afirma a atriz, que celebra o prazer de estar no palco da Casa Laura Alvim, falando sobre Mulher. “A trajetória de D. Maria I salienta e resgata nossas vivências.Com as nossas caminhadas, passadas, presentes e futuras. Hoje D. Maria, na verdade, seria apenas uma Mulher como nós”, conclui.

Se depender da direção, o espetáculo vai gerar impacto e reflexão na plateia sobre relações, direitos e reconhecimento de valor. “A peça apresenta uma encenação surrealista repleta de interferências sonoras e efeitos de vídeo mapping, com trechos de músicas do show ‘Recanto’, de Gal Costa, sendo inseridas pela própria D. Maria em momentos de dor. O monólogo toca em algumas feridas de nossa sociedade ainda em processo de construção. Queremos promover um expurgo sobre posicionamentos machistas, sobre desvalorização das falas femininas, entendendo que temos um melhor caminho a seguir enquanto sociedade. Agora será D. Maria a declarar a sua execução final, o desfecho da sua história que poderá surpreender até ela mesma. E o mais importante: sem qualquer julgamento”, finaliza Marcia Salgueiro.

SINOPSE

O espetáculo se passa no exato momento que D. Maria I, está em plena transição de sua morte e se vê no purgatório, delirando entre a consciência e a inconsciência, enfrentando autoanálises, para um acerto de contas pelos seus atos. É ela por ela mesma, o que torna a dramaturgia mais significativa, pois é dela que virão as soluções sem nenhum apoio externo, nem mesmo a ajuda de Deus.  Como está morta, sua memória atinge momentos até os dias de hoje no Brasil, trazendo um grande paralelo entre   passado e presente, sobre poderes e decisões e o quanto evoluímos como sociedade; fazendo que todos nós questionemos o que é a loucura. Após confrontos consigo mesma, ela clama uma nova chance de voltar a viver e escolhe o Brasil, terra que identifica como valiosa e mágica. E num acordo com Deuses Originários, D. Maria retorna através de uma entidade da Umbanda, religião Afrobrasileira, que a ressignifica de forma espiritual e profunda.

SERVIÇO:

“A LOUCA?”

  • Temporada: 14, 15, 16, 21, 22 e 23 de fevereiro
  • Dias e horários: Sexta-feira e Sábado às 20h e Domingo às 19h
  • Local: Casa de Cultura Laura Alvim
  • Endereço: Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema
  • Telefone: (21) 2332-2016
  • Entrada:  R$ 40 (inteira) R$ 20 (meia-entrada)
  • Duração: 70 minutos
  • Classificação Indicativa: 14 anos
  • Instagram: @alouca.monologo

FICHA TÉCNICA:

  • Dramaturgia: Alexandre Maximino
  • Direção Artística: Marcia Salgueiro
  • Atriz: Sandra Incutto
  • Cenografia: Cachalote Mattos
  • Desenho de Luz e Vídeo Mapping: Paulo Denizot
  • Figurino: Ticiana Passos
  • Designer: Gil Alves
  • Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação
  • Produção Executiva: Tatjana Vereza
  • Realização: Donna Cena Investigação Artística

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