A força da mulher brasileira e o poder transformador da poesia são os temas da Mostra Mulheres da Palavra – Ana, Cora e Carolina, que será apresentada no Centro Cultural Justiça Federal, a partir de 23 de fevereiro. Três espetáculos que homenageiam mulheres visionárias compõem o projeto, idealizado pelas atrizes e produtoras teatrais Paula Furtado e Raquel Penner: “Eu, amarelo: Carolina Maria de Jesus” (23 a 25/02), “Tenho Quebrado Copos” (01 a 03/03), criado a partir da obra de Ana Martins Marques, e “Cora do Rio Vermelho”, inspirado na vida e na obra de Cora Coralina (08 a 10/03). Os três espetáculos são dirigidos por Isaac Bernat, que completa 40 anos de trajetória artística. Isaac também será responsável por ministrar a oficina teatral “O Olhar do Griot e o Ofício do Ator” (09 e 10/03), a partir da sua pesquisa sobre o griot africano Sotigui Kouyaté. Toda sexta-feira haverá um debate com o público após as sessões, com a participação da equipe artística dos espetáculos e da artista e palhaça Karla Concá. O projeto é apresentado pelo Governo Federal, Ministério da Cultura, Governo do Estado do Rio de Janeiro, Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, através da Lei Paulo Gustavo.
A mostra nasceu do desejo de reunir três monólogos femininos de sucesso no circuito teatral que dialogassem entre si. As três artistas homenageadas utilizaram a palavra escrita para falar da sua gente, da sua região e da sua realidade. Juntas, as três formam um trio literário que não apenas conta histórias, mas também revela percepções profundas sobre as relações humanas.
“Falamos sobre mulheres que escrevem e transformam a realidade à sua volta, através da palavra poética”, descreve Raquel Penner. “Ana, Cora e Carolina são mulheres à frente de seus tempos, que, mesmo enfrentando dificuldades e preconceitos – condizentes a épocas e gerações distintas, obviamente – quebraram barreiras com atitudes que marcaram suas obras e servem de inspiração para outras mulheres”, acrescenta Paula Furtado.
O diretor Isaac Bernat conta que a ideia de reunir três importantes escritoras brasileiras com características tão diversas e originais nasceu da vontade de apresentar a riqueza da nossa literatura sob o olhar feminino. “Maria Carolina de Jesus, Cora Coralina e Ana Martins Marques nos fazem visitar o Brasil que grande parte do público desconhece, apesar da genialidade e da beleza das suas escritas”, explica. “Como cantava Elis Regina, “o Brasil não conhece o Brasil”. No entanto, o êxito que temos alcançado com as três peças, que já circulam separadamente pelo Brasil, se deve à graça de contar com três grandes atrizes. Como diretor dos três monólogos me sinto presenteado e honrado quando vejo Cyda Moreno, Raquel Penner e Paula Furtado dizerem, cada uma à sua maneira, as palavras que o Brasil precisa ouvir para ser uma país mais justo, solidário e repleto de poesia. Mulheres de Palavra bebe na fonte destas seis mulheres incríveis para despertar, sensibilizar e encantar o público brasileiro” completa o diretor.
“Eu, amarelo: Carolina Maria de Jesus”
Com dramaturgia de Elissandro de Aquino, a partir da obra de Carolina Maria de Jesus, direção de Isaac Bernat e atuação de Cyda Moreno, a peça apresenta um retrato contundente da ex-catadora de papel que se transformou na maior escritora negra do país do século XX, com mais de um milhão de livros vendidos, traduzidos em 13 idiomas para 80 países. Carolina Maria de Jesus devotava a sua vida a um propósito: seu amor à literatura que a fez combater as desigualdades do mundo. Não é à-toa que Carlos Drummond de Andrade a considerou “a mais necessária e visceral flor do lodo”.
O livro “Quarto de Despejo” serviu de base para a adaptação teatral e evidencia as inquietudes sociais e as experiências emocionais de quem vive na falta. Indicada ao Prêmio Shell de 2023a dramaturgia apresenta fragmentos da autora através de “Quarto de Despejo”, “Diário de Bitita”, “Casa de Alvenaria” pesquisa biográfica e provérbios. Sua obra só foi redescoberta na década de 90, graças ao pesquisador brasileiro José Carlos Sebe Bom Meihy e do norte-americano Robert Levine. No exterior, porém, ela nunca deixou de ser lida e estudada, sobretudo nos EUA, onde “Quarto de Despejo”, traduzido como Child of the Dark, é utilizado nas escolas.
“Tenho quebrado copos”
Com direção de Isaac Bernat, atuação de Paula Furtado e música original e voz de Soraya Ravenle, “Tenho quebrado copos” reúne poesias da mineira Ana Martins Marques, vencedora do prêmio da Biblioteca Nacional e terceiro lugar no Oceanos, mais importante prêmio literário entre os países de língua portuguesa. São poemas que falam de amor, solidão, devaneios filosóficos, entre outros temas existenciais retirados dos livros “Risque esta Palavra” (2021), “O livro das Semelhanças” (2015, terceiro lugar no prêmio Oceanos) e “Da Arte das Armadilhas” (2011, vencedor do prêmio da Biblioteca Nacional). A concepção do monólogo surgiu do próprio Isaac, que conheceu a obra da poeta por acaso. “Estava ouvindo o podcast Foro de Teresina. No final, eles sempre dão uma dica cultural. Eles falaram tão bem e com tanto entusiasmo dela, que fiquei curioso e comprei o livro. Foi um impacto indescritível”, contou o diretor. “O encontro com o texto de Ana acendeu dentro de mim o desejo de partilhar com o público a sutileza, a beleza e o frescor de sua obra. Aí pensei imediatamente na Paula Furtado, que incorpora essa mesma força visceral”, descreve o diretor.
