A Fundação Nacional de Artes – Funarte recebe o espetáculo Os Mendigos e o Pato do Imperador, o mais novo trabalho da trupe Os Trágicos da Cidade, de sexta-feira a domingo, de 5 a 28 de setembro, na Sala Murilo Miranda do Teatro Glauce Rocha, espaço da fundação no Centro do Rio de Janeiro. Os ingressos têm preços populares para colaboradores do projeto.
“Em um momento em que o termo ‘liberdade de expressão’ vem sendo apropriado e distorcido para sustentar discursos extremistas e intolerantes, a montagem surge como uma fábula teatral, que provoca reflexão sobre o verdadeiro sentido da palavra ‘liberdade’”, define o grupo realizador. A temporada de estreia no estado tem apoio do Programa Funarte Aberta.
A peça conta a história de quatro artistas mambembes que, tomados pela fome, cometem o “crime” de comer o pato de estimação de um autoritário imperador. Humor, ludicidade e poesia são os recursos do texto, escrito por Rodrigo Paouto. Andrea Cevidanes é a diretora convidada do trabalho, que conta com seis atores.
Os Mendigos e o Pato do Imperador
Na montagem, entre canções, narrativas e imagens poéticas, o grupo reafirma a ideia de que o teatro é “um ato de imaginação e liberdade, indispensável à vida”.
A diretora Andrea Cevidanes compartilha: “As relações de poder, reveladas no conflito central, e a resiliência das personagens protagonistas são apresentadas de modo a escalonar para a plateia um espelho social da relação ocidental que rege a sociedade moderna. Este fato e suas derivações são o ponto forte da dramaturgia”.
“A montagem surge da necessidade de discutir, por meio da arte, essas questões, tão urgentes na contemporaneidade. A essência da história é atemporal, infelizmente. A metáfora da condenação injusta por um ato mínimo reflete o modo como, ainda hoje, a justiça pode ser mais dura com os pobres e complacente com os poderosos”, avalia o autor, Rodrigo Paouto.
Refletindo sobre a insensibilidade em relação à arte
Os Mendigos e o Pato do Imperador propõe que a nobreza “não está no alcance dos bolsos e sim nos atos”. No enredo, em uma noite, os quatro artistas mambembes, chegam ao Reino de Anarinacheirabufa. Lá, levados pela fome, matam e comem o pato de estimação do imperador. Para justificarem o “crime”, contam suas trajetórias de vidas, conduzindo o público por uma viagem no tempo, dando vida aos mitos e histórias da formação do teatro ocidental. “A obra é uma oportunidade para debater a insensibilidade e o descaso de certos grupos de poder em relação à arte”, comenta a trupe.
Linguagens corporal, circense e do teatro de animação
Na concepção das cenas, a direção e o coletivo se apoiaram em práticas circenses e do circo-teatro: com os tipos representativos de famílias de artistas e seus desenvolvimentos, nas práticas do corpo e da palavra, na fisicalidade (utilização e valorização da presença e do corpo do artista) e com recursos de “overacting” – o “exagero expressivo” na interpretação. “Acrobacia, palhaçaria, música de charanga, gestual estereotipado e representações farsescas compõem a construção cênica. O teatro de animação também foi experimentado e é utilizado, como ferramenta de contação de histórias, com teatro de sombras, de objetos e de fantoches”, antecipa Andrea.
‘São os trágicos da cidade, aqueles com que o senhor se divertia tanto’
Essa frase, de Hamlet – Shakespeare –, gerou o nome da companhia. “Os Trágicos da Cidade é uma trupe de artistas/brincantes que compartilham o mesmo sentimento: o amor pelo ofício teatral. A origem do grupo é a Faculdade de Teatro da Fundação Cesgranrio, já que o primeiro trabalho do coletivo, Ser ou Não Ser Hamlet, dirigido por Flávia Lopes, nasceu de um exercício cênico sobre a obra do poeta e dramaturgo inglês. Em pouco mais de três anos, a companhia alcançou conquistas importantes, uma delas a participação na homenagem ao Dia do Ator, em 2022, organizada pelo Santuário do Cristo Redentor, no Corcovado– um dos pontos turísticos mais conhecidos, no Brasil e no mundo.
“Demonstrando um desejo artístico intenso, botamos o pé no caminho e tocamos nosso espetáculo inaugural de forma independente”, contam os(as) artistas Assim, o grupo viabilizou apresentações em Niterói, no Theatro Municipal João Caetano, e na Capital Fluminense, nos teatros Cesgranrio e Sala Baden Powell. A trupe também atuou no festival Teatro para Todos, em Teresópolis, na Mostra de Espetáculos da 13ª edição do Festival de Teatro Universitário (Festu); e cruzou as fronteiras estaduais, chegando ao 18º Festival Nacional de Teatro Cidade de Vitória, Espírito Santo. “Na ocasião, nosso espetáculo lotou o Palácio da Cultura Sônia Cabral, com o maior público daquela edição do evento”, acrescentam.
