O Tempo Completa: Burle Marx, clássicos e inéditos

Primeira mostra do acervo do Instituto Burle Marx ocupará toda a área expositiva da Casa Roberto Marinho a partir do fim do mês - Três meses após Sitio Burle Marx ser reconhecido como Patrimônio Mundial da Unesco, Casa Roberto Marinho inaugura exposição em torno da obra do artista múltiplo que projetou uma estética moderna de paisagismo

por Redação

Um mergulho profundo na obra do mais importante paisagista do século XX é o que espera o visitante de O tempo completa, que ocupará os 1.200m² de área expositiva da Casa Roberto Marinho, a partir de 30 de outubro de 2021. São cerca de 130 peças, entre desenhos, fotografias, plantas de projetos, croquis, maquetes, documentos e pinturas, inéditos e clássicos, de Roberto Burle Marx, selecionados pelo olhar atento dos curadores Lauro Cavalcanti e Isabela Ono

A primeira exposição do acervo do instituto sem fins lucrativos, criado em 2019, deixa clara a contemporaneidade da narrativa que o paisagista, pintor, desenhista, escultor, litógrafo, serígrafo, designer de joias, explorador botânico, arquiteto e urbanista criou em parceria com seus colaboradores e transformou em missão ao longo de seus 85 anos de vida. 

Cavalcanti revela a intenção de ressaltar a faceta precursora de ativista do artista plástico que reivindicou a conservação das florestas brasileiras: “Burle Marx foi um incansável precursor na defesa do meio ambiente. Incorporou à sua atividade, na condição de maior paisagista mundial, a missão de proteger as florestas e os biomas nacionais. É esse legado que homenageamos”, afirma Cavalcanti, diretor da Casa Roberto Marinho.

A escolha do instituto cultural no Cosme Velho para receber a exposição não é aleatória: os dois Robertos — Marinho e Burle Marx — foram amigos por toda a vida e coube ao paisagista assinar os jardins da residência do jornalista, em 1938. O projeto é da mesma época do paisagismo do Ministério da Educação e Saúde, atual Palácio Gustavo Capanema, no centro do Rio de Janeiro, considerado uma obra-prima pela forma como adaptou aos trópicos o traço internacionalista de Le Corbusier. 

“Com as curvas dos jardins, as sinuosidades das divisórias internas e a solução volumétrica de entrecruzamento de seus blocos, Burle Marx, Lucio Costa e Oscar Niemeyer evitaram que o edifício do ministério fosse apenas mais uma de tantas importações europeias entre nós. Ali começou, em grande escala, o Modernismo carioca e brasileiro”, observa Cavalcanti.

O projeto do Palácio Gustavo Capanema, uma das joias do acervo do Instituto Burle Marx, divide espaço com um total de 120 mil ítens que registram o passo-a-passo da obra monumental construída, ao longo de quase nove décadas, pelo paisagista e seus colaboradores, como o próprio Lucio Costa, a artista botânica Margaret Mee, o botânico Henrique Mello Barreto e o arquiteto e paisagista José Tabacow. O legado que chega até nós também conta com a dedicação incansável do maior parceiro e amigo de Burle Marx, Haruyoshi Ono, considerado a semente do Instituto.

“A exposição trabalha com essa ideia tão atual de construção coletiva. Em uma análise dos projetos do Burle Marx com meu pai percebe-se o desejo de ter cidades mais verdes, acessíveis e inclusivas, que privilegiam espaços de contemplação e encontro”, afirma Isabela Ono, curadora adjunta da mostra e diretora executiva do Instituto Burle Marx.

O tempo completa traz memórias do paisagista e artista plástico desde que, ainda na juventude, viajava pela caatinga em busca de plantas para as praças que desenhava em Recife. Uma seleção cuidadosa, já que o acervo do Instituto guarda – só em projetos – mais de dois mil: alguns realizados, como o Parque do Flamengo, e outros que jamais saíram do papel. 

“O Instituto Burle Marx entende o seu acervo como sementes que inspiram as trocas de conhecimento para repensar a experiência de vida nas cidades e favorecer óticas plurais, afirmativas e colaborativas”, observa Isabela.

