Com um humor amargo, a peça apresenta o embate de um casal recém-separado, as voltas com a guarda compartilhada de um filho rebelde, enquanto ambos tentam refazer suas vidas.
Todo final, ainda que triste, teve um início feliz.
– Você não atende mais meus telefonemas.
– Eu não estou mais disponível pra você, eu tenho uma vida.
– E o nosso filho? Quando ele volta da sua casa, ele volta mais agressivo.
– Você tem como provar?
A única prova é que o amor acabou. Os corpos se separaram, a vida seguiu adiante, e esse filho, antes tão desejado, se transformou no epicentro de uma crise sem previsão para terminar. São tempos
amargos, que intercalam o alívio pela decisão da separação com as dificuldades de lidar com uma guarda compartilhada. Um filho que poderia ser uma benção, uma família que poderia ter sido feliz,
mas não conseguiu. Sobrou muito pouco do que havia de especial entre eles, e o casal está à deriva, esperando o resgate de um sonho que não tem volta.
A peça:
Diante de um juiz, nenhum dos dois é capaz de abrir mão de suas mágoas. E a disputa de como criar um filho de pais separados parece não ter fim. O tempo ajuda a curar todas as dores, mas enquanto o tempo não passa, eles continuam a se deparar com a perplexidade de um final eminente que nenhum dos dois desejou. “A gente podia ficar aqui conversando, durante horas, para tentar entender o que aconteceu, e no final nenhum dos dois ia ter razão.”
Objetivo:
Encenar um espetáculo com dois atores, onde abordamos o relacionamento de um casal logo após sua separação. Com uma guarda compartilhada, eles continuam seu embate, enquanto criam o filho único, por vezes uma criança frágil e em outras horas, um pequeno manipulador. Até onde é possível determinar os limites que se impõe a essa relação que mesmo oficialmente terminada, ainda não teve seu fim? Entre risos e uma ponta de dor, o casal se expõe, a frio, diante de uma plateia cúmplice, que com certeza irá se identificar com a questão que os une e ao mesmo tempo os dilacera. Um casal separado, que tenta se reerguer enquanto reflete sobre sua vida em comum. O saldo, o que restou da convivência entre eles é por vezes engraçado, doloroso mas também humano e passível de
acontecer a qualquer um de nós.
Justificativa
O começo do fim foi escrito no intuito de expor um instante na vida de um casal no momento em que a mágoa da separação se instaura, e em que todas as referências da escolha de uma vida em comum perde seu sentido. Acreditamos que nossas escolhas são tão especiais, e sobre elas construímos nossas vidas, e perdemos a noção de que elas são apenas caminhos possíveis. E diante de cada situação limite nossos ouvidos então passam a escutar àquilo para o que sempre foram surdos. “Não me falta nada, me falta tudo.” E agora, como é que eu faço para recomeçar?
Teatro Adolpho Bloch
Edifício Manchete
Rua do Russel, 804 – Glória