A Estação das Letras, reduto da literatura nacional com alcance mundial, hoje Instituto, fundada pela professora, poeta e curadora de tantas programações culturais Suzana Vargas, está fazendo 30 anos e celebra sua história no dia 24/10 na Fundação Casa de Rui Barbosa, em Botafogo, no Rio de Janeiro, com um evento grátis e aberto ao público.
A programação reúne João Paulo Vaz, Lucia Riff, Paulo Henriques Britto e Sergio Rodrigues.
João Paulo Vaz fala sobre Trama e Personagem.
No encontro com Lúcia Riff, uma das principais referências em agenciamento literário do país, Suzana Vargas conversará sobre agenciamento, direitos autorais, possibilidades de publicação na contemporaneidade. Tratará também das condições e caminhos essenciais para quem deseja profissionalizar-se no setor.
Paulo Henriques Britto falará sobre os caminhos da poesia e como muitos bons leitores de prosa têm dificuldade em ler poesia. Segundo ele, quase sempre a dificuldade tem a ver com a tendência a ler o poema pensando só nos significados das palavras, e não nos sons dela. Nessa fala, o palestrante discorrerá a respeito do poema como objeto sonoro, e fará uma leitura detalhada de um poema brasileiro contemporâneo.
Sergio Rodrigues vai falar sobre Escrever é humano: Como dar vida à sua escrita em tempo de robôs”
Ninfa Parreiras e Vânia Alsalek também vão compor a celebração, que é aberta ao público. Inscrições pelo https://estacaodasletras.com.br/cursos-e-oficinas/.
30 anos com solidez nas oficinas de criação literária, gênero e mercado editorial e celebra a paixão pela leitura e escrita
Trinta anos atrás, em meados de abril de 1995, a escritora, mestre em Teoria Literária e professora Suzana Vargas sonhou com um espaço no qual a leitura e a escrita fossem mais do que um ofício, mas uma experiência transformadora. Assim nasceu, no Rio de Janeiro, a Estação das Letras, que, com o tempo, cresceu, ultrapassou fronteiras e se tornou o Instituto Estação das Letras, referência nacional e, desde a pandemia quando passou a atuar 100% on-line, internacional na formação de escritores e na valorização da literatura.
Pioneira em oficinas literárias, ao trabalhar na OLAC no início dos anos 80 com o professor Afrânio Coutinho, Suzana Vargas lançou o projeto Rodas de Leitura, que lotou plateias em centros culturais cariocas entre a década de 90 e 2005. Suzana teve o apoio de amigos/escritores para fundar a Estação, considerada polo irradiador do fazer literário em diversas dimensões – seja com programação de cursos e oficinas ou como produtora de muitos e importantes projetos culturais nacionais e internacionais.
Em 2017, a Estação, que sempre viveu exclusivamente de seus cursos e da vitória da resistência, transformou-se em Instituto Estação das Letras, uma associação civil de direito privado, sem fins lucrativos, em favor do livro e da leitura.
Ao celebrar três décadas de existência, o Instituto não apenas coleciona números expressivos – como aproximadamente de 33 mil alunos formados, cerca de 2.500 cursos e oficinas realizados e presença em mais de 100 eventos literários, além de centanas de eventos internos produzidos pela Adminsitração da instituição –, mas carrega consigo um legado que ajudou a moldar o cenário literário brasileiro. Por suas salas, passaram nomes como Ferreira Gullar, Cleonice Berardinelli, Victor Giudice, Sérgio Santana, Jorge Wanderley, J.J. Veiga e Esdras do Nascimento, Marina Colasanti, entre tantos outros que compartilharam seu talento com novas gerações de escritores.
