“O Pequeno Cientista Preto” estreia no SESC Tijuca

Em seu quarto solo voltado para as infâncias, o ator e autor Junior Dantas mistura linguagens artísticas em cena para contar a história de Zuni, um menino curioso que sonha em ser cientista e aprende muito com as ervas do quintal de sua avó

por Waleria de Carvalho
O Pequeno Cientista Preto

Foi brincando no quintal de sua avó, em meio a muitas plantas e ervas que Zuni, um menino muito curioso, passou a sonhar em ser cientista. Observando sua avó Zilda colher as folhas para tomar seus banhos, fazer chás, temperos e vários experimentos, Zuni a vê como uma grande cientista, com quem aprende o poder das ervas e plantas medicinais. Acompanhado de Kito, seu amigo imaginário inseparável, Zuni resolve viajar na sua máquina do tempo e, nessa trajetória, encontra referenciais negros brasileiros. Assim vai se desenvolvendo a história do espetáculo inédito “O Pequeno Cientista Preto”, solo escrito e interpretado por Junior Dantas com direção de Débora Lamm que, contemplado pelo Sesc RJ Pulsar, estreia dia 1º de novembro, às 16h, no Teatro I do Sesc Tijuca.

A inspiração da peça veio um tanto da vivência de Junior, mas também de sua observação sobre o mundo. Para o autor e ator, “O Pequeno Cientista Preto” nasce do desejo de falar de ciência de uma forma que nem sempre aparece nos livros, que é a ciência ancestral. E assim, mostrar para as crianças que a ciência não está apenas nos laboratórios, mas também no conhecimento que vem dos mais velhos. “Tem uma frase no texto que eu gosto muito e resume tudo: ‘antes de existir o hospital, já existia o quintal’… E as ervas têm um papel central nisso. Muitas vieram do continente africano e trazem saberes que atravessaram gerações. Por isso Zuni olha para a sua avó como uma verdadeira cientista, porque ela conhece tudo sobre ervas — as que servem para banhos, chás, para benzer, para cuidar do cabelo, para curar machucado, para aliviar resfriado…”, adianta o autor.

Usando os conhecimentos de seus mais velhos e da natureza para apresentar a história, cultura e ancestralidade afro-brasileira, Zuni é a representação de muitas crianças que cresceram em quintais e descobriram, através deles, um mundo de possibilidades, como o próprio autor da montagem. “Fui uma criança muito curiosa que passava muito tempo na rua e no quintal. Cresci em Ipueira, no interior do Rio Grande do Norte, e gostava de brincar de plantar e inventar experiências. Minhas avós tinham quintais cheios de plantas e ervas e, com elas, faziam chás, remédios e outras coisas que aprenderam com os mais velhos. Eu quis trazer essa herança para mostrar em cena que esse saber é ciência, é cuidado, é ancestralidade. E falar disso com as crianças é fundamental, porque são elas que vão levar adiante essa sabedoria”, acredita Junior Dantas.

Fruto de uma boa safra de alunos do Teatro Tablado, a diretora Débora Lamm realiza, com este trabalho, a sua terceira direção de um espetáculo para crianças. “O teatro infantil foi minha escola, sou ‘tabladiana’ e aprendi a profissão no palco daquele teatro, encenando as peças da Maria Clara Machado. Teatro pra criança é formação de plateia. O público é muito direto e sincero no exercício de estar ali presente. O teatro infantil, dentro de sua maior potência, une pessoas de todas as idades e não subestima ninguém”, acredita Débora, parceira de Junior no teatro há 16 anos. “Fizemos muitas peças juntos, dentro e fora da Cia OmondÉ. Junior também já foi algumas vezes meu assistente de direção e essa é a segunda vez que o dirijo, nossas estradas se misturam há tempos. Essa parceria continua, ainda vamos dividir muitas histórias”, planeja.

A estreia do espetáculo tem um sabor mais que especial, porque acontece em paralelo ao lançamento do livro “O Pequeno Cientista Preto” (Editora PeraBook). “É a primeira vez que vivo isso e é uma experiência muito rica: no palco, a história acontece de forma viva, com movimento, música e interação com o público. Já no livro, cada criança pode explorar a narrativa no seu próprio ritmo, revisitar os detalhes, se encantar com as ilustrações incríveis da Flávia Borges e mergulhar na imaginação. Cada formato cumpre um papel diferente, mas se complementam. E estrear os dois juntos é uma alegria enorme, porque amplia o alcance da história”, vibra Junior, também autor e protagonista da trilogia que começou com “O Pequeno Príncipe Preto” e “O Pequeno Herói Preto”.

