Museu Bispo do Rosário recebe exposição “Para todo sonho, chão”

Com entrada gratuita, a mostra evidencia trabalhos que pensam o direito a sonhar, com obras desenvolvidas num período de residência artística dos integrantes do projeto Casa Pública com os artistas do Ateliê Gaia

por Redação
Patrícia Ruth - Foto: Alex Motta..

Após ter suas duas primeiras edições realizando o encontro espontâneo de transeuntes com a arte ao percorrer espaços públicos da cidade do Rio de Janeiro, o projeto Casa Pública fixa seu ponto temporariamente na galeria do Ateliê Gaia, no Museu Bispo do Rosário, em Jacarepaguá, contemplado com o edital Nossos Museus da SECEC RJ. Como um desdobramento do Residência Pública: do corpo ao território, o primeiro programa de residência artística da plataforma Casa Pública, criou-se a exposição “Para todo sonho, chão”, onde os quatro artistas do Casa – as diretoras Mery Horta e Mariana Paraizo e os artistas convidados Rafael Amorim e Ju Morais – uniram-se a 11 artistas de diferentes gerações do Ateliê Gaia sob a curadoria da equipe do museu, Carolina Rodrigues, Napê Rocha e Geovana Melo. A abertura da exposição, no dia 03 de setembro, acontece às 14h.

“Os encontros adotaram principalmente o formato de conversas e trocas de experiência e a itinerância por esses locais do entorno que estão intimamente ligados à história do museu e dos próprios artistas do Ateliê Gaia. Nossa ideia, tanto com a residência quanto agora, com a exposição, é expandir a prática e pesquisa já desenvolvidas no Casa Pública sobre as dinâmicas entre público e privado, íntimo e comunal, para esse encontro com o Ateliê Gaia e com as questões do território da Colônia”, explica a artista Mery Horta, diretora do Casa Pública.

Destes encontros, ocorridos ao longo de dois meses em diversos espaços do Museu Bispo do Rosário – incluindo caminhadas pelo território da Colônia, que equivalem em sua dimensão espacial ao bairro de Copacabana – nasceram os 28 trabalhos que compõem a exposição, que possui entrada gratuita em toda sua permanência no espaço – que termina em 18 de outubro. Por parte do Ateliê Gaia, compõem a exposição o trabalho os artistas Ana Beatriz Barbosa, Cãmi Sarros, Clovis Aparecido, Gilmar Ferreira, Ivanildo Pereira, Jane Almendra, Leonardo Lobão, Luiz Carlos Marques, Patrícia Ruth, Ranieri e Rogéria Barbosa.

“A exposição parte de algumas discussões sobre acesso e direito à moradia, sobre seguridade física e emocional, que nos levaram a pensar o sonho. Para sonhar, o corpo precisa se sentir minimamente seguro, seja um sonho acordado, como a vontade de ter uma casa própria, seja o acesso ao mundo onírico, que muitas vezes temos ao dormir e desligar o estado de consciência. O sonho, tão importante nos estudos da saúde mental, é, também, propiciador de saúde física e de bem estar para o mundo acordado. Em uma vida cada vez mais acelerada de trabalho e afazeres na contemporaneidade, o momento do descanso, do sonho, se torna mais e mais precário e, ao mesmo tempo, extremamente necessário. Afirmamos que sonhar é vital, e ter um chão para tal é tão importante quanto”, considera Mery.

Para Napê Rocha, curadora e coordenadora de residência do Museu Bispo do Rosário, é importante destacar o papel formador do Museu Bispo do Rosário como um espaço em constante diálogo, e que tem como premissa os processos artísticos. “O Ateliê Gaia reúne artistas que vivenciam cotidianamente o Museu, que se configura como um espaço que valoriza as relações com o território e com as pessoas que nele vivem. Para o caminhar do projeto Casa Pública, foi fundamental a imersão no território, no Memorial de Arte e Resistência e na história da Colônia como um todo. Pensar habitação tem sido a tônica do trabalho da equipe de curadoria que encontrou, nas obras dos artistas, através de um acompanhamento aproximado, elementos que evidenciam conceitos basilares para o projeto Casa Pública, como o habitar, as políticas de acesso à moradia e saúde, e a relação do corpo com e no espaço”, pontua.

Fruto de um encontro inédito entre diferentes artistas, as obras selecionadas para a exposição procedem de uma pluralidade de processos. A artista e diretora do Casa Pública Mariana Paraizo acredita numa contaminação positiva por parte de todos os participantes da residência, catalisada pelas interações pontuais, mas intensas, a cada semana; pelo aprofundamento dos temas explorados em cada eixo da residência (saúde mental e acesso a moradia, território da Colônia, arte e espaço público, e corporeidades); e pela vontade de aproximação a nível pessoal, resultado dos interesses em comum e reconhecimento mútuo.

“Há obras que surgem deste encontro direto entre os artistas do Ateliê Gaia e os do Casa Pública, feitas a ‘mais de uma mão’. No entanto, isto ocorreu em maior parte como propostas autônomas dos artistas, pois a Residência Pública tem como mote estimular colaborações, mas sempre de forma espontânea, preservando a autonomia dos processos artísticos e a potência já conquistada pelas trajetórias pessoais. O núcleo curatorial lançou mão de uma ‘costura’ cuidadosa entre obras que se encontravam finalizadas e aquelas desenvolvidas durante o processo da residência”, sintetiza Mariana.

