Noites Cruas

“Noites Cruas”: Jean Soter narra com crueza a realidade de duas garotas de programa em romance conciso e lírico

A obra publicada pela editora Labrador centraliza seu enredo nas histórias de Karina e Rose, trazendo suas trajetórias erráticas e criando um retrato da miséria

por Jorge Rodrigues

Vida noturna, vida na estrada, miséria e prostituição. Esses são os temas centrais que o autor paulista Jean Soter (@jeansoterescritor) apresenta em seu romance “Noites Cruas” (editora Labrador, pág. 192) por meio da trajetória de Karina e Rose, duas garotas de programa. A obra conta com ilustrações de Pedro Graça.

A ficção possui 11 capítulos de narrativa realista, concisa e com elementos líricos, que conferem sensibilidade ao texto. Neles, o autor entrelaça as histórias das protagonistas com as de outros personagens que representam camadas marginalizadas da sociedade, como caminhoneiros, cafetinas, migrantes e moradores de rua. Por meio do detalhamento breve da trajetória, sonhos, angústias e sentimentos desses personagens, Jean confere a eles humanidade.

No capítulo inicial, o leitor é apresentado a Karina, descrita pelo narrador como “uma jovem sonhadora e distraída, criada com muitos mimos pelo pai”, que ascendera de cortador de cana para maquinista de usina de açúcar. Quando o pai e maior provedor da família morre, as vidas de Karina  e de sua irmã mais velha tornam-se muito difíceis, devido aos desregramentos da mãe, Geisa. Com as complicações da situação financeira e os ciúmes de Geisa da relação do padrasto com Karina, há uma briga entre as duas, e a garota é expulsa de casa.

Jean Soter

Jean Soter – Foto: Mandawa Studio

Sem lar, Karina conhece Rose, a outra protagonista central do livro, em um posto de gasolina na rodovia. Rose, ao contrário de Karina, conheceu a miséria desde a infância, “tempos em que vivia com a mãe, no cubículo que havia sido uma borracharia, à beira da estrada, junto ao posto de gasolina falido e abandonado” (pág. 26).

Ao longo da obra, vão sendo descritas as vitórias e quedas das garotas enquanto passam por diferentes cidades, que são identificadas apenas por suas iniciais, deixando para o leitor a tarefa de descobrir (ou pelo menos tentar) o local em que elas estariam.

Um livro com “gosto de estrada”

Jean relata não saber ao certo porque escolheu os temas centrais de seu livro, apenas dizendo que queria escrever um romance e a inspiração lhe veio assim. “O que sei é que o livro tem um gosto de estrada”, comenta. “Talvez seja porque rodei muito o Brasil, de carro.”

Jean Soter  é autor de Noites Cruas (2013) e das coletâneas de contos A Transferência (2007) e O Vendedor (2018). No momento, trabalha como autônomo no mercado de ações; nos intervalos lê e escreve literatura. Natural do interior de São Paulo, onde nasceu em 1974, vive no Rio de Janeiro desde 2009.

O exercício da escrita está presente em sua vida há 20 anos. “Meu processo de escrita é difícil, trabalhoso, por vezes frustrante”, confessa. “Sofro para escrever, mas depois que escrevo, não costumo ficar apagando e refazendo. Aprendi (a escrever literatura) fazendo, meu estilo foi mudando aos poucos. De um livro para o outro, percebo uma tendência à concisão.”

Como influências literárias, o autor cita leituras como “Noite na Taverna” do Álvares de Azevedo; e os autores Dostoiévski e Graciliano Ramos. Foi inclusive por conta das ilustrações de livros desses autores que Jean decidiu contratar um ilustrador para “Noites Cruas” em 2019, com a intenção de valorizar a obra. Jean pretende publicar seus dois outros livros em breve, sendo que as ilustrações do seu primeiro, “A Transferência”, estão sendo finalizadas.

“Depois virá o último que escrevi, ‘O Vendedor’, também de contos, que não sei se será ilustrado”, conta, informando também que está trabalhando em uma nova obra. “No momento estou escrevendo uma narrativa longa – que pretende ser um romance – quase todo ambientado no Rio, onde vivo há uns 15 anos.”

Confira um trecho do livro “Noites Cruas”, de Jean Soter:

“A casa tinha virado uma zona, depois da morte do pai. Como a mãe tinha mudado… só pensava em homem, parecia que nem se lembrava mais das filhas! Karina pegou a carteira, tirou uma foto do pai… Por uns segundos, contemplou-a comovida: Pai, vou cair nesse mundão! Onde você estiver, proteja sua filha…”

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