O pensar em tempos digitais, este e o nosso maior desafio

por Luiz Costa
O pensar em tempos digitais, este e o nosso maior desafio

Primeiro ponto a ser questionado “ o que significa pensar?” é uma pergunta que assombrou vários filósofos e pensadores na antiguidade e perdura até hoje. Se antes ela só pertencia aos domínios da filosofia, hoje ela reside em espaços tecnológicos, éticos e culturais de toda sociedade. Da caverna de Platão até os sistemas de IA pensar continua sendo o maior enigma da existência humana e talvez o último limite transcendental entre nós e as maquinas que criamos.

No mundo antigo na Grécia, não existiam palavras exatamente como “intelecto” ou “pensar” como usamos hoje, defendem alguns especialistas. Mesmo assim Platão e Aristóteles apresentaram distinções fundamentais que permanecem uteis para este debate ate hoje. Platão, por exemplo, defendia que cada individuo tem a capacidade intuitiva e profunda de reconhecer a verdade. Este sentimento interior puro e elevado deu-se o nome de noesis; que é um insight, um pensamento puro, a intuição intelectual.

“o momento em que a alma “vê” a verdade sem intermediários”.

“o clarão que ilumina quem contempla, e não apenas quem analisa”.

Lcscosta

Aristóteles, introduziu uma separação entre dois tipos de mente: “nous pathetikos”, mais receptivo, e o “nous poietikos”, ativo e transformador. . O primeiro recebe estímulos; o segundo produz conceitos, interpretações e julgamentos. Juntos, eles compõem o que hoje chamaríamos de pensamento: uma relação dinâmica entre ser afetado e elaborar, entre sentir e ordenar, entre interpretar o mundo e agir sobre ele.

Mas o que aconteceria se as maquinas começassem a fazer parte dessas funções? E o mais provocador e preocupante para alguns, elas estariam “pensando” , e a partir desta dita e alarmada consciência, poderiam chegar a talvez inevitável conclusão que somos obsoletos ou irrelevantes.

Longe destes medos e questões os sistemas de IA avançam e evoluem assumindo diversas formas, como carros autônomos, robôs de cuidado e atividades domesticas como o NEO da 1X, um robô que usa IA, custa US$ 20 mil (cerca de R$ 107 mil) e faz tarefas domésticas simples, como dobrar roupas, limpar superfícies e carregar objetos leves. Temos drones já utilizados em larga escala até com versões militares e os mais que integrados em nossas vidas, os assistentes virtuais. Apesar disto tudo podemos discutir se colocamos por uma perspectiva que o pensamento exige algum tipo de experiência corpórea, um corpo que percebe que sente ele é afetado, sofre reage, as maquinas, embora assumam formas físicas, não possuem experiência corporal e não são afetadas por não as terem, pois apenas processam códigos, padrões, previsões estatísticas.

A emoção, a intuição, a sabedoria, a consciência moral, tudo isso ainda escapa ao frio do cálculo.

Respostas da IA podem soar assustadoramente reflexivas

Quando perguntei a própria IA: “Você consegue pensar?”, ela me respondeu: “Eu consigo processar informações, analisar padrões e gerar repostas com base em dados. Então pode parecer que estou pensando. Mas não é o mesmo que pensar como um humano. Eu não tenho consciência, emoções, intenções ou subjetividade”.

Essa declaração expõe uma linha divisória que importa, talvez não entre máquinas e humanos, mas entre processar e experienciar. Entre calcular e compreender. Ou entre responder e significar.

O pensamento humano passa por zonas nebulosas: na dúvida, no silêncio, no erro, no medo, ela atravessa todo interior do conhecimento  e suas vertentes no pensar. A IA por mais avançada que seja, ela não experimenta, não contempla, não sofre com a dúvida e talvez a e que a diferença reside.

 Pensar esteja muito mais ligado sobre fazer perguntas do que acertar repostas, pois desde a antiguidade que pensar sempre foi mais  ligado à o que nos incomoda, e foi o  que nos tirou das cavernas. Isso também que nos impede de delegar demais as maquinas, porque , permitimos que algoritmos dem. rumos de nossas vidas por nós, corremos o risco de abrir mão daquilo que nos identifica e diferencia no ato humano de pensar.

Precisamos cada vez mais lembrar que mesmo em tempos de inteligência artificial, o pensamento ainda exige corpo, presença, memoria, história e desejo. Nada disso está escrito em código…Ainda

Talvez o maior desafio de nosso tempo não seja ensinar máquinas a pensar, mas impedir que nós, fascinados por sua eficiência, esqueçamos como se faz.

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