À margem da sociedade, onde o direito à moradia é negado e a invisibilidade é regra, vidas inteiras se constroem na luta diária por dignidade. É desse território simbólico e político que nasce “O Nome do Rato”, que está com sua nova temporada na Casa Tão Brasil. A peça propõe um olhar humano, sensível e profundo sobre pessoas em situação de rua, convidando o público a romper estigmas e exercitar uma escuta verdadeiramente empática.
Na trama, um diretor teatral se confronta com histórias reais daqueles que vivem nos interstícios da cidade. A cena deixa de ser representação e se transforma em encontro, troca e presença – a rua deixa de ser cenário e passa a ser personagem. O espetáculo articula elementos do teatro documental e do teatro de objetos, mesclando relatos pessoais dos atores a depoimentos colhidos em uma extensa pesquisa de campo, feita com profissionais da saúde, da assistência social e pessoas em situação de rua. A advogada de direitos humanos Regina Bueno assina o apoio técnico da investigação.
O Brasil viu a população em situação de rua crescer 935,31% nos últimos 10 anos, segundo o Ipea — números que evidenciam não apenas uma crise social, mas uma tragédia humanitária. O espetáculo também traz referências à teoria da necropolítica, de Achille Mbembe, como forma de refletir sobre o poder do Estado de decidir quais vidas são preservadas e quais são descartadas, ampliando o debate sobre políticas públicas, abandono e direitos humanos.
A direção é assinada por Deisi Margarida e Ricardo Santos, indicado ao Prêmio Shell 2019, e a dramaturgia é de Ricardo Santos e Caroline Lavigne — autora do premiado “Cuidado quando for falar de mim”, peça que abordou o HIV e o estigma social. Aqui, a dupla de dramaturgos aprofunda uma linha de trabalho comprometida com temas urgentes e vozes marginalizadas.
A encenação desafia limites entre ficção e realidade. A participação especial de Leo Motta, escritor e palestrante que já viveu em situação de rua, confere ao desfecho da obra um gesto de transformação e acolhimento. O espetáculo já passou pelo Teatro Lea Garcia, no Centro Cultural dos Correios, onde recebeu pessoas em situação de rua como público convidado pela primeira vez; seguiu para o Teatro da Sede Cia dos Atores; e cumpre agora sua terceira temporada.
Em sua essência, “O Nome do Rato” é um ato de resistência e um serviço público. Um convite para que o espectador reconheça a humanidade compartilhada, questione estruturas de desigualdade e se permita enxergar quem tantas vezes é silenciado pelo sistema.
SERVIÇO
Local: Casa Tão Brasil
Rua Joaquim Silva, 77 – Centro, Rio de Janeiro
Temporada:
22 a 30 de novembro — sexta e sábado, às 20h
04 a 08 de dezembro — quinta a segunda, às 20h
Ingressos: R$ 40 (inteira) | R$ 20 (meia)
Vendas online: ingressosriocultura.
Link direto:https://www.sympla.com.
FICHA TÉCNICA
Direção – Deisi Margarida e Ricardo Santos
Direção de Movimento – Deisi Margarida
Assistente de Direção – Virgínia Bravo
Elenco – Gustavo Barbalho e Ricardo Santos
Participação Especial – Leo Motta
Texto – Caroline Lavigne e Ricardo Santos
Direção Musical – Rodrigo Marçal
Operação Audiovisual – Murillo Medeiros e Rodrigo Marçal
Desenho de Luz – Eugênio Oliveira
Figurino – Maddu Costa
Ambientação Cênica – Maddu Costa e Ricardo Santos
Design e Programação Visual – Igor Gouvêa e Murillo Medeiros
Argumento – Gustavo Barbalho
Idealização – Gustavo Barbalho e Ricardo Santos
Produção – Gustavo Barbalho e Núcleo de Criação
