Obras inéditas de seis artistas compõem mostra “Fazer com, Pensar junto” no Centro Cultural Correios

Realizado pelo Juntes na Cultura, evento gratuito, que será aberto em 5 de fevereiro, conta com obras sobre temas como ecologia, afetividades e culturas territoriais

por Redação

A mostra “Fazer com, pensar junto”, resultado do Edital de Residência de Artes Visuais em Estúdios na Casa Europa, será inaugurada no dia 5 de fevereiro no Centro Cultural Correios, no Centro do Rio. A exposição, realizada pelo Consulado Geral da França e pelo Goethe-Institut Rio de Janeiro, no âmbito na cooperação cultural franco-alemã Juntes na Cultura, traz obras inéditas de seis artistas selecionadas para desenvolverem seus projetos ao longo de cinco meses. Elas foram desenvolvidas em dois ciclos de residências, resultando em trabalhos que investigam questões relacionadas à natureza e sua espiritualidade, à existência, ao cosmos, à afetividade e ​​aos territórios de onde vieram as artistas ou suas famílias. O evento de abertura também contará com uma visita guiada da exposição com a curadora e as artistas às 17h.

O edital convidou a se inscreverem artistas visuais do Rio de Janeiro, encorajando a inscrição de jovens, pessoas negras e indígenas, integrantes de comunidades tradicionais, inclusive de terreiro e quilombolas, populações nômades e povos ciganos, pessoas com deficiência e pessoas LGBTQIAPN+. Foram selecionadas as artistas Ana Bia Silva, Alessandro Fracta, Mayra Carvalho, Rainha F., Rafael Amorim e Siwaju, que já possuem trabalhos consolidados e conhecidos e que foram desenvolvidos com materialidades e linguagens variadas, que se referem a abordagens das diversas vivências e pesquisas.

“A ótica do desejo a que Rafael submete os terrenos baldios e a Zona Oeste vislumbra não linearmente a negação de afeto que discute Rainha F. Ambos dividem ainda uma preocupação indumentária que se vê refletida em seus trabalhos, além de certa opacidade, que é, distintivamente, também operação nas obras de Siwaju. Nas esculturas desta última, percebemos uma compreensão para-além-humana dos materiais constituintes, o que, em muito, reflete a aproximação de Mayra e Ana Bia frente às materialidades de suas próprias obras, além da evidente inclinação espacial e escultural que compartilham”, explica a curadora da mostra, Ana Clara Simões Lopes.

Ela acrescenta que Mayra e Ana Bia inclinam-se ainda em direção às encantarias aquosas, ancestrais e indizíveis que inundam as investigações de Alessandro. E completa que Ana Bia nos leva de volta a Rafael, já que, mesmo sob óticas distintas, partilham atenção especial ao bairro de Guaratiba.

As obras

A exposição se divide em duas salas do Centro Cultural Correios, conduzindo o visitante pelas poéticas individuais das artistas, que trazem uma mistura de linguagens e técnicas em seus trabalhos inéditos. Rafael Amorim traz o seu olhar sobre a Zona Oeste do Rio em suas materialidades, texturas e características próprias em uma pesquisa que investiga o passado da região para além dos estereótipos de violência, além da memória LGBTQIAPN+ do território, propondo outras formas de percebê-lo. Já Rainha usa fotografias e vídeos para escancarar uma faceta dolorosa de sua vivência pessoal que é compartilhada socialmente enquanto mulher travesti negra: a negação do afeto, a dissidência da instituição matrimonial, que se estabeleceu como ferramenta da lógica heteronormativa, expondo a opressão do amor romântico.

Por fim, Siwaju explora em suas esculturas compostas de peças de aço recicladas de obras a relação do material com o cosmos e a terra em que pisamos e, assim como Rafael, foge do clichê de violência imediatamente atrelado ao material para abordar as relações do tempo com o ambiente, entre objeto e espaço.

Também inquirindo a relação dos elementos que nos cercam e a espiritualidade presente neles, Mayra Carvalho traz esculturas e pinturas que exploram as fronteiras do visível e do invisível onde dançam os encantados da dimensão espiritual. Seu trabalho dialoga com suas memórias e uma cosmopercepção coletiva que remete às vivências que teve com a sua família conforme crescia, assim como Alessandro Fracta. Ele retorna às suas raízes, crescendo em uma família ribeirinha amazonense às margens do rio Miriti, e traz em suas esculturas têxteis a cultura local das encantarias em um cruzamento entre natureza, espiritualidade e identidade coletiva.

Ainda explorando os elementos naturais e criando uma conexão com ciência, história e filosofia, Ana Bia traz uma instalação que aborda questões de memória, extinção e o apagamento de espécies nativas no contexto do antropoceno na figura dos guarás e sua relação com o território de Guaratiba.

As artistas

Alessandro Fracta

Alessandro Fracta (1997) é artista visual manauara que atualmente reside e trabalha entre Manaus e Rio de Janeiro. Sua pesquisa está centrada em uma memória fluvial, explorando as áreas da escultura e foto-performance. Realiza trabalhos ligados à sua profunda conexão com o rio de sua origem, mergulhando nas encantarias locais e tradições familiares. Fracta utiliza-se de técnicas de investigação e experimentação, buscando incorporar em suas obras elementos e materiais que remetem à sua vivência na região nortista do Brasil, como a juta e o cipó. Em suas criações, procura transcender as fronteiras da representação visual, buscando capturar a essência do rio e suas histórias, bem como explorar as interseções entre natureza, cultura e identidade coletiva, tecendo assim uma narrativa que une passado e presente nortista.

