Monólogo ‘Só vendo como dói ser mulher do Tolstói’ expõe o machismo tóxico do escritor russo

Foto: Alberto Maurício E Ancelmo Salomão.

A relação tóxica do célebre escritor russo Leon Tolstói com a esposa Sofia é a grande revelação do monólogo “Só vendo como dói ser mulher do Tolstói, que reestreia no Teatro Dulcina, para temporada em novembro, de 15 de novembro a 7 de dezembro, quartas e quintas-feiras, às 19h, com ingressos a preços populares: R$ 25 (meia) e R$ 50 (inteira). Com texto de Ivan Jaf, direção de Johayne Hildefonso e música original de André Abujamra, a peça expõe o machismo do autor dos clássicos da literatura mundial “Guerra e paz” e “Anna Karenina”.

O figurino de época da peça, assinado por Giovanni Targa, foi indicado ao Prêmio Fita. Os trajes pesados que remetem ao severo inverno russo são realmente incríveis! Mas dão muito trabalho! Que o diga a atriz Rose Abdallah que se despe em cena. “O figurino por si só é um espetáculo, passando por vários séculos 18, 19 e 21 as roupas são colocadas e trocadas durante a apresentação como camadas. Como são roupas pesadas com muitos detalhes e muitos botões, a concentração é ampliada na execução. Tem uma ordem certa para vestir as peças”, explica Rose, que dá vida a Sofia Tolstói, cujos diários escritos durante 48 anos comprovam um relacionamento patriarcal, machista e abusivo.

Ofuscada pela fama do marido por dois séculos, só agora, com os movimentos de empoderamento feminino, a voz de Sofia começa a ser ouvida. Em “Só vendo como dói ser mulher do Tolstói”, uma atriz prepara-se para entrar em cena no papel de Sofia. No camarim, mistura a voz da personagem com sua voz feminista atual, indignada e revoltada com o escritor machista e abusivo. Mistura também épocas – inícios dos séculos XX e XXI – e espaços – Rússia e Brasil. Em uma linguagem do nosso tempo, Sofia enfim fala. Nos bastidores da vida de um grande homem, havia mesmo uma grande mulher, mas ela foi massacrada e oprimida.

“Conhecia Sofia Tolstói apenas por foto e sempre ao lado do marido Leon Tolstói, o grande romancista russo. Quando li o monólogo, foi uma mistura de sentimentos: amor por ela e choque por conhecer o outro lado de Tolstói. Apesar de toda sua genialidade, ele era um homem comum, um russo seguidor fiel dos ensinamentos do Domostroi, que, em russo, significa ‘ordem na casa’, ‘se o marido não domar a esposa, todo lar desmorona’. Conheço várias mulheres que ainda hoje vivenciam os mesmos conflitos que Sofia. Talvez leve mais alguns séculos para que uma mudança concreta ocorra e que, finalmente, as mulheres tenham seu protagonismo reconhecido! Salve Sofia Tolstói! Salve o protagonismo feminino”, exalta Rose Abdallah, que acaba de gravar a série “Reis – A Sucessão”, cujos últimos capítulos vão ao ar na TV Record, no final deste mês.

Sofia foi casada com o célebre escritor russo Leon Tolstói por 48 anos, até que, no dia 28 de outubro de 1910, ele fugiu de casa e acabou morrendo dez dias depois na estação ferroviária de uma pequena vila a 300 quilômetros de distância. O pior foi que a culpa sobre a morte do famoso escritor recaiu sobre Sofia, que foi considerada uma megera da qual Tolstói havia fugido e por isso morrera.

Foram quase 50 anos de brigas entre o escritor e a esposa. Um século de machismo estrutural, somado à imensa fama planetária e importância da obra de Tolstói, legou à Sofia o papel de megera. No entanto, o movimento feminista vem corrigindo essa injustiça. Durante toda a relação, cada qual retratou em diários o que se passava entre eles, em detalhes. É a leitura atual desses diários que está revelando o verdadeiro vilão dessa história. À luz das modernas teses feministas, fica clara a relação tóxica, abusiva e patriarcal do homem Leon, independentemente de seu inquestionável talento literário. É a partir do conteúdo desses diários que o dramaturgo Ivan Jaf constrói seu monólogo, dando voz a Sofia. Não uma voz contida pela repressão da mulher na Rússia do começo do século XX, sob o peso da Igreja Ortodoxa e da mão pesada do czarismo, mas um discurso com toda a verve libertária da indignação feminina atual.

Ficha técnica

  • Autor: Ivan Jaf
  • Direção: Johayne Hildefonso
  • Idealização e atuação: Rose Abdallah
  • Desenho de luz: Evelyn Silva
  • Visagismo e adereços: Ancelmo Salomão Saffi
  • Direção de arte: Giovanni Targa
  • Música original: André Abujamra
  • Cenários e figurinos: Giovanni Targa, Alessandra Miranda, Miguel Sasse e Ricardo Ferreira
  • Costureira: Edeneire Santos
  • Marcenaria: Alexandre Ramos
  • Fotografia: Vitor Kruter
  • Designer gráfico: Maurício Tavares / Inova Brand
  • Artes gráficas e redes sociais: Silvana Costa
  • Assessoria de imprensa: Sheila Gomes
  • Direção de produção: Rose Abdallah e Sandro Rabello
  • Produção executiva: Márcio Netto / Ganga Projetos Culturais
  • Realização: Rose Abdallah / Abdallah Produções e Sandro Rabello / Diga Sim Produções

Serviço

“Só vendo como dói ser mulher do Tolstói”

  • Temporada de 15 de novembro a 7 de dezembro de 2023
  • Sessões: quartas e quintas-feiras, às 19h
  • Local: Teatro Dulcina
  • Endereço: rua Alcindo Guanabara, 17 – Cinelândia, Centro
  • Ingressos: R$ 50 (inteira) / R$ 25 (meia)
  • À venda na bilheteria do teatro e no site da Sympla

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