Já tendo sido um príncipe e um herói preto nos palcos, dentre tudo que tem vivido nas peças para crianças, Junior Dantas destaca a reação delas como algo que o entusiasma a seguir criando novas histórias. “Esse caminho do teatro para as infâncias já faz parte de mim, eu não consigo me imaginar parando por aqui, até porque é muito forte perceber a reação das crianças quando elas se encontram nesses personagens. É uma maneira de afirmar a importância da representatividade, de ampliar o imaginário e de mostrar para as crianças negras que elas podem se ver nesses lugares simbólicos. Quando isso acontece, o brilho no olhar é imediato. É como se dissessem: ‘Ah, então eu também posso ser’. Elas se reconhecem como alguém que pode sonhar alto, ocupar espaços e acreditar que sua história também merece ser contada. É a prova de que o imaginário também constrói futuros”, encerra o autor.

SERVIÇO

Espetáculo O Pequeno Cientista Preto”

  • Temporada: 1º a 30 de novembro de 2025
  • Horário: Sábados e domingos às 16h
  • Sextas-feiras 07, 14 e 28/11, às 11h e 15h (sessões extras para escolas e instituições)
  • Local: Sesc Tijuca | Teatro 1
  • Endereço: Rua Barão de Mesquita, 539 – Tijuca – Rio de Janeiro

Ingressos: R$ 20 (inteira); R$ 10 (meia entrada para casos previstos por lei, estendida a professores e classe artística mediante apresentação de registro profissional, convênio e programa Mesa Brasil); R$ 5 (associados Sesc); Gratuito (público PCG)

  • Bilheteria – Horário de funcionamento: Terça a sexta-feira – das 7h às 19h30; Sábados, das 9h às 19h; Domingos das 9h às 18h
  • Classificação Indicativa: Livre
  • Duração: 45 minutos
  • Instagram: @opequenocientistapreto

 FICHA TÉCNICA

  • Idealização, Obra Original, Texto e Atuação: Junior Dantas
  • Direção: Debora Lamm
  • Diretora Assistente e Direção de Movimento: Denise Stutz
  • Composições Originais e Direção Musical: Muato
  • Consultoria de Texto: Kiusam Oliveira
  • Preparação Corporal: Cátia Costa
  • Cenário: Cachalote Mattos
  • Figurino: Carla Costa
  • Iluminação: Brisa Lima
  • Bonequeiro: Dante
  • Voz do Kito: Tomé Pismel Verlings
  • Voz da Vovó Zilda: Damiana Inês
  • Voz Cientista: Conceição Evaristo
  • Programação Visual: Hannah23
  • Técnica e Operadora de Luz: Jessica Catharine
  • Técnica e Operadora de Som: Raquel Brandi e Mar Zenin
  • Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê – Gisele Machado e Bruno Morais
  • Mídias Sociais: Rodrigo Menezes e Junior Dantas
  • Intérpretes Culturais de Libras: Jhonatas Narciso e Lorraine Mayer
  • Fotografia, Direção de Vídeo e Edição: Rodrigo Menezes
  • Desenho de Som: Raquel Brandi
  • Assistente de Produção: Alisson Rocha
  • Produtor Executivo: Leandro Melquiades
  • Direção de Produção: Damiana Inês
  • Produção: Bloco Pi Produções

“Inédito”, “Limítrofe” estreia no Teatro Dulcina, no Centro

Com direção de Daniel Dias da Silva e Anderson Cunha e texto inédito de Oscar Calixto, espetáculo aborda com leveza patologias de saúde mental e humores instáveis na contemporaneidade.

Limítrofe

Limítrofe – foto: Josi Areia

Considerando que o século XXI tem sido marcado pelo aumento dos casos de estresse, ansiedade e depressão – fatores que, quando ignorados, podem desencadear patologias ainda mais graves – segue até o dia 09 de novembro no Teatro Dulcina, na Cinelândia, o espetáculo “Limítrofe”. Escrita por Oscar Calixto, que também entra em cena ao lado de Malu Falangola e Raphael Najan, a montagem com direção de Daniel Dias da Silva e Anderson Cunha apresenta e explora o universo das patologias psíquicas, abordando questões da psicologia contemporânea e debruçando-se sobre o universo do fenômeno dos humores instáveis, que seguem em curso imprevisível no seio da sociedade.