Para a curadora adjunta, O tempo completa é o marco inicial não apenas da parceria do Instituto Burle Marx com a Casa Roberto Marinho, mas também da divulgação do acervo por toda a sociedade: “Somos uma organização da sociedade civil sem fins lucrativos e precisamos de apoio para compartilhar esse patrimônio tão relevante. A partir da contribuição do legado de Burle Marx e seus colaboradores, o Instituto busca aprender, interagir e ampliar suas parcerias, se conectando a iniciativas de promoção do direito à cidade e equidade que permitam pensar em novas possibilidades de existência em coletividade”, afirma Isabela.

A exposição se espalha por dois grandes setores: o térreo, que é dedicado à formação de Burle Marx; e o primeiro andar, que abriga as obras concebidas com os  colaboradores. Entre os projetos clássicos no Rio de Janeiro, estão o Parque do Flamengo e o Museu de Arte Moderna, a Avenida Atlântica, o Largo da Carioca e o Jardim Zoológico. De outros estados, veremos o Palácio do Itamaraty e os parques Ibirapuera e da Pampulha. A mostra inclui também projetos residênciais, públicos e internacionais para países como Itália, França, Alemanha e Venezuela, entre outros.

Na sala consagrada às pinturas, há trabalhos de períodos diversos que revelam o percurso do artista da figuração até a abstração. A exposição se encerra com um grande painel que ilustra a relação total de obras assinadas pelo paisagista paulistano.

“Burle Marx dizia ‘o tempo completa’ quando se referia à participação orgânica das espécies na criação da beleza. Mas, também, nos alertava que os lentos processos da milenar natureza podem ser destruídos em simples horas pela ignorância e pela ação mecânica violenta”, lembra Cavalcanti, que sugere aos visitantes apreciarem a exposição como uma “oração ao tempo”. “É uma forma de nos sentirmos parceiros desse legado em nossa passagem pelo planeta”, completa o curador. 

Em razão da pandemia de Covid-19, a Casa Roberto Marinho funciona sob agendamento on-line através do site e, em consonância com o Decreto Municipal  49.335/2021, exige o comprovante de vacinação dos visitantes.

Sobre o Instituto Burle Marx (www.institutoburlemarx.org)

O Instituto Burle Marx nasce do comprometimento dos sócios do Escritório Burle Marx de tornar público o acesso e uso do seu acervo. Haruyoshi Ono, parceiro de Burle Marx e Diretor do Escritório até 2017, sempre atuou na preservação deste legado. Em 2019, sua filha Isabela Ono dá continuidade à missão de salvaguardar e tornar pública a coleção, através do inventário e digitalização do acervo, inspirando novas ações em diálogo com as narrativas ali presentes.

Ao oportunizar o acesso ao legado de Burle Marx e seus colaboradores, que aponta para ressignificações de futuros, o Instituto busca criar pontes e contribuir com iniciativas de cultura, meio ambiente e educação.

SERVIÇO:

O tempo completa: Burle Marx, clássicos e inéditos

Abertura: 30 e 31 de outubro de 2021, das 12h às 18h

Encerramento: 06 de fevereiro de 2022

Instituto Casa Roberto Marinho

Rua Cosme Velho, 1105 – Rio de Janeiro

Tel: (21) 3298-9449

Visitação: terça a domingo, das 12h às 18h

(Aos sábados, domingos e feriados, a Casa Roberto Marinho abre a área verde e a cafeteria a partir das 9h.)

Ingressos: R$ 10 (inteira) / R$ 5 (meia entrada)

Às quartas-feiras, a entrada é franca.

Aos domingos, “ingresso família” a R$ 10 para grupos de quatro pessoas.

A CRM respeita todas as gratuidades previstas por lei

Link para agendamento on-line:

http://www.casarobertomarinho.org.br 

Estacionamento gratuito para visitantes, em frente ao local, com capacidade para 30 carros.

A Casa Roberto Marinho é acessível a portadores de deficiências físicas.

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