Ana Bia Silva

Ana Bia é uma artista multidisciplinar cuja prática abrange instalação, desenho, pintura, fotografia, dispositivos mecânicos e vídeo. Seu trabalho investiga o entendimento da natureza, aprofundando-se nas relações entre os humanos e na dinâmica de poder entre seres vivos e inertes, bem como cosmologias, mistérios, ciências e mitologias da vida na Terra. Em sua prática, a artista mistura métodos tradicionais com abordagens experimentais, combinando materiais orgânicos e sintéticos para criar obras simbióticas que abordam ciência, história, filosofia e territórios afetivos. Seu corpo de trabalho resulta em investigações que abrangem aspectos culturais, sociais, ecológicos e intangíveis.

Mayra Carvalho

Mayra atua como artista visual e pesquisadora contracolonial, nascida em 1997 no território da Baixada Fluminense. Seu trabalho investiga a força e as confluências dos rios flutuantes como transmissores de mensagens, com foco nas memórias, cosmopercepção coletiva e encontro de saberes. Reflete sobre como os ritmos naturais, ritos e fluxos dos ventos, rios e terras se entrelaçam com as forças dos saberes espirituais de sua etnia que a guia.

Rainha F.

Artista visual e estudante de Belas Artes na Universidade Federal do Rio de Janeiro, investiga os códigos e simbologias matrimoniais criando uma nova imagem para outros mecanismos emergentes de sobrevivência em corpas possíveis, sobre a sua ótica vivencial. Apresenta base nas questões de solidão de corpos negros e a dinâmica racial em recortes LGBTQIAPN+, salientando aspectos de gênero marginalizados. Tecendo distorções e interessada em inventar outros terrenos para a noiva. Inquietada pela inexistência de irrigação afetiva sobre seu corpo preto e dessas presenças de vida projetadas e inseridas no campo e espaço socioimagético do casamento. Também participou das mostras FUNK: Um grito de ousadia e liberdade, no Museu de Arte do Rio, e Lélia em nós: festas populares e amefricanidade, no Sesc Vila Mariana.

Rafael Amorim

Poeta, pesquisador e artista visual independente, nascido na Zona Oeste do Rio de Janeiro, onde encontra as principais referências para o desenvolvimento de sua pesquisa entre periferia, subúrbios e memória LGBTQIAPN+. Vem investigando materialidades distintas para dar conta daquilo que identifica como uma poética indisciplinar em experimentações a respeito de outras formas de pensar e representar a relação entre corpo, escrita e território através de signos do cotidiano e outras iconografias da precariedade. Participou de residências artísticas na Galeria Luis Maluf, em São Paulo, no Programa de Formação da Escola de Artes Visuais do Parque Lage e na Escola Livre de Artes no Galpão Bela Maré. Autor de “santíssimo” (Ed. Urutau), livro de poemas que recebeu menção honrosa no Prêmio Mix Literário 2023.

Siwaju

Siwaju nasceu em São Paulo, vive e trabalha no Rio de Janeiro. Sua prática escultórica investiga a relação do tempo com diferentes ecologias, e é por meio do reaproveitamento de peças de aço doadas, coletadas e recicladas a partir da pesquisa periódica aos centros de reciclagem que seus trabalhos estabelecem uma relação íntima e direta com o pensamento tridimensional brasileiro. Estabelecendo relações entre a matéria, o cosmos, as energias visíveis, invisíveis, entre o objeto e seu entorno, entre corpo escultórico e o espaço, sempre numa dimensão temporal em espiral e em movimento de expansão e retrospecção ativando conhecimentos afrodiaspóricos.

Juntes na Cultura

A França e a Alemanha estão ligadas por uma história comum e uma amizade que reflete na Europa e no mundo. No Rio de Janeiro, a parceria se intensificou ao longo dos últimos anos em ações culturais, realizadas conjuntamente pelo Goethe-Institut Rio de Janeiro e pelo Serviço de Cooperação e Ação Cultural do Consulado Geral da França no Rio, em parceria com vários atores e instituições brasileiras dentro de iniciativas nacionais e internacionais.

A motivação do movimento “Juntes na Cultura” é unir forças, aprender, criar conexões e, assim, representar e aprofundar a amizade entre povos. São promovidos projetos e coproduções, programas de residências, formações, viagens de pesquisa e seminários, possibilitando encontros interculturais e o trabalho em rede nas mais diversas esferas culturais. Além disso, é valorizada a busca de paz e sustentabilidade, a diversidade produtiva e o diálogo democrático.

SERVIÇO

“Fazer com, pensar junto” – Mostra da Residência de Artes Visuais em Estúdios na Casa Europa 2024

  • Abertura: quarta, dia 05 de fevereiro, às 16h
  • Local: Centro Cultural Correios (Rua Visconde de Itaboraí, 20 – Centro, Rio de Janeiro)
  • Entrada gratuita, sem agendamento.
  • Artistas participantes: Alessandro Fracta, Ana Bia Silva, Mayra Carvalho, Rainha F., Rafael Amorim, Siwaju.
  • Curadoria: Ana Clara Simões Lopes

Realização:
Goethe-Institut Rio de Janeiro
Serviço de Cooperação e Ação Cultural do Consulado Geral da França no Rio de Janeiro
Centro Cultural Correios

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