Na trama, três personagens que não se conhecem se encontram no telhado de um prédio de 20 andares. Cláudia, uma mulher que parece chegada de um ensaio de dança; Paschoal, um ator de televisão que chega ao espaço de maneira abrupta; e Marcos, um escritor que irrompe a porta de entrada do local e se depara com os outros dois. A troca entre os três desencadeia uma série de reflexões de ordens psicossociais, troca de farpas, análises, diagnósticos precipitados e discussões filosófico-existenciais cheias de humor e ironia.

“O desejo de levar esse tema ao teatro nasce da pura observação de uma sociedade que vem transformando absurdos em coisas normais. Sociedade que vem adoecendo e impulsionando os índices dos casos de suicídio no mundo inteiro. A peça também discute outros temas importantes, como o que está acontecendo com o mercado de trabalho, sobre como estamos normalizando as ações dos feeds das redes sociais e de como elas passam a agir no inconsciente coletivo”, antecipa o autor e ator Oscar Calixto, cuja dramaturgia foi construída com a ajuda de psicólogos, psicanalistas e psiquiatras, tendo como referências linhas de pensamentos de Sigmund Freud, Carl Jung, Jacques Lacan e Zygmunt Bauman.

De acordo com o International Stress Management Association (ISMA), o Brasil é um dos países mais afetados por problemas de saúde mental, sendo líder no ranking mundial de pessoas ansiosas, com altos índices de estresse entre trabalhadores e uma significativa incidência do Transtorno de Personalidade Limítrofe ou Borderline. Nesse contexto, a peça surge como uma proposta artística e social para promover a conscientização sobre os transtornos mentais e suas variações de gravidade. Por meio de humor, drama, poesia e sensibilidade, a montagem convida o público a refletir sobre julgamentos apressados, rótulos e a maneira como lidamos com o sofrimento alheio.

“Mas fazemos isso de modo muito simples: nós apenas contamos uma história. E acreditamos que o ato de colocar o tema em cena já seja um modo de ajudar o público a pensar sobre o assunto. A peça critica o que precisa ser revisto por todos nós e reflete sobre o quão importante é respeitar a dor do outro. O tema central da nossa montagem foi abordado na série ‘Desperate Housewives’, que utilizava justamente o ‘dramédia’ para discutir o suicídio já no episódio de abertura da série”, pondera Oscar sobre o recurso que permite que o drama e a comédia andem juntos, muitas vezes na mesma cena.

A dramaturgia de “Limítrofe” aborda o tema de maneira leve e extremamente alinhada com a causa, proporcionando ao público rir, se divertir e se emocionar com uma história onde o imprevisível é o carro-chefe. Para a temporada de estreia, estão sendo convidados profissionais da saúde (psicólogos, psicanalistas e psiquiatras) para promover um debate com o público uma vez por semana. Os dias serão anunciados previamente no Instagram @espetaculolimitrofe. Para o autor da peça, um dos grandes problemas contemporâneos é estarmos absorvendo, normalizando e incluindo o modus operandi das redes sociais em nossas vidas. Oscar Calixto acredita que seja necessária a criação de “pequenos espaços de contemplação da vida”.

“Num mundo cheio de telas e de milhares de informações por dia, é importante saber dosar com equilíbrio o uso da tecnologia, filtrar um pouco as informações e abrir esses espaços de contemplação. Nós estamos praticando a mesma violência que se pratica nos comentários agressivos, depreciativos, críticos, manipuladores ou tendenciosos que são destilados nas caixinhas de comentários das redes sociais. Estamos ‘normalizando’ tudo isso porque estamos nos tornando, como diria o educador e psicólogo francês Pierre Weil, seres ‘normóticos’”, elabora Oscar.

Normose” é um termo cunhado por Pierre, Jean-Yves Leloup e Roberto Crema para descrever um conjunto de hábitos, crenças e atitudes consideradas “normais” pela sociedade, mas que, na realidade, são prejudiciais, patogênicas ou causam sofrimento, levando à infelicidade e perda de sentido na vida. E frear isso parece impossível, frisa Oscar, já que habilitamos uma estrutura que consumimos diariamente e que nos bombardeia com essa avalanche coletiva com a qual nos acostumamos.

