Monólogo “Inconfissões”, homenagem à poeta Ana C., estreia dia 22 de março, no Espaço Sergio Britto, na Unidade da CAL da Glória

Laura Nielsen - Foto de Thais Grechi

Uma das grandes poetas brasileiras, Ana Cristina Cesar (1952-1983) tinha uma grande exigência em relação à escrita, desde que começou a se interessar por literatura, ainda criança. Era uma “jovem envelhecida”, como se autodefiniu. Percebia em si um rigor excessivo e uma obsessão na “busca pela palavra exata”. O espetáculo “inconfissões”, que estreia dia 22 de março, no Espaço Sergio Britto – Unidade CAL Glória, é norteado por essa busca rigorosa ao entrelaçar vivências pessoais da atriz Laura Nielsen, como atleta de nado sincronizado durante sua adolescência, com poemas e narrativas da “atleta verbal” Ana C. Com dramaturgia de Marcela Andrade e Laura Nielsen, direção de Marcela Andrade e supervisão artística de Gabriela Lírio, o monólogo faz uma homenagem à poeta, cuja morte precoce completa 40 anos em 2023. O espetáculo tem patrocínio do Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através do Edital Retomada Cultural RJ 2.

Expoente da literatura marginal, a carioca Ana Cristina Cesar, também conhecida como Ana C., se destacava dentro do próprio movimento por uma linguagem singular, marcada pelo tom confessional e reflexões sobre a identidade feminina. Investindo em imagens concretas, por vezes brutais, e demonstrando um olhar irônico sobre o mundo, Ana C. escrevia, sobretudo, em formato de cartas, diários e anotações breves, trazendo para a sua poesia um aspecto intimista e autobiográfico. Para a construção do espetáculo, as dramaturgas se debruçaram sobre o livro “Poética” (que reúne todos os poemas de Ana C.), a biografia “Ana Cristina Cesar – o sangue de uma poeta”, de Italo Moriconi, e o livro “Inconfissões – fotobiografia de Ana Cristina Cesar”, organizado por Eucanaã Ferraz. Entre os poemas escolhidos para a cena estão “mancha”, “fagulha”, “deus na antecâmara” e “soneto”, criados durante a adolescência da autora, e “samba-canção”, “noite carioca” e “olho muito tempo o corpo de um poema”, escritos na fase adulta.

“A poesia de Ana Cristina Cesar é marcada pelo tom coloquial com discurso construído em primeira pessoa, aproximando-se de um gesto confessional. Em sua obra, ela explorou intensamente dois gêneros literários da intimidade (carta e diário) e, assim, construiu uma linguagem que coloca o leitor sempre em evidência. O espetáculo também pretende explorar essa atmosfera intimista, buscando uma relação de proximidade entre atriz e público, mas acho interessante como as distâncias entre elas ora se encurtam ora se expandem ao longo do espetáculo. Desejo que o público receba essa dinâmica de “amizade” como jogo de invenção de (in)confissões, explica a diretora Marcela Andrade.

Em contato direto com público, Laura Nielsen expõe sua trajetória de pesquisa sobre a obra de Ana C. até o momento em que, ficcionalmente, se encontra com a poeta na borda de uma piscina. A atriz busca um diálogo acerca das possibilidades de leveza e soltura em meio ao rigor. A borda da piscina se transforma no proscênio de um teatro ou na lembrança de um quarto ou no parapeito de uma janela, em dinâmica onírica. De que forma o corpo pode dialogar com a escrita e a escrita com o corpo? Como traduzir a poesia em ação? Como manifestar, no corpo, a linguagem poética de Ana Cristina Cesar? Essas perguntas também guiaram a construção do espetáculo que, sem obedecer a uma lógica linear, mistura poemas e memórias (in)confessáveis. O espetáculo relembra episódios da vida da autora (principalmente aqueles ligados ao seu período de adolescência, entre 1968 e 1969, e a forma como a jovem lidou com o regime de censura imposto pela ditadura militar).

“A obra da Ana Cristina Cesar é repleta de contrastes entre o ser e o parecer, o conteúdo denso e enigmático que se contrapõe ao riso e a ironia, entre vida e morte, entre real e ficcional. Sua poesia é complexa, intensa, abre muitas possibilidades de leitura. Na peça, que tem uma estrutura fragmentada, os poemas são apresentados em uma espécie de colagem de cenas, às vezes entram de maneira integral, noutras citamos apenas trechos”, explica Laura.

