O Tempo e a Sala, Teatro SESI

O Tempo e a Sala

Escrito por um dos dramaturgos mais importantes da Alemanha e da Europa contemporânea, o texto é um dos grandes representantes do gênero conhecido como Realismo Fantástico.  

Vencedora de diversos prêmios, a peça fala da solidão humana, da reclusão e do medo nas grandes cidades. Sobre o quanto  podemos estar, mesmo cercados de pessoas, tão sozinhos quanto distantes de nós mesmos.

Criada especialmente para o Festival de Curitiba de 2023, esta montagem de “O Tempo e a Sala”, com direção de Leandro Daniel, pretende jogar luz sobre temas atuais: a solidão, a reclusão e o medo sentidos em meio ao grande movimento das metrópoles contemporâneas. Um retrato do desequilíbrio de uma sociedade que perdeu sua energia feminina e a coragem de se entregar aos afetos, gerando um ambiente patriarcal adoecido que sofre com a sensação de inadequação ao tempo e ao espaço.

Vale contextualizar o momento em que a obra do dramaturgo alemão Botho Strauss despontou. Em 1990, “O Tempo e a Sala” estreou no Teatro Schaubühne, em Berlim, pelas mãos do diretor suíço Luc Bondy (1948-2015). O muro de Berlim acabara de ser derrubado, mas os ecos da segunda guerra ainda soavam dentro da população, como se cada um carregasse consigo uma bomba prestes a explodir. E neste contexto destaca-se a personagem Marie Steuber, uma mulher que, ao tentar se adaptar ao outro em seus muitos relacionamentos, afasta-se cada vez mais de si própria, até desaparecer (literalmente) no espaço e no tempo, ao ser tragada por uma coluna, símbolo da concretude.

A personagem, vivida por Simone Spoladore, diz: “A quem que eu não tive que me adaptar! Adaptei-me ao homem complicado, ao sentimental e ao homem de negócios. Compartilhei seus problemas. Estudei a maneira deles verem o mundo, aceitei, fiz desta a minha. Respondi tanto ao calado como ao falador. Eu ajudei o infeliz e fui animada com o alegre. Com o esportista eu fui correr, com o que gostava de beber eu fui beber. Não sobrou nada. De nenhum. Rastro algum. Foi saudável. Aquilo que eu lá segurei com força, lá eu deixei: aquilo que eu sou.”

O diretor, Leandro Daniel, conta que veio da própria Spoladore, há dez anos atrás, a provocação para esta montagem: “levei anos tentando me convencer da impossibilidade de fazê-lo (montar a peça). Não consegui. E aqui estamos! Não consegui porque a cada nova leitura que faço do texto percebo que o drama humano de encontrar a si mesmo no tempo e no espaço para compreender sua real significância é perene. A cada dia, em tempos de revolução tecnológica e informacional, quanto mais desvendamos e derrubamos muros e fronteiras de tempo e espaço, mais nos damos conta de nossa possível solidão em contraponto com a grandiosa conexão com tudo o que existe no vasto universo.”

Sinopse

Num apartamento antigo, no centro de uma grande cidade, vivem Julius (Rodrigo Ferrarini) e Olaf (Daniel Warren). Dois homens que, como guardiões do tempo, observam a cidade e, a partir de suas memórias, atraem para dentro do ambiente a personagem Marie Steuber (Simone Spoladore), cujas memórias e dramas pessoais tomam conta do lugar, invadindo a realidade e/ou os devaneios dos anfitriões. Houve uma festa naquele lugar? As personagens existem de fato? O que é sonho e o que é realidade? O que é concreto e o que é imaginação? Quais os limites entre o tempo e o espaço?

REALISMO FANTÁSTICO

Botho Strauss é um autor alemão representante do gênero Realismo Fantástico e, portanto, estabelece a narrativa de sua peça entre o sonho e a realidade. Aposta nos contrapontos e oposições entre o material e o imaterial para justificar a perda da identidade dos indivíduos diante de uma aparente necessidade de adaptação e enquadramento nas relações humanas, como forma de eliminar o sentimento de solidão e abandono, especialmente nos grandes centros. Neste sentido, a peça explora os extremos, e os conceitos de dualidade estão presentes desde seu título: o “tempo” é uma representação das memórias, e a “sala” é um símbolo da concretude.

A Encenação

A direção do espetáculo pretende se aproximar da linha dramatúrgica de Botho Strauss, aplicando o conceito de dualidade, de extremos, em todos os aspectos da montagem, estabelecendo contrastes entre os elementos, desde cenários, figurinos e iluminação até a direção dos atores.