“Contudo, é possível trazer consciência sobre a gerência disso e sobre a importância do autocuidado. A saída não é única, mas múltipla. Filosoficamente, resgatar o tempo da contemplação e do encontro genuíno. Psicologicamente, cultivar sentido, presença e vínculos empáticos. Psiquiatricamente, alinhar recursos clínicos com práticas de autocuidado e políticas públicas de suporte. Em síntese, não se trata de ‘escapar da realidade acelerada’ mas de instaurar pequenas zonas de resistência, de silêncio, de escuta e de cuidado mútuo que nos permitam viver como sujeitos e não como engrenagens de uma máquina apressada”, encerra Oscar.

SERVIÇO

Limítrofe

  • Temporada: 03 de outubro a 09 de novembro de 2025
  • Horário: Quintas, sextas-feiras e sábados, às 19h; domingos, às 18h
  • Ingressos: R$ 30 (meia-entrada) / R$ 60 (inteira)
  • Link do Sympla: http://www.sympla.com.br/event__3095103 
  • Local: Teatro Dulcina
  • Endereço: Rua Alcindo Guanabara, 17 – Cinelândia – Centro – Rio de Janeiro
  • Tel.: (21) 2240-4879
  • Classificação Indicativa: 14 anos
  • Duração: 75 minutos
  • Instagram: @espetaculolimitrofe

FICHA TÉCNICA

  • Texto Original: Oscar Calixto
  • Direção: Daniel Dias da Silva e Anderson Cunha
  • Elenco: Malu Falangola, Raphael Najan e Oscar Calixto
  • Realização: Baco Produções Artísticas e Babik Produções
  • Co-Produção: B&C Produções Artísticas
  • Produção Executiva:  Raphael Najan, Barbara Reis, Oscar Calixto e Nadya Nina
  • Produção: Giovanna Garcia
  • Assistência de Produção:  Nina Marcondes
  • Iluminador: Anderson Ratto
  • Trilha Sonora: Felipe Tauil
  • Direção de Movimento e Coreografias: Sueli Guerra
  • Figurinos: Luana de Sá
  • Assistência de Figurino: Maria Eduarda Figueiredo
  • Cenografia: Alexandre Porcel
  • Maquiagem e Caracterização: Rodrigo Fuentes
  • Imagens Aéreas: Rafael Arias
  • Designer Gráfico: Adriana Marinho
  • Assessoria de Imprensa: Marrom Glacê Comunicação
  • Mídias Sociais: VB Digital
  • RP: Evandro Rius

Cia. Paulista de Dança Adriana Assaf apresenta Idiossincrasia – Temperamento Humano no Teatro Sérgio Cardoso nos dias 28 e 29 de outubro

Espetáculo é um Ballet Neo Clássico inspirado na teoria do pensador grego Hipócrates II sobre os quatro tipos de temperamentos humanos

Idiossincrasia

Idiossincrasia – Foto: Lary Davis

A Cia. Paulista de Dança Adriana Assaf traduz em movimento as diferentes e complexas emoções humanas em Idiossincrasia – Temperamento Humano. Esse Ballet Neo Clássico tem suas últimas apresentações da temporada de 2025 no Teatro Sérgio Cardoso, dias 28 e 29 de outubro, às 20h.

O espetáculo é inspirado na teoria criada por volta do ano 400 a.C. pelo médico e pensador grego Hipócrates II, que é considerado o pai da Medicina, sobre os quatro tipos de temperamentos humanos (a própria palavra “idiossincrasia”, em sua etimologia de origem grega, tem esse significado).

O pensador classificou os diferentes “humores corporais” do ser humano para explicar estados de saúde ou doença que influenciam na nossa natureza, disposição, razão, sentimentos, reação, comportamento e muitas outras coisas que nem imaginamos em nossas vidas.

Estes quatro tipos de temperamento dominam os indivíduos e guiam seus corpos. São eles: sanguíneo (sangue), fleumático (linfa ou fleuma), colérico (bílis) e melancólico (bílis negra). O equilíbrio entre esses quatro humores determina a saúde e seu desajuste provoca doenças.