Marcela Andrade

A dramaturga e diretora trabalha profissionalmente com teatro há 25 anos. É mestra em artes cênicas pela Unirio (2019) e bacharela em direção teatral pela mesma instituição (2010). Fez parte da terceira turma do Núcleo de dramaturgia do Sesi RJ. Estudou roteiro para curta-metragens e roteiro para conteúdo audiovisual na AIC (Academia Internacional de Cinema). Tem especialização em literatura clássica infantil e juvenil na PUC-Rio. Dirigiu oito espetáculos ao longo de sua carreira, obtendo cinco prêmios de direção/espetáculo em festivais nacionais de teatro, entre eles pela peça infantil “Ana Fumaça Maria Memória”, que foi indicada ao 6º Prêmio CBTIJ de Teatro para Crianças, na categoria texto original e na categoria direção.

Laura Nielsen

Laura Nielsen é atriz, diretora e professora de teatro. Integrante da companhia Teatro Inominável, participou, como atriz, de espetáculos destacados, ao longo dos seus 20 anos de carreira, tais como: “Dentro” (monólogo que esteve em cartaz no CCBB – RJ, em 2019), dirigido por Natássia Vello; “Sinfonia Sonho” e “Concreto Armado”, de Diogo Liberano; “Abajur Lilás” e “VIL” com direção de Renato Carrera; “Esboço Dramático sobre a Revolução”, de Gilberto Gawronski; “Iscas para Amansar Falcões”, de Fabiano de Freitas; “The Eternal Age”, de Eugenio Barba (em Hostebro, na Dinamarca, a partir de uma residência com o grupo Odin Teatret.) e “BR-3”, de Antonio Araújo, com o grupo Teatro da Vertigem; Dirigiu as peças: “OSSOS ou O Salto de Prometeu”, “Minha Nossa”, “A História do Jardim Zoológico” e “Entre Quatro Paredes”. É professora de Improvisação da Faculdade CAL de Artes Cênicas e pesquisadora do programa de mestrado em Artes da Cena da UFRJ.

Gabriela Lírio

É professora do Programa de Pós-Graduação em Artes da Cena (PPGAC) e do curso de Direção Teatral da UFRJ. É autora de diversos livros e membro pesquisador do projeto Labex ARTS-H2H La performance théâtrale au musée: une nouvelle médiation transculturelle, criado por Katia Legeret, na Université Paris 8 – Saint Denis.

Ficha Técnica

  • Dramaturgia: Laura Nielsen e Marcela Andrade, a partir de poemas de Ana Cristina César.
  • Direção: Marcela Andrade
  • Elenco: Laura Nielsen
  • Interlocução Artística: Thaís Grechi
  • Direção Musical: Roberto Souza
  • Direção de Arte: Arlete Rua
  • Iluminação: Livs Ataíde
  • Visagismo: Aline Sampin
  • Criação e Produção Audiovisual: Thaís Grechi
  • Programação Visual: Mavi Albuquerque e Dora Reis
  • Fotografia e Registro Audiovisual: Thaís Grechi
  • Assessoria de Imprensa: Racca Comunicação
  • Direção de Produção: Marina Hodecker
  • Idealização, Produção Executiva e Administração do Projeto: Laura Nielsen
  • Gabriela Lírio (PPGAC – Programa de Pós-graduação em Artes da Cena da UFRJ)

Serviço:

Inconfissões

  • Temporada: de 22 a 25 de março
  • Espaço Sergio Britto – Unidade CAL Glória: Rua Santo Amaro, 44 – Glória, RJ.
  • Telefone: 3850-5750
  • Dias e horário: quarta a sábado, às 20h
  • Ingressos: gratuitos
  • Duração: 50 minutos
  • Lotação: 56 pessoas
  • Classificação Indicativa: 12 anos

Única apresentação em Japeri:

  • Data: 26/03 (domingo)
  • Horário: 16h, com debate após a apresentação.
  • Espaço Cultural Código: Rua Davi, 397 – Nova Belém – Japeri
  • Telefone: 99717-3949
  • Ingressos: gratuitos
  • Duração: 50 minutos
  • Lotação: 60 pessoas
  • Classificação Indicativa: 12 anos

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