O cenário de Fernando Marés mostra a estrutura, o esqueleto de um lugar concreto e frio em contraponto aos figurinos e adereços de Ana Avelar, que rompem com a frieza do espaço – suas cores fortes contrastam com o cenário e tornam as memórias nítidas naquele lugar quase esquecido, deslocando as personagens no espaço/tempo. A iluminação de Adriana Ortiz, ao mesmo tempo em que delimita o espaço físico, desloca o espectador para dentro da memória e do não palpável. A trilha sonora original de Edith de Camargo reflete o estado de espírito de Marie Steuber, misturando instrumentos e sonoridades improváveis.

Botho Strauss

Considerado um dos mais importantes autores da nova dramaturgia aIemã e um dos maiores expoentes do gênero conhecido como ReaIismo Fantástico, o dramaturgo aIemão Botho Strauss dá sempre especiaI atenção à forma como se transformam e se degradam as reIações entre os seres humanos e às grandezas e misérias da própria condição humana, enfocando o atuaI e o contemporâneo em sua obra. Strauss nasceu em Naumburg, SaaIe, centro da AIemanha, em 02 de dezembro de 1944 e vive em BerIim. Estudou História do Teatro, FiIosofia Germânica e SocioIogia em Essen, CoIônia e Munique. Um dos mais importantes autores da nova dramaturgia aIemã, escreveu sua primeira peça, “Os Hipocondríacos”, em 1971, seguindo-se a eIa até hoje 14 peças que redimensionaram o teatro aIemão como um todo. Em fevereiro de 1989, estreava no Teatro Schaubüne em BerIim a peça “Die Zeit und das Zimmer” (O Tempo e a Sala) sob direção de Peter Stein. Meses após, no mesmo ano, na mesma cidade viria abaixo o Muro de BerIim, metáfora de um período de terror e medo para a humanidade. A partir de então o texto ganharia repercussão fora da Aiemanha, sendo montado por inúmeros grandes diretores, entre eles o sueco Ingmar Bergman.

Ficha Técnica

  • TEXTO:  Botho Strauss
  • TRADUÇÃO:  Fernanda Boarin Boechat
  • IDEALIZACÃO E DIREÇÃO: Leandro Daniel
  • ELENCO:  Simone Spoladore, Rodrigo Ferrarini, Jandir Ferrari, Daniel Warren, Rafa Sieg, Adriana Seiffert, Leandro Daniel, Maureen Miranda, Bia Arantes e Fabi Colombo
  • VOZ EM OFF: Letícia Spiller
  • PSICANÁLISE DA CENA: Fabi Colombo
  • ILUMINAÇÃO:  Adriana Ortiz
  • CENÁRIO:  Fernando Marés
  • FIGURINOS:  Ana Avelar
  • TRILHA SONORA ORIGINAL: Edith de Camargo
  • CARACTERIZAÇÃO:  Marcelino de Miranda
  • PRODUÇÃO EXECUTIVA: Banalíssima Arte
  • Assistência de Produção: Pietra Machado Furtado
  • CAPTAÇÃO DE RECURSOS: BFV Cultura e Esporte
  • REALIZAÇÃO:  Colombo Produções
  • ASSESSORIA DE IMPRENSA: JSPontes Comunicação – João Pontes e Stella Stephany
ESTREIA: dia 13 de abril (5ªf), às 19h

ONDE: Teatro Firjan Sesi Centro

Av. Graça Aranha, nº 1 – Centro | RJ   Tels: (21) 2563-4168 e 2563-4163

HORÁRIOS: 5ª a 6ª às 19h; sábado e domingo às 18h / INGRESSOS: R$40 e R$20 (meia) / funcionamento bilheteria: de 2ª a 6ª, das 12h às 19h; sab, dom e feriados, qdo houver programação, a partir de 2h antes do início do espetáculo / VENDAS ONLINE: www.sympla.com.br / DURAÇÃO: 90 min / ACESSIBILIDADE: sim / CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: 16 anos / GÊNERO: drama / CAPACIDADE: 338 espectadores / TEMPORADA: até 14 de maio

“O Tempo e a Sala” (Die Zeit und das Zimmer)

. de Botho Strauss

. direção de Leandro Daniel

. com Simone Spoladore, Rodrigo Ferrarini, Jandir Ferrari, Daniel Warren, Rafa Sieg, Adriana Seiffert, Leandro Daniel, Maureen Miranda, Bia Arantes

Related posts

“Marginal Genet” estreia dia 02 de janeiro de 2025

Shopping Metropolitano Barra traz espetáculo infantil baseado em Moana neste domingo

Breaking do Verão 2025: competição internacional acontece na Fundição Progresso