Monólogo “Só vendo como dói ser mulher do Tolstói” prorroga temporada no Teatro Glauce Rocha

Só vendo como dói ser mulher de Tolstói - Rose Abdallah - Foto: Alberto Maurício

Um dos escritores mais importantes da literatura ocidental, o russo Leon Tolstói teve uma relação extremamente tóxica com a esposa Sofia. Essa é a revelação do elogiado monólogo “Só vendo como dói ser mulher do Tolstói, que prorroga temporada, até 13 de abril, no Teatro Glauce Rocha/Auditório Murilo Miranda, com sessões, às sextas e sábado, às 19h30. Com texto de Ivan Jaf, direção de Johayne Hildefonso, interpretação de Rose Abdallah e música original de André Abujamra, a peça procura desmitificar o mito Tolstói, ao expor o machismo do autor de “Guerra e paz” e “Anna Karenina”, e jogar luz sobre o protagonismo feminino. O detalhado figurino de época da peça, assinado por Giovanni Targa, foi indicado ao Prêmio Shell e venceu o Prêmio Fita.

Idealizadora do projeto, a atriz Rose Abdallah dá vida a Sofia Tolstói, cujos diários escritos durante 48 anos comprovam um relacionamento patriarcal, machista e abusivo. Ofuscada pela fama do marido por dois séculos, só agora, com os movimentos de empoderamento feminino, a voz de Sofia começa a ser ouvida. Em “Só vendo como dói ser mulher do Tolstói”, uma atriz prepara-se para entrar em cena no papel de Sofia. No camarim, mistura a voz da personagem com sua voz feminista atual, indignada e revoltada com o escritor machista e abusivo. Mistura também épocas – inícios dos séculos XX e XXI – e espaços – Rússia e Brasil. Em uma linguagem do nosso tempo, Sofia, enfim, fala. Nos bastidores da vida de um grande homem, havia mesmo uma grande mulher, mas ela foi massacrada e oprimida.

“Conhecia Sofia Tolstói apenas por foto e sempre ao lado do marido Leon Tolstói, o grande romancista russo. Quando li o monólogo, foi uma mistura de sentimentos: amor por ela e choque por conhecer o outro lado de Tolstói. Apesar de toda a sua genialidade, ele era um homem comum, um russo seguidor fiel dos ensinamentos do Domostroi, que, em russo, significa ‘ordem na casa’, ‘se o marido não domar a esposa, todo lar desmorona’. Conheço várias mulheres que ainda hoje vivenciam os mesmos conflitos que Sofia. Talvez leve mais alguns séculos para que uma mudança concreta ocorra e que, finalmente, as mulheres tenham seu protagonismo reconhecido, reflete Rose Abdallah.

Sofia foi casada com o célebre escritor russo Leon Tolstói por 48 anos, até que, no dia 28 de outubro de 1910, ele fugiu de casa e acabou morrendo dez dias depois na estação ferroviária de uma pequena vila a 300 quilômetros de distância. A culpa sobre a morte do famoso escritor recaiu sobre Sofia, que foi considerada uma megera da qual Tolstói havia fugido e, por isso, morrera.

Foram quase 50 anos de brigas entre o escritor e a esposa. Um século de machismo estrutural, somado à imensa fama planetária e importância da obra de Tolstói, legou à Sofia o papel de megera. No entanto, o movimento feminista vem corrigindo essa injustiça. Durante toda a relação, cada qual retratou em diários o que se passava entre eles, em detalhes. É a leitura atual desses diários que deixa clara a relação tóxica, abusiva e patriarcal do homem Leon, independentemente de seu inquestionável talento literário. É a partir do conteúdo desses diários que o dramaturgo Ivan Jaf constrói seu monólogo, dando voz a Sofia. Não uma voz contida pela repressão da mulher na Rússia do começo do século XX, sob o peso da Igreja Ortodoxa e da mão pesada do czarismo, mas um discurso com toda a verve libertária da indignação feminina atual.

Os trajes pesados do figurino de Giovanni Targa, que remetem ao severo inverno russo, são destaques na encenação. “O figurino por si só é um espetáculo, passando por vários séculos 18, 19 e 21 as roupas são colocadas e trocadas durante a apresentação como camadas. Como são roupas pesadas com muitos detalhes e muitos botões, a concentração é ampliada na execução. Tem uma ordem certa para vestir as peças”, explica Rose.

Ficha técnica

  • Autor: Ivan Jaf
  • Direção: Johayne Hildefonso
  • Idealização e atuação: Rose Abdallah
  • Desenho de luz: Evely Silva
  • Visagismo e adereços: Ancelmo Salomão Saffi
  • Direção de arte: Giovanni Targa
  • Música original: André Abujamra
  • Cenários e figurinos: Giovanni Targa, Alessandra Miranda, Miguel Sasse e Ricardo Ferreira
  • Costureira: Edeneire Santos
  • Marcenaria: Alexandre Ramos
  • Fotografia: Vitor Kruter
  • Designer gráfico: Maurício Tavares / Inova Brand
  • Artes gráficas e redes sociais: Silvana Costa
  • Assessoria de imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
  • Direção de produção: Rose Abdallah e Sandro Rabello
  • Produção executiva: Márcio Netto / Ganga Projetos Culturais
  • Realização: Rose Abdallah / Abdallah Produções e Sandro Rabello / Diga Sim Produções

Serviço:

  • Temporada: De 16 de fevereiro a 13 de abril de 2024
  • Dias e horários: sextas e sábados, às 19h30.
  • Teatro Glauce Rocha/Auditório Murilo Miranda: Av. Rio Branco, 179, Centro.
  • (Espaço cultural da Fundação Nacional de Artes – Funarte)
  • Telefone: (21) 2220-0259.
  • Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada).
  • Duração: 1h
  • Lotação: 68 pessoas
  • Classificação: 14 anos

Venda de ingressos:

Sympla (https://bileto.sympla.com.br/event/90119/d/234031/s/1592483) e bilheteria do teatro

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