A Orquestra Sinfônica Brasileira apresenta mais um programa da série “Concertos para a Juventude” no dia 20 de abril , às 11h , no Teatro Carlos Gomes, no Centro do Rio de Janeiro . Sob a regência do maestro Guilherme Mannis e com a narração de Izak Dahora , o concerto traz a obra A Onça, os Guinés e os Cachorros , do renomado compositor Clóvis Pereira .
Estreada pela Orquestra Armorial em 1971, A Onça, os Guinés e os Cachorros é uma obra singular dentro desse contexto. Criada em colaboração pelos compositores Clóvis Pereira e Cussy de Almeida , sob texto e argumento de Suassuna , a peça remete ao modelo de Pedro e o Lobo (1936), conto de fadas sinfônico do russo Sergei Prokofiev, não só pelo seu caráter lúdico, mas também pela associação que estabelece entre instrumentos e personagens.
De forma bastante criativa, cada personagem da fábula nordestina é instrumentalmente representado: os violinos assumem a identidade dos cachorros; as flautas dão voz aos guinés e cabe ao contrabaixo personificam a perigosa onça. Não menos importante é o primoroso uso da percussão, que acrescenta um brilho especial à obra. A partitura, rica em cores e ritmos típicos do Nordeste, manipulando tematicamente o tema tradicional A briga do cachorro com a onça, presente no repertório dos ternos de pífanos, demonstrando uma habilidade dos compositores em recriar a expressividade da música popular por meio de uma linguagem musical instigante, mas sem abrir mão de sua vivacidade original. A narrativa de Ariano Suassuna, por sua vez, reflete seu ideário literário e teatral, utilizando personagens arquetípicos para criar uma metáfora sobre a realidade social brasileira. Cangati, o vira-latas astuto que auxilia na captura da onça, de alguma forma remete ao esperto João Grilo de O Auto da Compadecida, enquanto o pedante cão de raça simboliza as elites distantes do Brasil popular.
Embora tenha caído em certa obscuridade por alguns anos, A Onça, os Guinés e os Cachorros tem lentamente reconquistado sua antiga reputação nas duas últimas décadas: vale aqui destacar a encenação da obra em 2019 pela Orquestra Sinfônica Brasileira, sob regência do próprio Clóvis Pereira dos Santos. Este reencontro do público com uma das criações mais emblemáticas do movimento armorial revela não apenas a importância histórica da composição, mas principalmente a atemporalidade de sua proposta estética, que transforma elementos regionais nordestinos em expressão artística de alcance universal.
PROGRAMA:
CLÓVIS PEREIRA – A Onça, as Guinés e os Cachorros
SERVIÇO:
Concertos para a Juventude
Dia 20 de abril (domingo), às 11h
Local: Teatro Carlos Gomes (Praça Tiradentes s/nº – Centro – Rio de Janeiro)
Ingressos: R$ 10,00 (R$ 5,00 meia)