Festejando 30 anos de carreira, Lílian Menezes está em cartaz até dia 1 de dezembro com o premiado espetáculo “Elis, a Musical”, dirigido por Dennis Carvalho, onde divide protagonismo com Laila Garin. A produção passou recentemente por Recife, Fortaleza, São Luiz e Rio de Janeiro. Lílian Menezes está atuando em “Elis – a musical” desde sua primeira montagem, há 13 anos.
SOPA CULTURAL: Como é fazer parte de um projeto tão duradouro? E a que você atribui o sucesso desse projeto?
Lilian Menezes: É muito bacana ter visto esse espetáculo nascer e fazer parte desse processo desde o início. Passamos por tantas coisas nesses últimos 11 anos que nós nem imaginávamos quando o espetáculo começou a ser montado, e entender o quanto ele é importante para nossa história, e que o público quer ouvir o que a gente tem para contar, dá um prazer imenso. Têm muitos fatores que fazem o musical ser um sucesso por tanto tempo. Inegavelmente, Elis vem antes de tudo, por ser ela, por toda sua expressividade para a nossa história, por seus fãs e sua música. É a maior de todas as razões para essa longevidade. Mas, na cola disso, tem os profissionais por trás, que são artistas em todas as áreas, da galera da graxa à direção. Todos os profissionais de gabarito e excelência onde atuam. Nosso diretor Dennis Carvalho, que foi amigo de Elis e teve todo o zelo na construção dessa história, acompanhou de perto cada etapa, escolhendo minuciosamente, junto com a produção, os profissionais que atuaram nessa criação. As coreografias e a movimentação de Alonso Barros são outro destaque do espetáculo, a meu ver, cheias de personalidade, e que ajudam a contar a história com beleza e força, aliadas as músicas, claro, que dispensam comentários. Junta nessa mistura um elenco muito bem escolhido por Dennis e que dá vida a todas essas criações. E, é claro, não posso deixar de fora as protagonistas nessa fórmula de sucesso. Não vou negar que Laila Garin e eu fazemos muito direitinho nosso trabalho em reviver Elis. Somos um belíssimo time e há muita amizade e colaboração entre todos os profissionais envolvidos, o que é a cereja do bolo dessa longevidade.
SOPA CULTURAL: Você atualmente reveza o protagonismo do espetáculo com Laila Garin. Como é administrar a responsabilidade e a alegria de dar vida à uma artista tão importante para a cultura nacional como Elis Regina? E como vocês fizeram pra alinhar as duas interpretações?
Lilian Menezes: Desde nossa primeira temporada no Rio de Janeiro, em 2013, alterno com Laila no papel de Elis, e já estive a frente do espetáculo sozinha também, então é um compartilhamento de responsabilidade que já faz parte da nosso história, e vai de acordo com a demanda e a disponibilidade de cada uma de nós a cada temporada. E sempre contamos muito uma com a outra. Laila e eu somos grandes parceiras nessa empreitada, nos apoiamos muito para dar ao espetáculo o melhor, além da admiração e respeito que temos uma pela outra.
Dar vida a Elis é uma missão que exige muito comprometimento, justamente por ser ela uma referência, e não basta saber cantar como ela, ou imitar seus trejeitos. É uma personagem muito complexa e que exige muito de quem se coloca como invólucro dela. Porque, para mim, é isso. Vai além do imitar, tem que ter conteúdo e Elis tem de sobra para nos preencher. Acho que Laila e eu temos esse mesmo pensamento com relação ao personificar Elis e cada uma de nós traz para a personagem dinâmicas muito diferentes, e isso é muito enriquecedor para o espetáculo e para o público, que pode desfrutar de Elis em diversas camadas e intensidades, a partir da visão particular de cada uma de nós. Trazer uma personagem biográfica para a cena é um trabalho que exige um cuidado além, ainda mais em se tratando de uma figura tão marcante para nossa história coletiva e individual.
SOPA CULTURAL: Como artista e como mulher, chegou a aprender algo com Elis observando sua trajetória?
Lilian Menezes: Elis sempre foi uma referência na minha carreira muito antes de interpretá-la, e posso dizer que me enriqueço com ela todos os dias. São muitas camadas dentro de um único ser e quanto mais me aprofundo, mais aprendo com a mulher, a mãe, o ser humano que ela foi, para além da artista. Elis foi muito necessária não só para a música, mas para a sociedade em diversos aspectos. Foi uma cidadã engajada e de extrema coragem num período conturbado da nossa história, uma mulher muito potente, que abriu caminhos e portas para muitas de nós, que se impôs num mercado que era, majoritariamente, masculino e se fez respeitar. E era uma alma sensível e caridosa, que ajudava muita gente, fosse financeiramente, fosse com uma palavra, fosse de corpo presente, como fez quando Rita Lee foi presa e ela, carregando João Marcelo debaixo do braço, foi até a delegacia saber como estava sendo tratada. Tinha coragem de sobra, apesar de suas inseguranças pessoais, que tinha seus momentos impetuosos e imperativos, mas era uma pessoa cuidadora e cuidadosa, justa e afetuosa.
E vale dizer que é uma aula de profissionalismo e dedicação. Não foi à toa que alcançou os mais altos patamares, sendo uma referência até hoje, e sendo ainda, considerada mencionada como uma das maiores cantoras do Brasil.
Elis é uma pessoa muito à frente do seu tempo. E digo é no presente, porque ela é atual e é o futuro. E vai estar sempre aí, praa dizer que “o passado é uma roupa que não nos veste mais”.
SOPA CULTURAL: “Elis, a musical” está terminando essaa temporada em São Paulo. Como é se apresentar para uma plateia que já aplaude o espetáculo há anos?
Lilian Menezes: Estamos na metade de nossa terceira temporada paulistana e é uma grande satisfação quando recebemos o retorno do público, que não só aprova, como volta muitas vezes para poder viver a experiência de ver Elis em cena. É muito gratificante!
A interação com o espetáculo e a participação nas músicas é uma coisa de arrepiar. Em especial as cenas de “Como Nossos Pais” e “O Bêbado e a Equilibrista”, em que o público canta junto do início ao fim é emocionante.
SOPA CULTURAL: Para 2025 você tem planos de fazer uma homenagem pelos 80 anos de Elis Regina com um show. Conte mais sobre esse projeto.
Lilian Menezes: Sim, já estamos mexendo os pauzinhos pra retomar essa homenagem com o show “Lilian Menezes canta Elis”, que tem um significado muito especial pra mim, não só pela ligação que tenho com Elis e seu repertório desde muito antes de interpretá-la no teatro, mas, porque foi meu retorno aos palcos depois da pandemia, em 2021, no Blue Note em São Paulo, e me relembrou os porquês de ser artista, depois de passarmos por um período tão doloroso. E como Elis completaria 80 anos em 2025, decidi trazer de volta essa homenagem a essa mulher que marcou tanto a minha vida e minha história.
Nesse show, canto músicas que fazem parte da minha vivência com Elis, trazendo a minha própria interpretação para alguns dos grandes clássicos dela, mas, é claro, sem me afastar muito da identidade do que o público busca ouvir ao assistir um show em tributo a Elis. Tenho a sorte de ter como diretor musical e companheiro de palco o baixista e produtor Marcelo Mariano, que me acompanha nesse projeto desde o início, além de Cuca Teixeira na bateria e Conrado Goys no piano para essa próxima temporada.