O pensar em tempos digitais, este e o nosso maior desafio

Primeiro ponto a ser questionado “ o que significa pensar?” é uma pergunta que assombrou vários filósofos e pensadores na antiguidade e perdura até hoje. Se antes ela só pertencia aos domínios da filosofia, hoje reside em espaços tecnológicos, éticos e culturais de toda sociedade. Da caverna de Platão até os sistemas de IA, pensar continua sendo o maior enigma da existência humana e talvez o último limite transcendental entre nós e as maquinas que criamos.
No mundo antigo, na Grécia, não existiam palavras exatamente como “intelecto” ou “pensar” como usamos hoje, defendem alguns especialistas. Mesmo assim, Platão e Aristóteles apresentaram distinções fundamentais que permanecem uteis para este debate até hoje. Platão, por exemplo, defendia que cada indivíduo tem a capacidade intuitiva e profunda de reconhecer a verdade. A esse sentimento interior puro e elevado deu-se o nome de noesis; que é um insight, um pensamento puro, a intuição intelectual:

“o momento em que a alma ‘vê’ a verdade sem intermediários”.

“o clarão que ilumina quem contempla, e não apenas quem analisa”.

Lcscosta

Aristóteles introduziu uma separação entre dois tipos de mente: “nous pathetikos”, mais receptivo, e o “nous poietikos”, ativo e transformador. O primeiro recebe estímulos; o segundo produz conceitos, interpretações e julgamentos. Juntos, eles compõem o que hoje chamaríamos de pensamento: uma relação dinâmica entre ser afetado e elaborar, entre sentir e ordenar, entre interpretar o mundo e agir sobre ele.

Mas o que aconteceria se as máquinas começassem a fazer parte dessas funções? E, o mais provocador e preocupante para alguns, elas estariam elas “pensando”? , e a partir dessa dita e alarmada consciência, poderiam chegar à talvez inevitável conclusão que somos obsoletos ou irrelevantes.

Longe destes medos e questões, os sistemas de IA avançam e evoluem assumindo diversas formas, como carros autônomos, robôs de cuidado e atividades domésticas como o NEO, da 1X, um robô que usa IA, custa US$ 20 mil (cerca de R$ 107 mil) e faz tarefas domésticas simples, como dobrar roupas, limpar superfícies e carregar objetos leves. Temos drones já utilizados em larga escala, até com versões militares, e os mais que integrados em nossas vidas: os assistentes virtuais. Apesar disto tudo, podemos discutir sob a perspectiva de que o pensamento exige algum tipo de experiência corpórea, um corpo que percebe, que sente, que é afetado, sofre e reage, que as maquinas, embora assumam formas f

sicas, não possuem experiência corporal e não são afetadas por não as terem, pois apenas processam códigos, padrões, previsões estatísticas.
A emoção, a intuição, a sabedoria, a consciência moral, tudo isso ainda escapa ao frio do cálculo.

Respostas da IA podem soar assustadoramente reflexivas

Quando perguntei à própria IA: “Você consegue pensar?”, ela me respondeu: “Eu consigo processar informações, analisar padrões e gerar repostas com base em dados. Então pode parecer que estou pensando. Mas não é o mesmo que pensar como um humano. Eu não tenho consciência, emoções, intenções ou subjetividade”.

Essa declaração expõe uma linha divisória que importa, talvez não entre máquinas e humanos, mas entre processar e experienciar. Entre calcular e compreender. Ou entre responder e significar.

O pensamento humano passa por zonas nebulosas: na dúvida, no silêncio, no erro, no medo, ele atravessa todo interior do conhecimento e suas vertentes no pensar. A IA, por mais avançada que seja, ela não experimenta, não contempla, não sofre com a dúvida, isto talvez seja onde à diferença reside.

Possivelmente o pensar esteja muito mais ligado sobre fazer perguntas do que acertar repostas, pois desde a Antiguidade que pensar sempre foi mais ligado àquilo que nos incomoda, e foi isso que nos tirou das cavernas. Isso também que nos impede de delegar demais às maquinas, porque , ao permitimos que algoritmos deem. rumos às nossas vidas por nós, corremos o risco de abrir mão daquilo que nos identifica e diferencia no ato humano de pensar.

Precisamos cada vez mais lembrar que mesmo em tempos de inteligência artificial, o pensamento ainda exige corpo, presença, memória, história e desejo. Nada disso está escrito em código…ainda!

Talvez o maior desafio de nosso tempo não seja ensinar máquinas a pensar, mas impedir que nós, fascinados por sua eficiência, esqueçamos como se faz.

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