Cora do Rio Vermelho
Com dramaturgia de Leonardo Simões, direção de Isaac Bernat e atuação de Raquel Penner, o monólogo fala sobre a força feminina e da alma da mulher brasileira a partir da obra e da vida de Cora Coralina, pseudônimo de Anna Lins dos Guimarães Peixoto Bretas (1889 – 1985), considerada uma das mais importantes escritoras brasileiras. Nascida na cidade de Goiás, ela viveu mais de quatro décadas em São Paulo. Apesar de escrever seus versos desde a adolescência, ganhava a vida como doceira, e seu primeiro livro só foi publicado em junho de 1965, quando tinha quase 76 anos de idade. Escreveu sobre os lugares onde viveu, as pessoas com as quais se relacionou e a natureza que observava. Na peça, a atriz se torna uma contadora de histórias atravessada pelo amor e pela entrega que Cora dedicou a sua tradição e a sua gente.
A dramaturgia reúne passagens de sua vida e poemas retirados dos livros “Vintém de cobre – meias confissões de Aninha”; “Meu Livro de Cordel”; “Villa Boa de Goyaz”; e “Poemas dos becos de Goiás e estórias mais”. “A partir de um recorte sensível de obras feito pela Raquel e com a toada poética de Cora, busquei nessa abordagem teatral uma geografia de sensibilidade e memórias, uma paisagem sonora que a atriz observa e traduz a partir do simbólico quarto de escrita, mesclada aos seus fazeres de doçura”, explica o autor Leonardo Simões. Ao longo da encenação, aparecem músicas populares, unindo vozes femininas de cantoras-atrizes do cenário teatral brasileiro: Aline Peixoto, Chiara Santoro, Clara Santhana, Cyda Moreno e Soraya Ravenle
Ficha técnica Mostra Mulheres da Palavra – Ana, Cora e Carolina
Idealização e produção geral: Paula Furtado e Raquel Penner
Direção artística dos espetáculos e professor da Oficina: Isaac Bernat
Designer gráfico e fotografias: Bianca Oliveira – Estúdio da Bica
Participação nos debates: Karla Concá
Intérprete de libras: JDL Traduções
Audiodescrição: Cinema Falado
Assessoria de Imprensa: Rachel Almeida (Racca Comunicação)
Mídias Sociais: Lyana Ferraz
Ficha técnica de cada espetáculo
Eu Amarelo: Carolina Maria de Jesus
Idealização, produção executiva e dramaturgia: Elissandro de Aquino
A partir da obra de Carolina Maria de Jesus
Atuação: Cyda Moreno
Iluminação: Aurélio de Simoni
Figurino: Margo Margot
Cenário: Sergio Marimba
Operador de luz: Rafael Peña Turatti
Tenho Quebrado Copos
Atuação: Paula Furtado
A partir da obra de Ana Martins Marques
Produção executiva: Diene Ghizzo
Música original e voz: Soraya Ravenle
Operador de som: Miguel Diniz
Cora do Rio Vermelho
Idealização e atuação: Raquel Penner
Dramaturgia: Leonardo Simões
A partir da vida e obra de Cora Coralina
Produção executiva: Clarissa Menezes
Iluminação: Ana Luzia de Simoni
Cenário e figurino: Ney Madeira e Dani Vidal – Espetacular Produções & Arte
Técnico e operador de luz: Bruno Henrique Caverninha
Operador de som: Rafa Barcelos
Contrarregra: Wellington Fox
Serviço:
Dias e horários: sexta a domingo, às 19h – Uma peça por semana
23, 24 e 25 de fevereiro: Eu, amarelo: Carolina Maria de Jesus
01, 02 e 03 de março: Tenho Quebrado Copos
08, 09 e 10 de março: Cora do Rio Vermelho
Centro Cultural Justiça Federal: Av. Rio Branco 241 – Centro (Cinelândia)
Telefone: (21) 3261-2550
Ingressos: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada). R$ 40 (passaporte da poesia para quem comprar ingresso para os três espetáculos e R$ 10 (para os participantes das oficinas)
Duração de cada: 60 minutos
Lotação: 140 lugares
Classificação de cada: 12 anos (todos os espetáculos)
Venda de ingressos: https://linktr.ee/mulheresdapalavra2024 ou no CCJF, a partir das 18h em dia de apresentação, caso a sessão não esteja lotada
—->Todas as apresentações da Mostra terão a presença de intérprete de libras
—-> As apresentações com audiodescrição, realizadas pela empresa Cinema Falado, acontecerão sempre às sextas-feiras.
—->Toda sexta-feira terá debate com o público, com a participação da equipe artística do espetáculo e da palhaça Karla Concá.
Oficina teatral “O olhar do griot e o ofício do ator”
Dias: 09 e 10 de março (sábado e domingo)
Horário: 10h às 14h
Professor da Oficina: Isaac Bernat
Centro Cultural Justiça Federal: Av. Rio Branco 241 – Centro (Cinelândia)
Telefone: (21) 3261-2550
Valor: Gratuito
Vagas: para 20 participantes
Inscrições: pelo link disponível nas bios dos instagrans dos espetáculos: @coradoriovermelho, @tenhoquebradocopos e @euamarelo.espetaculo