A Cia. Paulista de Dança busca traduzir em dança esse “lugar” onde o emocional e o corpo estão cada vez mais tendo que ser trabalhados juntos, além dos medos, esperanças e diversas emoções que vivemos. Ou seja, os efeitos que esses sentimentos e suas reações às adversidades, ao comportamento, aos sentimentos, às aflições, às alegrias e ao amor provocam no corpo.

Cia. Paulista de Dança Adriana Assaf

Criada em 2006, a Cia. Paulista de Dança foi originada do projeto social Fazendo Arte na Ponta dos Pés e tornou-se uma Organização Social sem fins lucrativos, cuja gestão é feita pela APDAA – Associação Paulista de Dança Adriana Assaf.

Referência na dança clássica no Brasil e no exterior, o grupo já realizou mais de 200 espetáculos, entre ballets clássicos de repertório, neo clássicos e contemporâneos, e acumulou mais de 500 premiações em festivais nacionais e internacionais.

Sua atuação visa sempre capacitar bailarinos e dar uma perspectiva de futuro profissional. Muitos dançarinos que passaram pelo grupo, inclusive, já foram convidados para trabalhar em companhias internacionais.

Ficha Técnica
Direção Artística: Adriana Assaf
Direção Executiva e Produção: Robson Luna
Coreografia: Marcos Silva
Coordenação Técnica: Larissa Luna

Sinopse

Onde o emocional e o corpo estão cada vez mais tendo que ser trabalhados juntos, medos, esperanças e diversas emoções que estamos vivendo, essa é uma grande oportunidade de levar ao público através da dança todos estes sentimentos que cada um trás dentro de si e suas reações ás adversidades, ao seu comportamento, sentimentos, aflições, alegrias, amor, suas reações e expressões corporais. O trabalho é inspirado na teoria do pensador grego Hipócrates II sobre o temperamento humano e suas reações no corpo.

Serviço

Idiossincrasia – Temperamento Humano

  • Apresentações: 28 e 29 de outubro às 20h.
  • Teatro Sérgio Cardoso – R. Rui Barbosa, 153 – Bela Vista, São Paulo – SP, 01326-010

Ingressos:

Classificação: 10 anos
Duração: 70 minutos
Acessibilidade: teatro acessível a cadeirantes e pessoas com mobilidade reduzida

Núcleo Alvenaria de Teatro estreia o espetáculo Humanamente Inviável

Fatos reais inspiram essa tragicomédia distópica que mescla uma clínica com cursos para reeducar homens processados por violência doméstica e personagens em um bar à beira do fim do mundo

Humanamente Inviável

Humanamente Inviável – foto: Foto de Tati Bueno

O Brasil é um país que tem muito passado pela frente. É a partir desse enunciado que o Núcleo Alvenaria de Teatro estreia Humanamente Inviável, nova criação escrita e dirigida por Tati Bueno, em cartaz, até 03 de novembro, na sede da companhia, o Alvenaria Espaço Cultural (Rua Turiassu, 799, Perdizes, São Paulo). As sessões acontecem às sextas e segundas, às 20h30 e aos sábados e domingos, às 16h, com entrada franca.

A peça se passa em um bar à beira do fim do mundo, onde personagens se encontram entre uma saideira e outra para desabafar diante de um colapso que não é futuro, mas presente. O espetáculo mergulha em um universo em que o apocalipse não chegou com estrondo, mas com silêncio, cansaço e distração. Uma tragicomédia distópica sobre tentar — e tentar de novo — mesmo quando já não se acredita.

Entre a fossa brasileira e a avalanche digital

Livremente inspirado em dois fatos reais — o episódio narrado por Rebecca Solnit no livro Os Homens Explicam Tudo Para Mim* e a experiência de cursos obrigatórios para homens processados por violência doméstica** —, Humanamente Inviável mistura humor ácido, crítica social e camadas de ficção distópica.

A narrativa se divide em dois planos: no “terreno”, acompanhamos Alicinha, criadora de uma clínica que promete reeducar homens, e seu marido Mário, um machista em eterna “desconstrução”. Com eles, Norma e Dominique se desdobram para provar que o método funciona e, assim, renovar o contrato com o governo. No “mítico”, três entidades — Madame, Vera e o Poetinha — ocupam o bar no fim do mundo, observando e comentando os destinos humanos, entre sambas de fossa e confissões íntimas.