Acontecendo dentro de um atual espaço cultural que, em sua trajetória, ficou famoso por ter abrigado durante décadas uma instituição manicomial, a exposição traz ainda em suas camadas um debate sobre as esferas do público e do privado. E, se conectando às edições anteriores, que aconteceram em praças públicas, foi numa das caminhadas realizadas no amplo espaço que os artistas se depararam com uma praça que teve importância na história daquele território em diferentes períodos.

“Essa praça tão simbólica foi eleita como local onde acontecerão parte dos nossos trabalhos da exposição, incluindo uma performance coletiva que será realizada no dia 20 de setembro às 14h, em itinerância saindo do Museu até o local da praça em que estão instaladas outras obras artísticas, como uma ativação desse espaço público”, antecipa Mery. Compõe o projeto da exposição ainda um ciclo de oficinas gratuitas, realizadas pelos artistas desta edição do Casa Pública e voltado tanto aos adultos, quanto a um público mais jovem.

“Cada proposta de oficina foi elaborada pelo próprio artista oficineiro, e tem como público alvo pessoas de diferentes faixas etárias interessadas em artes e criação. As técnicas e assuntos variam de acordo com a poética de cada proposta, explorando técnicas como a costura, a impressão, a pintura, e o uso de palavras tanto para criação de poemas, quanto para desenvolvimento de desenhos e imagens textuais”, encerra Mariana Paraizo.

SERVIÇO

Exposição “Para todo sonho, chão

  • Abertura: 03 de setembro às 14h
  • Visitação: 03 de setembro a 18 de outubro de 2025
  • Horário: Terça-feira a sábado, de 9h às 17h
  • Local: Museu Bispo do Rosário
  • Endereço: Estr. Rodrigues Caldas, 3400 – Curicica – Jacarepaguá – Rio de Janeiro
  • Entrada Gratuita

OFICINAS GRATUITAS

Oficina: “Impressões do caminho

  • Artista: Mery Horta
  • Dia: 23 de setembro
  • Horário: 14h
  • Público alvo: Pessoas acima de 18 anos
  • Duração: 2 horas – com intervalo de 30 minutos

Resumo: Todos os caminhos da colônia nos levam à uma reflexão sobre o passado deste território. E se nós olhássemos para as coisas desse território de outra forma para ressignificarmos o presente em diálogo com o passado? Nesta oficina iremos compartilhar histórias sobre o território da Colônia e a partir dessa troca realizar uma busca por materiais descartados na natureza que serão nossos moldes e pincéis para a criação de pinturas e impressões.

Oficina de criação de palavras

  • Artista: Mariana Paraizo
  • Dia: 2 de outubro
  • Horário: 14h
  • Público Alvo: Pessoas acima de 7 anos de idade
  • Duração: 2 horas (com intervalo de 20 minutos)

Resumo: Como a literatura e as artes visuais propõem caminhos para a invenção de palavras novas? Os chamados neologismos serão a base para esta oficina, que visa a expansão da arte através da “palavra-valise” e de métodos experimentais de criação de palavras. Como referências, teremos palavras e obras de Lewis Carroll, Cecília Vicuña e Fabio Morais, além do trabalho-coleção “Vocabuleta”, de autoria da oficineira Mariana Paraizo. O propósito da oficina é incentivar a imaginação, explorando as artes de forma inusitada e colaborativa, criando um link entre as artes visuais e a linguagem textual.

Oficina: Fragmentos que falam

  • Artista: Ju Morais
  • Dia: 25 de setembro
  • Horário: 14h
  • Público alvo: Pessoas acima de 14 anos
  • Duração: 2 horas

Resumo: A oficina convida os participantes a percorrer o espaço do Museu Bispo do Rosário em busca de pequenos vestígios: folhas secas, sementes, caquinhos, pedaços de papel, fios ou qualquer fragmento que carregue a memória silenciosa daquele lugar. Durante a caminhada, cada participante será convidado a anotar uma palavra ou breve frase inspirada pelo que viu, sentiu ou lembrou. Essa palavra poderá nascer de uma sensação, de uma memória ou até de algo lido ou ouvido no percurso. De volta à sala, os fragmentos serão dispostos sobre papel e protegidos por plástico transparente costurados, criando pequenas “arqueologias afetivas”. A palavra ou frase será então incorporada à composição e fixada através da costura. Nesse processo, a linha conecta material, memória e gesto, transformando a coleta em narrativa visual e tátil.

Oficina: Como é que eu devo fazer um poema no fundo da minha casa?

  • Artista: rafael amorim
  • Dia: 18 de setembro
  • Horário: 14h
  • Público alvo: Pessoas acima de 16 anos de idade
  • Duração: 2 horas (com intervalo de 20 minutos)

Resumo: Visto que a nossa Zona Oeste foi e ainda é um território feito por muitas mãos, evidenciando as coletividades que mantém de pé nossa terra, como seria um poema feito em conjunto neste território? A oficina tem por objetivo estimular a criação poética e coletiva a partir do encontro no e com o território. Durante duas horas de experimentação, conversa e trabalho com referências artísticas e literárias, na oficina teremos a oportunidade de pensar exercícios de colagem, apropriação e confecção de um poema coletivo impresso.

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