Partindo de pressupostos, como o do ator-criador e o do teatro enquanto um espaço de trabalho artesanal, os integrantes da trupe contribuem com todos os aspectos ligados à visualidade do espetáculo, a partir da condução do olhar de Milena Paiva. “Apostamos em um teatro cheio de trabalhos manuais e todos se arriscam neles, confeccionando figurinos e objetos cênicos. Portanto, os atores são artesãos, que participam, de forma mais abrangente, da criação do espetáculo como um todo. Cada habilidade individual é bem-vinda ao trabalho coletivo”, diz a diretora de arte, também atriz e manipuladora de bonecos do projeto.
Cômico X Trágico
Diante do desejo de criar um novo trabalho, a trupe encontrou, na obra de Paouto, um terreno fértil para explorar a dialética do cômico e do trágico – mas, dessa vez, operando no sentido inverso ao trabalho anterior da companhia. Em vez de uma tragédia contada por um olhar cômico, a intenção é trabalhar a partir de uma comédia com desfecho trágico.
As referências do texto passam pela farsa medieval e pela commedia dell’arte, com personagens-tipo e exageros que evidenciam a hipocrisia social. “A mistura de humor, crítica e poesia, portanto, não só dialoga com o público, mas também serve como um espelho amargo e, ao mesmo tempo, libertador da realidade artística e social que vivemos”, conclui Paouto.
Política de ingressos a preços populares
O coletivo adota um sistema de ingressos especial para as pessoas que desejam colaborar com seu trabalho permanente de investigação cênica. Dispõe ainda de um percentual de ingressos para projetos e instituições sociais. “Para usufruir dessa política independente de democratização do teatro, as pessoas devem consultar a produção sobre disponibilidade”, conclui a trupe (contatos abaixo).
Serviço
Os Mendigos e o Pato do Imperador
- Espetáculo teatral, com elementos de circo-teatro e teatro de animação
- Quando: 5 a 28 de setembro, sexta-feira a domingo
- Horários: sexta e sábado às 19h30; domingo às 18h30
- Onde: Sala Murilo Miranda – Teatro Glauce Rocha
- Endereço: Avenida Rio Branco, nº 179, 8º Andar – Centro – Rio de Janeiro (RJ)
- Ingressos: a partir de R$ 25 – consulte política abaixo | Venda online, no link: linktr.ee/ostragicosdacidade ou no site sympla.com.br | Venda presencial na bilheteria
Autoclassificação Indicativa: 12 anos – Conteúdo sem violência; apresentação de nudez sugerida (por sombra) não erotizada, e de consumo moderado ou insinuado de drogas lícitas – Critérios estabelecidos conforme o Guia Prático de Classificação Indicativa de Audiovisual – 4º Edição, 2021 – Ministério da Justiça e Segurança Pública
Ficha Técnica
Direção Convidada: Andrea Cevidanes | Texto: Rodrigo Paouto | Direção Musical: Danni Marinho | Direção de Arte: Milena Paiva | Iluminação e Operação de Luz: Amanda Barroso | Elenco: Alê Becker, André Caldas, Dani Saboia, Gustavo Guimarães, Milena Paiva, Monica Ferreira e Thiago Emanuel | Produção: Gustavo Guimarães e Thiago Emanuel | Maquiagem: Dani Saboia | Máscaras e bonecos: Milena Paiva | Assessoria de Imprensa: Matheus Vieira | Apoio: Programa Funarte Aberta – Fundação Nacional de Artes – Funarte – Ministério da Cultura – Governo Federal; Centro Municipal de Artes Calouste Gulbenkian; Secretaria Municipal de Cultura do Rio de Janeiro; Marar Estúdio de Criação; Tem Conteúdo & Produções Artísticas; Damiane Nachtigal Advocacia e Consultoria; Centro de Atividades Sociais e Artísticas (C.A.S.A.); Cia. Teatro Porão; Aqui tem crocheteira | Realização: Os Trágicos da Cidade
POLÍTICA DE INGRESSOS – OS TRÁGICOS DA CIDADE
Espetáculo Os Mendigos e o Pato do Imperador
“Nosso espetáculo é fruto de muito trabalho, pesquisa e amor à arte. Ao longo de um ano de trabalho, foram muitas horas árduas e prazerosas dedicadas nesta criação artística. Ao adquirir seu ingresso, você não apenas garante sua entrada, mas também apoia diretamente o grupo e a continuidade de nossa pesquisa artística”
Os Trágicos da Cidade
Opções de Ingressos
Gratuitos: Política independente de democratização de acesso ao teatro: cota percentual de ingressos para projetos e instituições sociais. Consultar disponibilidade e agendar com a produção pelo e-mail: ostragicosdacidade@
Meia-Entrada: R$ 25 – Para estudantes, idosos, professores e demais categorias previstas em lei
Ingresso padrão (sem descontos): R$ 50 – Valor padrão
Ingresso Colaborador: R$ 70 – Para quem deseja contribuir um pouco mais e fortalecer o trabalho e pesquisa do coletivo
Super Colaborador: R$ 100 – Para quem quer dar um passo extra no apoio ao projeto do grupo, colaborando para garantir que ele possa continuar pesquisando e criando novas obras
Colaborador Livre (PIX): valor livre, a partir de R$ 50 – Você escolhe a quantia que deseja contribuir, a transfere, via PIX, e envia o comprovante para ostragiocosdacidade@
“Sua contribuição ajuda a manter viva a chama do teatro independente!”
Produção – Os Trágicos da Cidade