“Esperávamos um fim do mundo que chegasse como um estrondo, mas, na verdade, ele está vindo a conta-gotas. E, enquanto esperamos, precisamos lidar com o vício em dopamina, o celular como extensão do corpo, a falência dos afetos e as velhas disputas de gênero”, afirma Tati Bueno.

*Em uma festa, a escritora Rebecca Solnit viveu uma cena comum: um homem lhe explicou longamente um livro — sem perceber que era ela a autora. O episódio deu origem ao livro Os Homens Explicam Tudo para Mim, que nomeia e analisa o fenômeno do mansplaining. Solnit revela como esse gesto cotidiano de silenciamento reflete uma cultura machista que insiste em desautorizar as mulheres. 

**A Lei 13.984/2020 determina que agressores de violência doméstica frequentem cursos de reeducação e acompanhamento psicossocial. Essas medidas podem ser aplicadas pelo juiz logo no início do processo, mesmo sem condenação. O objetivo é estimular reflexão e responsabilização, rompendo padrões machistas que sustentam a violência. Assim, busca-se reduzir a reincidência e fortalecer a proteção às vítimas.

A encenação

O espaço cênico é concebido como um terreno instável, em mutação constante. O bar inicial se transforma em cabaré, sala de palestra, laboratório de reeducação compulsória, consultório afetivo e até campo de experimentos. A dramaturgia aposta em uma lógica de colagem e de simultaneidade, em que as ações se sobrepõem como fragmentos de um grande plano-sequência, borrando as fronteiras entre realismo, farsa e delírio.

A iluminação, criada por Samya Peruch e Tati Bueno, acompanha essas metamorfoses: da meia-luz intimista ao corte frio de um experimento científico, passando por flashes que remetem a auditórios ou festas decadentes. O figurino de Uga Agú parte de roupas únicas que se desdobram em diferentes personagens por meio de detalhes, reforçando a ideia de identidades fluidas e instáveis.

A música, composta e dirigida por Felipe Antunes, é quase uma personagem: atravessa a cena com referências ao movimento A Fossa — samba-canção de tons urbanos e melancólicos, herdeiro de Dolores Duran, Maysa e Nora Ney — e se mistura às vozes dos intérpretes, que cantam ao vivo, entre sambas, boleros e canções populares.

No palco, Bia Toledo, Alexandra DaMatta e Thiago Carreira transitam entre papéis múltiplos, alternando discursos políticos, momentos de intimidade, números musicais e lampejos de absurdo. Com humor, ironia e melancolia, a encenação explicita um presente saturado, onde se tenta resistir, mas também se falha — e nesse fracasso, talvez, resida a última chance de humanidade.

Trilogia Madame

A obra encerra a Trilogia Madame, iniciada em 2021 com Codinome Madame e Madame e a Faca Cega. Se nas peças anteriores a distopia era projetada para resistências futuras, agora o olhar está no presente colapsado, em que insistir e falhar pode ser o último gesto de humanidade.

Humanamente Inviável foi realizado com apoio da Política Nacional Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB), do ProAC – Programa de Ação Cultural da Secretaria da Cultura, Economia e Indústria Criativas do Governo do Estado de São Paulo, do Ministério da Cultura e do Governo Federal.

Ficha Técnica:

  • Texto e direção: Tati Bueno
  • Elenco: Bia Toledo, Alexandra DaMatta, Thiago Carreira
  • Preparação de elenco: Inês Aranha
  • Direção Musical: Felipe Antunes
  • Figurino: Uga Agú
  • Cenário: Carol Bucek
  • Adereços: Ana Santos Nega
  • Iluminação: Samya Peruch e Tati Bueno
  • Assessoria de Imprensa: Canal Aberto – Márcia Marques e Daniele Valério 
  • Produção: Clube do Mecenas
  • Idealização: Núcleo Alvenaria de Teatro

Serviço

Humanamente Inviável

  • Duração: 75 minutos | Classificação: 14 anos
  • Data: Até  a 03/11, de sexta a segunda. 
  • Sextas e segundas, às 20h30
  • Sábado e domingo, às 16h
  • Local: Alvenaria Espaço Cultural – Rua Turiassu, 799 – Perdizes – São Paulo – SP

O Espaço Cultural tem um bar que funciona nos seguintes horários: Sextas, a partir das 17h, sábados e domingos a partir das 15h e segunda a partir das 19h30, o bar funciona antes e depois das apresentações.  

Ingressos: gratuitos, distribuídos 1 hora antes das sessões. 

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