UM SONHO QUE VIROU REFERÊNCIA
O que fez da Estação das Letras uma escola única foi sua abordagem cuidadosa e afetuosa. Muito antes da enxurrada de cursos de gêneros e escrita oferecidos em nível nacional, a Estação já ensinava que escrever não é apenas talento: é trabalho, técnica, leitura e consciência do próprio ofício. Foi também um dos primeiros espaços a oferecer Análise de Originais, ajudando escritores a entenderem que a crítica profissional tem valor e que o trabalho intelectual merece reconhecimento.
Em sua trajetória, a Estação das Letras inaugurou a profissionalização dos escritores e profissionais da literatura com eventos remunerados numa época em que os escritores apenas recebiam flores por sua participação nos escassos eventos públicos de literatura a os quais eram chamados. No rol de eventos próprios (sem apoio) a Estação lançou desde 1996 as primeiras trocas de livros no país com o Livros na Mesa, programa de trocas de livros que permaneceu em cartaz até 2014, além dos cursos também pioneiros na área de mercado editorial com programas de formação para livreiros, gerenciamento de livrarias, cursos de editoração, copidesque e revisão. Foram muitos e inovadores os serviços prestados pelo espaço ao longo de décadas, comemora Suzana.
“Fomos recebidos com desconfiança no início, mas seguimos em frente, porque sabíamos que um livro não nasce apenas de inspiração. Ele exige cultura, ética, estética e muita dedicação. Hoje, temos orgulho de ver tantos alunos que passaram por aqui publicando, ganhando prêmios e ocupando seu espaço na literatura”, lembra Suzana Vargas.
DA PÁGINA PARA O MUNDO
Com sedes nas ruas do Rosário, do Catete, Almirante Tamandaré e Marquês de Abrantes, nos bairros Centro, Catete e Flamengo, no Rio de Janeiro, após ¼ de século, a instituição abriu seus horizontes para as oficinas on-line e ficou no digital, exclusivamente: em 2020, e todos os desafios trazidos pela pandemia de Covid-19, o Instituto ampliou sua atuação e passou a alcançar alunos no Brasil e no exterior, mantendo turmas pequenas e um acompanhamento quase individualizado, algo raro em cursos on-line, que são mantidos ao vivo.
A Estação das Letras mantém ainda oficinas de formação em escrita e leitura, rodas de leitura para jovens de 7 a 24 anos de comunidades, além de disponibilizar serviços de avaliação de originais, mentoria, consultoria, curadoria e produção literária e uma grade de eventos mensais fixos: Sextas com Letras e Janelas Literárias, por exemplo.
A missão do Instituto segue inalterada: formar escritores e leitores. “A Suzana Vargas de hoje continua acreditando que a leitura é uma forma de aprender a viver. A Estaçã,o das Letras ajudou a construir a literatura brasileira dos últimos 30 anos e quer continuar sendo um espaço em que os livros nascem e a escrita se fortalece”, diz a fundadora.
UMA COMEMORAÇÃO PARA HONRAR O PASSADO E INSPIRAR O FUTURO
Em 2025, o Instituto Estação das Letras inicia mais uma turma da sua tradicional Formação Literária para Escritores, desta vez em agosto. Nas aulas, para além dos conteúdos, ministrados por autores de reconhecimento nacional e até internacional, cada participante faz contato com colegas de diferentes níveis de experiência literária que o estimulam por meio da leitura crítica e a troca de opiniões a trabalhar seus textos de modo a tornar seu texto mais eficiente ao se conectar ao público leitor. As aulas on-line permitem a participação de alunos de diferentes regiões e países, enriquecendo o aprendizado.
Paralelamente, segue atuando em bienais, feiras e eventos literários, reafirmando seu compromisso com a difusão da literatura, assim como com uma grade de cursos e oficinas semestrais disponível em https://estacaodasletras.com.br/cursos-e-oficinas/.
O brinde pelos 30 anos não é apenas uma celebração interna, mas um chamado para que o Brasil continue apostando nos livros como forma de crescimento, identidade e transformação. Afinal, como reforça Suzana Vargas, “escrever é um ato de resistência, e ler é um ato de liberdade.”