Parque Susana Naspolini recebe exposição Artes da Terra, sobre arte popular brasileira

Ação faz parte do projeto ArtRio Educação, com foco em levar a diversidade da produção artística brasileira para públicos diversos

por Redação
ArtRio Educação Parque Susana Naspolini

A riqueza da arte popular brasileira, pelas obras de grandes mestres de norte a sul do país. Essa é a essência da exposição Artes da Terra, realizada dentro do projeto ArtRio Educação, que fica até o dia 17 de novembro no Parque Susana Naspolini, em Realengo. A mostra interativa leva conhecimento – e diversão – para dentro área pública, promovendo um encontro rico e de novas descobertas. Durante a semana, são agendadas visitas de escolas públicas de áreas próximas.

Grandes painéis contam a história de artistas populares como Dona Roxinha, Getúlio Damado, J. Borges, Maria Lira Marques, Mestre Vitalino e Véio, sempre através de suas obras.

Paulo Tavares assina a curadoria da mostra, que traz artistas de diferentes estados, de capitais e de cidades pequenas e vilas. Através de seus trabalhos, das múltiplas técnicas e o uso de matéria-prima local, os artistas transmitem suas realidades e o mundo ao seu redor – ensinam sobre cultura regional, meio ambiente e sociedade.  

A ArtRio tem entre suas principais metas a acessibilidade ao segmento da arte, acabar com qualquer tipo de bloqueio que possa existir oferecendo novas descobertas e informação. Levar conhecimento artístico a novas pessoas, em espaços onde já estão presentes como um parque aberto a diversos públicos, é uma ativação de enorme alegria para nós”, esclarece Brenda Valansi, presidente da ArtRio.

Parque Susana Naspolini
Rua Prof. Carlos Wenceslau 290
Realengo
Até 17 de novembro

Conheça os artistas da mostra Artes da Terra

Vitalino Pereira dos Santos, Mestre Vitalino (1909 – 1963)

Vitalino nasceu em Caruaru (PE) em 1909 e desde cedo foi apresentado ao material que um dia lhe faria famoso – produzia seus próprios brinquedos com as sobras do barro que sua mãe usava.

Depois de tanto fazer seus bonecos e composições de cenas, ou “conjuntos”, para vender na feira de Caruaru, recebeu, em 1947, convite para apresentar suas criações no Rio de Janeiro e São Paulo. Sua vida ali começou a melhorar.

Sua criação mais icônica e reconhecida seja o boi – uma figura imponente, grandiosa e de postura firme, símbolo do sertanejo.

Considerado o maior nome da arte popular figurativa brasileira, apresentou de forma muito especial em seus bonecos de barro, o povo nordestino, sua cultura e seus costumes

Cícero Alves dos Santos, Véio (1947)

Nascido em Nossa Senhora da Glória (SE), ganhou o apelido de Véio ainda criança. Gostava de conversar com os mais velhor para poder ouvir histórias do sertão contadas pelos mais antigos – lobisomem, caipora, fogo corredor… Com isso nasceu o interesse pela preservação da memória da região. Gostava de fazer pequenos bonecos com cera de abelha, mas os desmanchava assim que alguém se aproximava – menino tinha que trabalhar na roça… Foi vender suas primeiras peças consideradas obras de arte lá nos anos 1980.

Explica, sabiamente, que as madeiras novas trazem o valor da juventude e já as velhas, fragilizadas pela ação do tempo e da natureza, mostram a parte final da vida. Para suas criações costuma seguir por um dos dois caminhos: ou imagina uma cena real e a esculpe em pedaços de tronco ou madeira descartada – que podem ir de poucos milímetros a mais de 2 metros de altura, ou antevê expressões de seres nas madeiras e raízes quase in-natura que busca nos arredores de seu sítio. Nessas peças intervém muito pouco.

Getúlio Damado (1955)

Nasceu na cidade mineira de Espera Feliz. Nos anos 80, veio para o Rio de Janeiro, para o bairro de Santa Teresa (RJ), onde montou uma banca em que consertava panelas e outros utensílios. Sempre foi encantado com os bondes e trens que via por onde passava, então começou a pegar coisas que encontrava pelos caminhos e decidiu confeccionar um bonde de madeira reaproveitada.

Seus amigos passaram a se interessar pelas peças e as encomendavam para ele. Tudo que vê e recolhe pode ser transformado em bonecos, quadros, objetos – todos com história e nomes que dá e que fazem parte de seu universo. São referências as cenas do bairro, mas também suas lembranças de Minas Gerais, seus amores…

Maria José Lisboa da Cruz, Dona Roxinha (1956)

Nascida no povoado de Lagoa da Pedra, em Alagoas, costuma pintar cenas do cotidiano – tanto as que resgata de sua memória, como as que vê ao seu redor. Diz começou a fazer os registros porque gostava de passear pela cidade com seu marido e à noite, quando voltavam para casa, faziam sua “resenha” regada a desenhos em cadernos e risadas. Esses cadernos infelizmente foram esquecidos “na mata”, quando achou que nunca seria uma artista de verdade…

Faz críticas divertidas sobre a política, a sociedade, as relações amorosas, sempre colocando protagonismo nas mulheres que estão sempre presentes em seus trabalhos.

José Francisco Borges, J. Borges (1935)

Nascido em1935 na cidade de Bezerros, no agreste pernambucano, J. Borges é reconhecido como um dos maiores nomes da xilogravura e da  literatura de cordel.

A xilogravura é uma técnica ancestral, provavelmente de origem chinesa, mas que veio para o Brasil através dos portugueses, e que consiste em esculpir uma placa de madeira (matriz), umedecendo-a posteriormente com tinta e a pressionando contra uma folha de papel, criando imagens como um “carimbo.

 Seu imenso universo criativo é habitado por seres imaginários, animais, anjos e demônios, vaqueiros, pessoas simples e personagens do lendário nordestino.

Já produziu mais de 300 folhetos de cordel e milhares de xilogravuras, que circularam o mundo, chegando a ser comparadas ao trabalho de Pablo Picasso pelo jornal americano The New York Times, em matéria de 2006, mesmo ano em que foi reconhecido como Patrimônio Vivo do Estado de Pernambuco.

Curador Paulo Tavares

Carioca, pesquisador e colecionador, Paulo Tavares é formado em Engenharia (PUC-RJ), com pós-graduação em Gestão de Negócios (FGV-RJ) e História da Arte (UCAM-RJ).  Sua coleção conta com quase 400 obras de arte contemporânea e popular brasileira – parte dela exposta virtualmente em @obscontemporanea (Instagram) de forma permanente e interativa.

Lançou a GIM – Galeria Imaginária. Atuando no campo da arte popular contemporânea e do design artesanal, busca também uma valorização da nossa terra, seus personagens e heróis anônimos, sua cultura e histórias de vida, mas, principalmente, procura dar visibilidade a grandes talentos e à uma produção artística pujante e necessária.

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