Era 1981 quando Thereza Christina Rocque da Motta leu pela primeira vez “A Terra Devastada”, poema de T.S.Eliot (1888-1965) numa tradução do também poeta Ivan Junqueira (1934-2014). A poeta, então com 24 anos, não imaginava que teria com aquela obra mais do que uma relação de arrebatamento; de inspiração/provocação. Uma das autoras mais importantes surgidas na cena literária brasileira dos anos 1980, Thereza volta à poesia com O Jardim de Jacintos de Madame Sosostris (Ibis Libris), com que quebra jejum de 8 anos sem publicar algo inédito. Os 61 textos da coletânea foram compostos entre 2021 e 2023 a partir de versos extraídos – e lidos em negrito no início de cada poema – do referido texto de Eliot. A edição chega às livrarias em dezembro com prefácio de Afonso Henriques Neto, posfácios de Alberto Lins Caldas e Anderson Lucarezi, além da própria autora, e orelha a cargo de Jacinto Fábio Corrêa.
Juntamente com o livro inédito é lançada também nova edição de Lilases, publicada originalmente em 2003 e que, a exemplo de O Jardim de Jacintos de Madame Sosostris, também teve seus poemas provocados por versos de “A Terra Devastada”. Thereza voltou à obra ao participar, em 1997, de oficina sobre o referido texto e comandada pelo poeta Claudio Willer (1940-2023). No escritório onde trabalhava, a poeta escreveu os 22 poemas de “Lilases”, que, a exemplo do original, volta em edição bilíngue, desta vez com posfácio de Dominic Tomassetti e, na orelha, textos de Astrid Cabral, Marina Colasanti (1937-2025) e do próprio Willer, entre outros.
Jardim de jacintos
A glosa é uma prática comum na poesia universal e, no caso da Língua Portuguesa, ganhou vulto a partir do século XV. Em se tratando de Eliot, apontado como um dos mais importantes poetas do século XX, ele usava em seus textos – nos de “A Terra Devastada”, sobretudo – versos ou fragmentos extraídos de cânones como Dante, Shakespeare ou Verlaine, entre outros, naquilo que Afonso Henriques chama de “poética do fragmento”. Com “Lilases” e agora com “O Jardim de Jacintos’ Thereza leva adiante a máxima eliotiana num exercício poético criterioso e fiel ao rigor latente na proposta do poeta norte-americano.
E quem é Madame Sosostris afinal? A cartomante, presente em “A Terra Devastada”, não só é reavivada como dá título ao novo livro de Thereza. A obra é também dividida em cinco partes homônimas às do poema que o inspirou: “Enterro dos Mortos”, “Jogo de Xadrez”, “Sermão do Fogo”, “Morte na Água” e “A Voz do Trovão”.
Lilases
E, em cada uma delas, a poeta traz à baila questões existenciais e dualidades inerentes à vida. Estão ali temas como finitude/permanência; civilidade/barbárie, além da dicotomia entre fato e memória, acomodação e a ruptura com um modo de pensamento ou mesmo de vida. E, com isso, a autora corrobora a percepção do próprio Eliot quando dizia que, na sua escrita, um poeta traz também a de seus ancestrais.
E o resultado vai além do limiar do que é lido, como salienta o poeta Jacinto Fábio Corrêa no texto para a orelha: “É possível ouvir o que os dois poetas dizem e calam, sussurros e confissões no diálogo traçado entre os tempos”. Tempos que são os de outrora e os de agora. E, em se tratando de alta voragem poética, sempre.
Serviço:
Título: O Jardim de Jacintos de Madame Sosostris
Autora: Thereza Christina Rocque da Motta
Editora: Ibis Libris
Lançamento: dezembro de 2025
Número de páginas: 108
Formato: 16 x 23cm
Preço: R$ 60,00